Alibaba pulveriza recorde de vendas online no "dia dos solteiros"

Operações com Blockchain e Inteligência Artificial demonstram a crescente digitalização do retalho. Cinco países europeus no top-10 de vendas. Foram facturados 30,7 mil milhões de dólares em 24 horas.

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As vendas foram acompanhadas ao segundo num evento com 800 jornalistas em Xangai, com o valor das transacções projectadas num grande ecrã Reuters/ALY SONG

A maior empresa de comércio electrónico do mundo, a chinesa Alibaba, facturou 30,7 mil milhões de dólares no domingo, fixando um novo recorde para as vendas feitas num único dia. E desengane-se quem pensa que é uma coisa só de chineses: cinco países europeus (Alemanha, Reino Unido, França, Espanha e Itália) estavam entre os dez que mais facturaram nas primeiras horas do dia.

Os números são avassaladores, seja qual for o prisma pelo qual se olhe para eles: o Gross Merchandise Volume de 30,7 mil milhões de dólares registado num só dia (GMV é uma métrica fundamental do comércio electrónico, que pode ser equiparada à facturação bruta, e mede o volume de dinheiro envolvido nas transacções feitas num site de retalho online num dado período) equivale, em termos nominais, a um sexto do GMV da rival norte-americana Amazon em todo o ano de 2017; ao Produto Interno Bruto (PIB) da Letónia em 2017; ou a metade da riqueza produzida pelo Luxemburgo em todo o ano de 2017. Comparando com o PIB de 2017 de Portugal, o país tinha de trabalhar quase oito semanas para incorporar 30,7 mil milhões de dólares.

Ainda que o crescimento das vendas tenha desacelerado – o GMV subiu 27% este ano, contra 39% em 2017 – a performance de 2018 demonstra a cada vez maior importância do comércio electrónico. Os primeiros mil milhões foram facturados ao fim de 85 segundos; o GMV de 2012 foi batido em quatro minutos e 20 segundos; o de 2013 caiu em 12 minutos e 14 segundos; o de 2014 foi ultrapassado em pouco mais de 35 minutos; os primeiros dez mil milhões de dólares foram facturados na primeira hora; o recorde de vendas de 2017 foi batido ao fim de 16 horas.

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O "dia dos solteiros" nasceu na China em 1993, no meio universitário. Hoje é o maior evento comercial do mundo Reuters

Mais de 40% dos consumidores compraram produtos de marcas internacionais. E 237 marcas ultrapassaram a fasquia de 14,3 milhões de dólares em vendas (100 milhões de renminbis), como a Apple, Nestlé, Gap, Nike e Adidas, ou a Estée Lauder, L'Oréal ou Kindle (Amazon). Mobiliário, iPhones e leite em pó foram alguns dos produtos mais vendidos.

Pelo contrário, os electrodomésticos foram os produtos que viram as vendas a desacelerar, o que os executivos da empresa explicam também com a retracção do mercado imobiliário. "Se as pessoas não compram casas novas, também não precisam de electrodomésticos", disse Joe Tsai, vice-chairman da Alibaba, citado pela Reuters.

Mais de mil milhões de encomendas

Japão, EUA e Coreia eram os países que, ao fim da primeira hora de vendas, mais tinham vendido. Para os não-chineses, o ecossistema que tem sido laboriosamente construído pela Alibaba disponibilizava a plataforma Baopals. A expedição de produtos ficou a cargo de outra empresa do grupo, a Cainiao, que desta vez vai tratar de mais de mil milhões de encomendas (812 milhões em 2017), com recurso a uma infra-estrutura reforçada e que conta com a ajuda de satélites.

"Por detrás destas transacções, o mais importante é o poder tecnológico e o suporte da nossa infra-estrutura", salientou Jet Jing, presidente da Tmall, uma empresa detida pela Alibaba e que é uma plataforma de venda electrónica B2C, que liga marcas a consumidores. Se os super-descontos que muitas marcas aplicam nesta espécie de "Black Friday à chinesa" podem explicar o interesse de consumidores em todo o mundo, o que salta à vista é a crescente digitalização das operações.

"Para lá dos números vistosos deste 11 de Novembro, há um grande conjunto de tecnologias sofisticadas que asseguram que os clientes recebem exactamente o que compraram", explica a empresa, num texto publicado a meio da tarde de domingo, quando ainda faltavam oito horas para o fim do "dia dos solteiros". "Construído pela Tmall Global, Alibaba Cloud e Cainiao, o nosso sistema global de acompanhamento assenta na Internet das Coisas e na tecnologia blockchain para permitir a verificação de produtos e bens através de dupla autenticação e um sistema de dupla encriptação", refere ainda. Contas finais, a empresa registou transacções "a partir de 230 países/regiões".

Vídeos promocionais com Inteligência Artificial

Outra novidade foi o recurso à Inteligência Artificial numa nova tecnologia de edição de vídeo, que permitia às marcas criarem pequenos vídeos sobre os produtos que tinham à venda. Este editor de vídeo puxava texto e imagens das páginas dos produtos para criar vídeos promocionais de 20 segundos de duração, em menos de um minuto. As sequências de imagens eram editadas ao ritmo da música de fundo escolhida para cada vídeo, usando "um algoritmo que tinha também em conta as emoções humanas para despertar o interesse dos consumidores". Tal ferramenta, refere a Alibaba, ajudará daqui em diante os pequenos vendedores a poupar significativamente nos custos de promoção.

A Alibaba treinou muitos comerciantes e representantes para a Universidade Taobao (criada na cidade de Hangzhou por Jack Ma, fundador da Alibaba).

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Entregas com robôs autónomos feitos pela JD.com, parceira da Farfetch Reuters

Já a plataforma JD.com – parceira da Farfetch para o mercado chinês – recorreu a carros e robôs autonómos para fazer a entrega de produtos. A empresa é uma das principais concorrentes da Alibaba, e promove o seu próprio evento do género, o chamado festival 618, em Junho. Porém, não passa ao lado do dia dos solteiros, promovendo campanhas de venda a preços de saldo por um período mais longo que culmina a 11 de Novembro. Resultado de 2018: facturou 23 mil milhões de dólares. 

O dia dos solteiros é celebrado todos os anos na China no dia 11 de Novembro. É uma tradição que nasceu em meios universitários e que, desde 2009, se transformou no maior evento comercial online e offline do mundo, por culpa da Alibaba. Criado em 1993, na Universidade de Nanjing com o propósito de celebrar a vida dos solteiros, era uma espécie de anti-Dia de S. Valentim – a escolha da data (não é um feriado oficial), com quatro algarismos "1" (11/11) alude exactamente a um indivíduo que está sozinho. Hoje é um dia de vendas preços de saldo, que começa às 0h de 11/11 e termina às 24h. Está para os chineses como a Black Friday (que se celebra no dia a seguir ao Dia de Acção de Graças, na quarta quinta-feira de Novembro) ou a Cyber Monday (a primeira segunda-feira após o dia de Acção de Graças) está para os norte-americanos. Mas em volume de negócios é maior do que estes dois dias juntos.

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