Televisão japonesa cancela convite a banda de k-pop BTS devido a camisola com mensagem política

Um dos membros da banda coreana usou uma camisola com a imagem da explosão de uma das bombas atómicas no território japonês.

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A banda BTS Yoan Valat/Pool via REUTERS

O canal de televisão japonês Tv Asahi cancelou o convite que tinha feito à banda sul-coreana BTS devido a uma camisola com uma mensagem política usada por um dos sete membros da banda há mais de um ano.

A banda coreana BTS, também conhecida como Bangtan Boys, foi convidada pelo canal de televisão para uma entrevista no programa musical desta sexta-feira à noite, em antevisão da torné japonesa da banda de k-pop com arranque marcado para a próxima terça-feira.

Mas o convite foi retirado porque começaram a circular, nas redes sociais, fotografias de um dos membros da banda vestido com uma sweatshirt branca estampada nas costas. Nas fotografias, retiradas de um dos episódios do programa de televisão da banda, BTS: Bon Voyage, vêem-se duas imagens e várias palavras escritas de forma repetida. 

Numa das imagens, vê-se uma nuvem em forma de cogumelo, semelhante às que se formaram depois dos ataques nucleares de Hiroxima e Nagasáqui, que mataram centenas de milhares de japoneses e causaram consequências irreversíveis no país. A outra imagem mostra vários coreanos a celebrar a libertação da ocupação japonesa, em 1945 – apenas um mês depois dos ataques nucleares perpetrados pelos EUA.

Essas imagens surgem acompanhadas por quatro palavras, historicamente associadas à luta independentista coreana: “Patriotismo, História, Libertação, Coreia.”

Jimin, 23 anos, terá sido fotografado com a camisola no dia 15 de Agosto de 2017, a data celebrada pelos coreanos para marcar o fim da ocupação japonesa. Não se sabe se o jovem teve alguma motivação política quando usou a peça, que ainda está disponível numa loja online. Mas, para alguns fãs japoneses da banda, é “insultuosa”.

“Temos a informação de que uma T-shirt usada por um dos membros causou alarido. Depois de termos falado com a editora sobre o que se passava, tomámos a decisão de adiar a sua presença no nosso programa”, lê-se no comunicado da televisão Asahi.

A banda também publicou um comunicado a pedir desculpa aos fãs pela ausência no programa, mas sem referir a questão da camisola: “Pedimos desculpa por desapontarmos os nossos fãs que estavam ansiosos por isto.”

De acordo com o New York Times, o criador da camisola, vendida pela marca Ourhistory, pediu desculpa pela camisola e pela mensagem, que não queria que fosse entendida como "anti-japonesa".

Sete décadas de tensão

Há 70 anos que a derrota japonesa na II Guerra Mundial libertou a Península Coreana da ocupação colonial, mas o tema ainda é sensível para japoneses e coreanos. Há questões que se arrastam desde os tempos de guerra, como a questão “mulheres de conforto” coreanas, forçadas a trabalhar nos bordéis militares japoneses, que afectam as relações actuais entre os dois países.

Os momentos de tensão multiplicam-se e agravam-se. O último registou-se no mês passado, quando o Supremo Tribunal da Coreia do Sul ordenou que uma empresa de aço japonesa a operar na península pagasse uma compensação a quatro sul-coreanos, submetidos a trabalhos forçados durante a guerra. Tóquio disse que esta decisão era “inaceitável”.

Polémicas à parte, os BTS são uma das bandas de pop sul-coreano mais conhecidas e bem-sucedidas do mundo. Foram a primeira banda de k-pop alcançar um primeiro lugar na tabela internacional Billboard 200, com a música Love Yourself: tear. Apenas um mês depois, conseguiram a dobradinha com o tema Idol.

Foram também os primeiros músicos sul-coreanos a discursar no âmbito da iniciativa Unlimited Generation da UNICEF, a convite das Nações Unidas.

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