Quercus remete decisão sobre venda de terrenos no Tejo Internacional para assembleia geral extraordinária

O conselho fiscal da associação ambientalista reuniu esta tarde para discutir a venda dos terrenos em Idanha-a-Nova a uma herdade vizinha que gere uma reserva de caça. Acabou por decidir-se pela requisição de uma assembleia geral extraordinária.

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Sebastiao Almeida

A decisão da Quercus sobre a venda do conjunto de terrenos em Idanha-a-Nova, em pleno Parque Natural do Tejo Internacional (PNTI), a uma reserva de caça da vizinhança, ainda não está tomada. O conselho fiscal da Quercus, a quem caberia o parecer final, esteve reunido este sábado mas acabou por decidir-se pela requisição de uma assembleia geral extraordinária. O futuro dos terrenos fica assim nas mãos dos três mil sócios da associação ambientalista.

João Paulo Pedrosa, presidente do conselho fiscal, explica ao PÚBLICO que “são situações complexas e que precisam de uma melhor análise”. Além disso, “ainda não temos segurança para estar a decidir”. Foi por isso que optaram por esta via. "Achámos por bem requerer a marcação de uma assembleia geral extraordinária”. 

Além de João Paulo Pedrosa, o conselho fiscal da Quercus é composto por Manuel Fernandes e Nelson Viana, ambos vogais. A decisão foi “unânime”.

"Parece-me a decisão acertada" diz João Branco, presidente da Quercus. É "razoável" colocar esta escolha do lado dos associados. 

Foi através de uma petição pública que, no início da semana, se ficou a saber que a Quercus estava a ponderar a venda dos terrenos. Até às 16h deste sábado, mais de 1800 pessoas já tinham assinado o documento onde pediam que o negócio não se concretizasse.

Como o PÚBLICO escrevia a 7 de Novembro, entre os peticionários, há quem defenda que, se precisa de vender algo, a Quercus deveria optar por outros imóveis, e nunca abdicar de terrenos comprados para fins de conservação da natureza, já que, argumenta um deles, foi “fiel depositária” de uma vontade de outras pessoas e instituições que, com este gesto, podem deixar de confiar nesta organização, alerta-se no texto publicado online.

Numa brochura antiga da associação, de 1993, lê-se que a Fase I do projecto Tejo Internacional, iniciada em 1988, e que chegou a receber dois prémios internacionais, implicou um esforço de 480 mil euros. Este esforço da Quercus foi muito importante para a criação, em 2000, do Parque Natural do Tejo Internacional, que desde 2016 está classificado como Reserva da Biosfera da Unesco, e em cuja gestão a associação participa, numa iniciativa de co-gestão entre o Estado e a sociedade civil inédita no país. O actual presidente argumentava que a organização continua a comprar património, como aconteceu no ano passado, em que a aquisição de uma quinta de 80 hectares contígua ao Monte Barata permitiu aumentar para 600 hectares a área sob sua gestão directa, em Castelo Branco, outro dos quatro municípios portugueses com território no parque.

Os peticionários recordam a importância desta área protegida, que abrange ainda áreas em Vila Velha de Ródão e Nisa, para a conservação de espécies como a águia de Bonelli e o abutre do Egipto (ambas em perigo, em Portugal), da cegonha-preta (com estatuto vulnerável), do Grifo, do bufo-real e do corvo as três com estatuto (quase ameaçado). Mas, em resposta, João Branco dizia, por um lado, que não há ninhos ocupados actualmente na zona, considerando que o potencial de nidificação, no futuro, não será afectado, caso os espaços acabem integrados numa reserva de caça, tendo que em conta que toda a área está integrada no PNTI.

Notícia actualizada às 17h40 de 11 de Novembro com a posição de João Branco, presidente da Quercus.

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