Em busca da identidade de um soldado da Primeira Guerra Mundial

Este domingo, comemoram-se os 100 anos do Armistício da Primeira Guerra Mundial. Há muitos soldados que morreram durante o conflito e que nunca foram identificados. O médico forense francês Bruno Fremont procura descobrir quem eram.

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O médico forense Bruno Fremont está a investigar a identidade de um soldado francês desconhecido Christian Hartmann/Reuters
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O médico forense Bruno Fremont está a investigar a identidade de um soldado francês desconhecido Christian Hartmann/Reuters
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O médico forense Bruno Fremont está a investigar a identidade de um soldado francês desconhecido Christian Hartmann/Reuters
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O médico forense Bruno Fremont está a investigar a identidade de um soldado francês desconhecido Christian Hartmann/Reuters

Na morgue de um hospital do Leste de França, o médico forense Bruno Fremont examina um grande buraco no crânio de um soldado morto por um estilhaço há um século, na Batalha de Verdun durante a Primeira Guerra Mundial.

Disposto ao longo de um lençol branco está o esqueleto quase completo do combatente – com muitos dos ossos enegrecidos – e as suas botas de couro com os atacadores apertados. Falta é saber qual é a identidade desse soldado.

Durante meses, Bruno Fremont procurou pistas sobre a identidade do soldado, cujos restos mortais foram encontrados em Março deste ano por trabalhadores que repavimentavam uma estrada. Entretanto, o médico forense francês já perdeu a esperança. Afinal, um teste de ADN é inútil se não houver um familiar que sirva de comparação.

“Só se tivesse uma identificação é que poderíamos identificá-lo formalmente”, diz Bruno Fremont, reconhecendo a tristeza e a frustração de não ser capaz de descobrir quem era este combatente.

“Quando morreu, este soldado tinha as botas calçadas e estas botas eram do exército francês. Mas não temos qualquer prova sobre a sua nacionalidade. No seu lado esquerdo, o soldado tinha uma carteira que continha duas moedas francesas. E encontrámos ainda uma máscara de gás perto do crânio, que a máscara de gás francesa M2”, informa. “Tudo indica que fosse francês, mas não temos a certeza absoluta.”

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Em Março, foram encontrados restos mortais e as botas de um soldado que morreu durante a Batalha de Verdun Christian Hartmann/Reuters

Um século depois do final da grande guerra, o Presidente francês Emmanuel Macron irá ser o anfitrião das comemorações que assinalam o aniversário do Armistício este fim-de-semana. Líderes mundiais como o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a chanceler alemã, Angela Merkel, irão estar presentes nessas cerimónias.

Mas mesmo que o mundo assinale o fim de um conflito que aconteceu há muito tempo, o tumulto causado aos familiares dos soldados que nunca regressaram do campo de batalha continua a afectar essas famílias.

A Batalha de Verdun, disputada entre as tropas francesas e alemãs durante grande parte de 1916, foi a mais longa e está entre as mais mortíferas da Primeira Guerra Mundial. Ao todo, quase 300 mil soldados morreram.

Na última terça-feira, Emmanuel Macron acendeu uma chama no Ossário de Douaumont, um monumento de memória que tem os restos mortais de soldados que morreram na Batalha de Verdun e onde o esqueleto agora examinado por Bruno Fremont será sepultado caso não seja identificado.

Lamento de uma mãe

A Batalha de Verdun não poupou a família de Bruno Fremont. O seu avô foi ferido em combate. Quando era criança, o médico forense percorreu as florestas que agora cobrem o campo de batalha e recolheu invólucros de balas e capacetes de soldados.

Hoje em dia, quando são encontrados restos mortais, Bruno Fremont é incumbido pelo procurador local de se certificar se os ossos são de humanos e se são datados da Primeira Guerra Mundial. Afinal, tal como destaca o médico, um assassino em série chamado “Ogre de Ardenas” viveu em tempos em Verdun.

Os corpos de 80 mil soldados nunca foram recuperados depois da Batalha de Verdun. Permanecem enterrados numa área conhecida como “zona vermelha”. Frequentemente, diz Bruno Fremont, são encontrados fragmentos de ossos de corpos dilacerados por explosivos.

Em raras ocasiões, Bruno Fremont encontra o seu Santo Graal: a identificação de um soldado. Em 2015, trabalhadores que renovavam um monumento de memória da guerra em Verdun desenterraram três esqueletos. Horas depois da descoberta, encontrou-se uma identificação junto de um dos esqueletos – mas não há qualquer garantia que seja desses restos mortais.

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O médico forense Bruno Fremont está a tentar descobrir a identidade de um soldado que morreu durante a Primeira Guerra Mundial Christian Hartmann/Reuters

A identificação tinha o nome de Claude Fournier, assim como a data e a comuna onde se registou no exército: Mâcon. A descoberta levou Bruno Fremont a uma emocionante procura por um familiar vivo de Claude Fournier e um ADN correspondente. Dois anos depois, o médico conseguiu encontrá-lo: Robert Allard, neto de Claude Fournier, que vivia em Cannes.

“Foi tão emocionante”, relembra Robert Allard. “Foi o grande lamento da minha mãe em vida, que nunca chegou a saber se o seu pai tinha morrido.” Estes foram os primeiros e os únicos restos mortais de um soldado francês da Primeira Guerra Mundial identificados através de ADN até agora.

Essa memória provoca lágrimas a Bruno Fremont. Ainda que também – à mistura – esteja desapontado por ser incapaz de atribuir um nome ao delicado esqueleto, acompanhado pelas botas de couro, que está agora diante dele. “É frustrante”, constata o médico. “Porque talvez haja uma família com a esperança de um dia encontrar o seu familiar.” 

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