Associação dos diabéticos desafia DGS a retomar formação nas escolas

Diabetes tipo 1 atingia, em 2015, 3327 crianças e jovens portugueses, segundo dados do último relatório do Observatório Nacional da Diabetes.

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DANIEL ROCHA

A associação dos diabéticos desafiou a Direcção-Geral da Saúde a retomar o programa de formação nas escolas sobre a diabetes, para desmitificar a doença junto dos pais e da comunidade escolar e garantir uma boa integração das crianças.

O tratamento da diabetes requer que a criança faça diariamente múltiplas medições da sua glicemia e injecções de insulina, mas isso não a impede de ter uma vida escolar e social normal, uma situação que por vezes constitui um desafio para os pais e profissionais de educação.

Durante anos a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) teve o apoio da Direcção-Geral da Saúde para "poder ir às escolas fazer formação sempre que aparecia uma criança com diabetes e, juntamente com os pais, tentar que os professores e os colegas percebessem o que é a doença", contou o presidente da associação, José Manuel Boavida, à agência Lusa, em vésperas de se assinalar o Dia Mundial da Diabetes (14 de Novembro).

"Existem milhares de crianças nas escolas e elas estão integradas", disse, defendendo que as crianças com diabetes "não devem ser discriminadas", nem estigmatizadas.

"Devem ser integradas, como qualquer outra criança, e nada lhes é proibido. Antes pelo contrário, queremos que façam absolutamente tudo, só que existindo alguns riscos têm de estar conscientes deles e precaver para que nada ocorra, como normalmente não ocorre", defendeu o endocrinologista.

No seu entender, o programa da DGS poderia "ajudar muito a ultrapassar" esta situação "se equipas de profissionais pudessem ir às escolas desmitificar toda a complexidade do tratamento" da diabetes tipo 1, uma doença que atingia, em 2015, 3327 crianças e jovens portugueses, segundo dados do último relatório do Observatório Nacional da Diabetes.

"É muito mais uma questão de dar confiança aos professores e às escolas do que qualquer outra situação, não são precisos apoios especiais", vincou.

Ensinar o que fazer

José Manuel Boavida adiantou que, "muitas vezes, há muita relutância das escolas", mas depois de uma sessão de esclarecimento, de formação, rapidamente se encontram interlocutores que se oferecem voluntariamente para "fazer este trabalho", que deve ser "uma rotina".

"Tal como damos uma mão a qualquer pessoa que cai, também podemos dar um pacote de açúcar que essa pessoa deve trazer no bolso", disse, defendendo que "o que é preciso é clarificar, esclarecer e criar condições de maior segurança nas escolas" para estas crianças.

Para o presidente da APDP, "mais do que construir um mito e uma ideia extremamente negativa", é "preciso mostrar o que é que na realidade e na prática é necessário fazer e, com grande realismo, abordar a situação dos cuidados a ter e de como ultrapassar os riscos que possam existir". Como tal, defendeu, o programa da DGS de formação nas escolas, que teve "um grande sucesso", deve "ser retomado".

"A Direcção-Geral da Saúde fez orientações para o que deve ser a formação, mas as orientações não chegam se depois não são dados os meios para elas serem levadas à prática e isso é um bom desafio a fazer-se neste Dia Mundial da Diabetes", disse.

"Mais do que dizer que há dificuldades, é preciso é agir, e o agir implica um compromisso" do Ministério da Saúde, uma vez que "o Ministério da Educação tem sido sempre bastante receptivo a estas situações", cabendo agora à Saúde apoiá-lo.

Para assinalar o Dia Mundial da Diabetes, a APDP realiza na quarta-feira a conferência "Diabetes e Família", em parceria com a Câmara de Lisboa.

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