Los Angeles remove estátua de Colombo. Descendentes de italianos protestam

Os vereadores da cidade californiana justificam a eliminação do monumento histórico como um acto de “justiça reparadora” para com os povos indígenas que sofreram nas mãos do explorador.

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NBC

A estátua do navegador do séc. XV Cristóvão Colombo foi retirada do Grand Park, no centro de Los Angeles, a cidade dos EUA onde permaneceu durante 45 anos. A remoção do monumento fez-se ao abrigo de uma moção aprovada em 2017 que substituiu o feriado do Dia de Colombo pelo Dia dos Povos Indígenas na cidade. Trata-se de uma cruzada contra os símbolos da época dos Descobrimentos, que para muitos são representações de ódio, de opressão e de discriminação racial.

Com 100 pessoas a assistir, a estátua de bronze do homem que “descobriu” o continente americano foi retirada. A ex-secretária de Comércio e actual membro do conselho de supervisão de Los Angeles, Hilda Solis, classificou o monumento como um símbolo "de um capítulo manchado da história, que romantiza a expansão dos impérios europeus e a exploração de recursos naturais e de seres humanos”.

“Minimizar – ou pior, ignorar – a dor dos nativos de Los Angeles é um mau serviço à verdade. A remoção da estátua de Colombo do Grand Park é um acto de justiça e de reparação que honra e aceita o espírito resiliente dos habitantes nativos do nosso condado. Com a sua remoção, começamos um novo capítulo da nossa história, onde aprendemos com os erros do passado, para que não os repitamos”, acrescentou Solis em comunicado.

A estrutura em bronze, um presente da Ordem dos Filhos de Itália na América, foi posta no centro da cidade em 1973. Com o plano institucional de revisão de elementos ligados ao passado colonial de Los Angeles, considerado pelas organizações indígenas como um genocídio que pôs um ponto final no seu modo de vida, o Dia de Colombo, que assinala desde 1937 a chegada de Cristóvão Colombo à América, foi substituído como feriado oficial pelo Dia dos Povos Indígenas na cidade. Durante as celebrações deste ano, em Outubro, a estátua foi tapada com um pano preto.

O vereador Mitch O'Farrell, descendente da tribo Wyandotte de Oklahoma e responsável pelas medidas, considera que a remoção da estátua “é um passo natural no processo de eliminação da falsa narrativa que Cristóvão Colombo descobriu a América”, e que a “sua imagem não devia ser celebrada em lado nenhum”.

“Colombo foi responsável por atrocidades e as suas acções levaram ao pior genocídio registado”, disse o vereador, em comunicado.

Os vereadores de Los Angeles, O'Farrell e Solis, têm trabalhado em colaboração com as organizações indígenas locais para remover a estátua e decidir o que vai substituir o monumento. De acordo com Rudy Ortega, presidente da Los Angeles City/County Native American Indian Commission e da Fernandeño Tataviam Nation, a eliminação da estátua permitirá reconhecer e honrar os nativos americanos de Yaangna – a Los Angeles de hoje.

“É importante que usemos este momento para reconhecer os Yaavitam, o primeiro povo deste território não cedido [aos colonizadores] que hoje conhecemos como Los Angeles; honramos os seus antepassados, o seu passado e presente, e os descendentes dos Yaavitam que fazem parte das tribos Gabrieleño Tongva e Fernandeño Tataviam”, disse Ortega, em comunicado na página do Facebook da organização.

 Há décadas que os povos indígenas protestam contra as estátuas ligadas ao período colonial. Contudo, na sequência dos protestos em 2017 de supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, contra a remoção da estátua do general do exército da Confederação, Robert E. Lee, – que resultaram na morte de uma mulher –, o debate sobre a veneração de símbolos coloniais surgiu em força, e a estátua centenária de Cristóvão Colombo no Central Park, em Nova Iorque, foi vandalizada um mês depois, com tinta vermelha.

O presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Basio, considerou até remover a estátua de Columbus Circle, na cidade desde 1892. Em Baltimore, Maryland, podia ler-se noutra estátua de Colombo a frase “racismo: mandem-no abaixo”. Assim, a remoção da estátua de Colombo em Los Angeles “já era esperada há muito”, disse a vice-presidente da Los Angeles City/County Native American Indian Commission, Chrissie Castro.

“Los Angeles abriga a maior comunidade indígena do país. O nosso povo tem protestado esta estátua e o que ela representa durante décadas. É uma vitória não só para os povos indígenas, mas para todos os cidadãos de Los Angeles que se importam com a verdade, dignidade e justiça”, disse a vice-presidente da organização, em comunicado.

O remover da história

Por outro lado, os americanos com origens italianas consideram que a remoção e a vandalização de estátuas de Cristóvão Colombo representa o remover da sua própria herança histórica. O ex-presidente da National Italian American Foundation, John M. Viola, explicou em 2017 num artigo de opinião no The New York Times, que o “Dia de Colombo representa uma oportunidade para celebrar as contribuições dos americanos de origem italiana” aos EUA e que “a ‘destruição da história’ não altera essa história”.

“Na sequência do conflito cultural que nos tem separado, pergunto-me se enquanto país não podemos encontrar melhores formas de utilizar a nossa história para erradicar o racismo em vez de o incitar. Não podem os monumentos e feriados que surgiram no passado ser reinterpretados para representarem novos valores para o futuro?”, perguntou Viola.

O vereador de Los Angeles de origem italiana Joe Buscaino contestou em 2017 a decisão de substituir o “Dia de Colombo” pelo “Dia dos Povos Indígenas”. Procurou ainda pôr em prática um novo feriado que celebrasse a diversidade de todos os povos de Los Angeles no “Dia de Colombo”, a 12 de Outubro, sem sucesso.

“Com ou sem Colombo, os italianos continuarão a celebrar os seus sacríficos e contribuições para este grande país e para a nossa grande cidade”, disse Buscaino, na altura.

Trump elogia Colombo

O Presidente norte-americano, Donald Trump, publicou no dia 8 de Outubro um comunicado no qual elogiava o “espírito de determinação e de aventura” de Cristóvão Colombo, que “inspirou gerações de americanos”.

“No Dia de Colombo, honramos os seus feitos notáveis enquanto navegador, e celebramos a sua viagem ao desconhecido no amplo Oceano Atlântico”, disse, sem mencionar os povos indígenas.

O passado colonial de Los Angeles também é visível no emblema da cidade, onde está representado o escudo de Castela e Leão, bem como referências à ocupação mexicana. Já no emblema do condado pode ver-se o galeão San Salvador, do explorador João Rodrigues Cabrilho, e referências às missões evangélicas.

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