Governo e nacionalistas da Polónia marcham separados, mas pouco

Não houve violência na marcha do Dia da Independência, que a câmara de Varsóvia tentou impedir por ser organizada por nacionalistas.

Fotogaleria
O Presidente polaco encabeçou a marcha do Dia da Independência em Varsóvia TOMASZ GZELL/Reuters
Fotogaleria
Reuters/KACPER PEMPEL
Fotogaleria
LUSA/LESZEK SZYMANSKI

Os líderes polacos quiseram marcar um século de independência do país com uma grande marcha em Varsóvia, mas viram-se obrigados a negociar até ao último momento para garantir que as principais figuras do Governo desfilassem primeiro e fossem efectivamente separadas do resto dos manifestantes, onde seguiam grupos nacionalistas e de extrema-direita (incluindo uma delegação de neo-fascistas italianos).

“Obrigado por terem vindo, pela Polónia, e por trazerem a bandeira branca e vermelha sob a qual os nossos pais, avós e bisavós derramaram o seu sangue”, disse o Presidente Andrzej Duda, aliado do Partido Lei e Justiça (PiS), à frente do Governo. “Há espaço para todos sob as nossas bandeiras”, declarou. O discurso foi sendo interrompido por fumo vermelho dos very lights dos nacionalistas.

A presidente da câmara de Varsóvia, da oposição, tentou impedir realização desta marcha que a extrema-direita organiza todos os anos há quase uma década, mas um tribunal autorizou a manifestação. Assim, esta acabou por ser a primeira vez que, embora separados, principais responsáveis políticos do país comemoraram o mesmo dia.

A marcha, que no ano passado se distinguiu pela repetição de slogans de ódio, veio reavivar o debate sobre se o partido no poder encoraja estes grupos com tendências fascistas e anti-semitas, algo que os seus responsáveis negam. O PiS venceu as eleições em 2015 e tem levado a Polónia a um isolamento cada vez maior na Europa, com com acusações de uma deriva autoritária do Governo.

O país está a ser alvo de um processo de infracção da Comissão Europeia ao abrigo do artigo 7.º do Tratado de Lisboa, que pode levar à perda dos direitos de voto do país na UE. Bruxelas aponta dúvidas sobre o impacto de uma reforma judicial no respeito pelas normas do Estado de Direito.

O PiS promete mais valores católicos e patriotismo na vida pública, e aproveita a frustração com valores liberais e sentimento anti-sistema.

Na marcha, alguns participantes entoaram slogans anti-europeus. “Abaixo a UE!”, gritaram.

Os governantes marcharam à frente, separados fisicamente por um cordão de forças de segurança da parte principal da marcha, onde estavam os nacionalistas. Aí, participantes tinham cartazes dizendo “Deus, Honra, Pátria” e lançavam foguetes de fumo vermelho. Um jornalista do diário britânico The Guardian viu também elementos das forças de segurança lançar estes projécteis, notando que é ilegal.

“Orgulho, orgulho, orgulho nacional”, gritou-se ainda na marcha. “A Polónia deve ser nacional e não vermelha ou cor de arco-íris”, entoaram outros manifestantes, referindo-se à bandeira vermelha da ex-União Soviética e à bandeira arco-íris, símbolo do orgulho gay.

Havia ainda algumas bandeiras do grupo Forza Nuova, um grupo italiano cujo líder, Roberto Fiore, se descreve como fascista. 

Apesar de tudo, não houve slogans como os do ano passado: “a Europa será branca ou não será habitada” ou “sangue puro, mente clara”.

“Lembram-se dos slogans do ano passado?” perguntou no Twitter o deputado centrista Marcin Kierwinski. “Um ano mais tarde, os seus autores estão com o Presidente e o primeiro-ministro em vez de estarem com o Ministério Público”, disse, sugerindo que deviam ter sido acusados.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários