"Há sectores do PS que vêem BE como problema para a maioria absoluta"

Catarina Martins: "Eu quero pensar que o senhor primeiro-ministro está tão empenhado como eu em levar a legislatura até ao fim".

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

As relações têm estado tensas e já ninguém as esconde. O Bloco de Esquerda e o Governo tiveram momentos menos amigáveis nos últimos meses durante as negociações para o Orçamento de Estado de 2019 que se tornaram mais evidentes depois do caso Ricardo Robles. Agora, é a coordenadora do partido, Catarina Martins, que não esconde que o partido sente que há uma maior animosidade.

Em entrevista à Lusa, nas vésperas da XI Convenção Nacional do BE, diz que "há talvez sectores do PS que consideram que o Bloco de Esquerda pode ser um problema para o objectivo da maioria absoluta e tenham decidido que ganhariam alguma coisa com algum tipo de crispação", responde, quando questionada sobre a subida de tom e crítica dos socialistas em relação aos bloquistas.

E o primeiro-ministro, está nesse lote? Catarina Martins acredita que o primeiro-ministro está empenhado em concluir a legislatura: "Eu quero pensar que o senhor primeiro-ministro está tão empenhado como eu em levar a legislatura até ao fim, no cumprimento dos acordos que fizemos em 2015 e indo mais além deles, sempre que é possível", afirma.

Sobre esta crispação por parte dos socialistas, que para o BE se tornou mais evidente depois do caso que envolveu o ex-vereador bloquista Ricardo Robles, Catarina Martins não diz a quem se está a referir, ressalva apenas que "não é toda a gente que pensa assim no PS". Isto porque, acredita, os socialistas já compreenderam que há "um acordo para cumprir e que o Bloco manteve exactamente a mesma postura todos os dias, independentemente das flutuações de outros lados".

Não é a primeira vez que Catarina Martins se refere publicamente à animosidade que os bloquistas têm sentido por parte do parceiro. Numa entrevista ao Expresso no último sábado, Catarina Martins já dizia que "o PS, eventualmente, terá feito a análise de que o BE dificultava mais uma maioria absoluta do que o PCP". 

Na entrevista à Lusa, à pergunta se o BE e o PCP são hoje partidos mais próximos ou mais antagonizados, Catarina Martins responde, primeiro, que é preciso valorizar "muito o trabalho e a convergência" com os comunistas. "Registo que mantemos diferenças profundas - e para nós amargas - como, por exemplo, o PCP não ter apoiado a despenalização da morte assistida e permitir à direita chumbar um projecto que é uma ambição do país", lamenta.

No entanto, a deputada do BE assinala "também que em matérias como a adopção por casais do mesmo sexo, a posição do PCP tem vindo a evoluir e deu alguns passos que há uns anos se acharia impossível dar", tendo a expectativa que o partido "faça parte das ideias progressistas também no campo dos direitos e liberdades individuais".

A XI Convenção Nacional, reunião magna do partido que começa no sábado, é, para Catarina Martins, "um momento de balanço", precisamente no dia em que passam três anos sobre a assinatura dos acordos que viabilizaram o Governo minoritário do PS.

"É verdade que é um momento em que o Bloco se confronta com as próprias responsabilidades que teve, acrescidas, e também que coincide com o momento em que já há uma colaboração estreita, pensada, quotidiana entre uma geração mais nova dirigente porque o Bloco nestes últimos anos procedeu a uma enorme renovação", destaca.

Para a dirigente, "o BE tem neste momento uma convergência grande de direcção sobre os caminhos que tem de seguir", desvalorizando qualquer impacto da polémica que envolveu o antigo vereador bloquista na Câmara de Lisboa, Ricardo Robles. Aliás, os bloquistas querem insistir numa taxa sobre a especulação imobiliária

"O BE considera que Ricardo Robles errou, reconheceu o erro e em 72 horas tínhamos mudado o vereador, mas não teve nenhum comportamento ilegal. Nós reconhecemos os erros e corrigimos, mas não houve sequer nenhum comportamento ilegal. Não sei se há muitos partidos que tenham o mesmo comportamento que o Bloco", aponta.

A Convenção acontece no ano em que o partido perdeu uma das suas figuras de destaque, o antigo coordenador João Semedo - que partilhou com Catarina Martins, entre 2012 e 2014, a liderança 'bicéfala' - e que morreu em Julho.

"O João foi muito mais, na política, do que esses dois combates [Lei de Bases da Saúde e despenalização da eutanásia) que foram os últimos e que foram muito importantes. Foi a capacidade de interlocução, de criar pontes. Foi saber que a determinação na política do programa nunca é o sectarismo, nunca é dizer que não conseguimos construir pontes ou dialogar com outros", elogia.

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