Lucro da EDP cai 74% para 297 milhões até Setembro

Resultados trimestrais foram afectados por provisão extraordinária de 285 milhões de euros relacionada com despacho do ex-secretário de Estado da Energia sobre alegados ganhos indevidos da empresa com os CMEC.

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EDP está a contestar corte de 285 milhões aos ganhos com os CMEC Rui Gaudencio

O resultado líquido da EDP caiu 74% nos primeiros nove meses do ano, de 1147 milhões de euros para 297 milhões. A quebra acentuada dos resultados face ao período homólogo foi determinada essencialmente por factores não recorrentes: o primeiro relativo à mais-valia de 560 milhões de euros relacionada com a venda da espanhola Naturgas, que beneficiou as contas de 2017; o segundo relativo ao “corte” de 285 milhões aos ganhos, motivado pelo despacho do anterior secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches

O governante validou as contas feitas pela ERSE relativamente a alegadas sobrecompensações que a empresa terá retirado dos contratos CMEC (custos para a manutenção do equilíbrio contratual) pelo facto de até 2013 não ter havido um mecanismo de verificação da disponibilidade das centrais para produzir (um estado de prontidão para produzir pelo qual a empresa é paga).

“Nós [EDP] efectivamente estamos a contestar esta medida”, confirmou ao PÚBLICO o administrador financeiro da EDP, Miguel Stilwell de Andrade, escusando-se a comentar se os accionistas da empresa efectivamente avançaram com processos de arbitragem internacional contra o Estado português, como a própria EDP chegou a anunciar, em Setembro.

Nas contas enviadas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a EDP destaca que os resultados foram fortemente penalizados pelo efeito do despacho” de Seguro Sanches, que levou a empresa a constituir uma provisão extraordinária nas contas trimestrais no valor de 285 milhões.

Miguel Stilwell de Andrade destacou o facto de as actividades da EDP em Portugal – na distribuição, na comercialização e na geração não terem contribuído com mais do que 18 milhões de euros para o resultado líquido da empresa (6%), quando a EDP tem “mais de dez mil milhões de euros de investimento acumulado no país”.

O gestor lembrou ainda que a EDP Renováveis, que é apontada como o grande motor de crescimento do grupo, já obtém 84% dos resultados fora do país. Os lucros da empresa de energias limpas liderada por João Manso Neto caíram 30% até Setembro, para 115 milhões de euros, o que se explica pela descida dos preços de venda e por um trimestre marcado por pouco vento. O resultado líquido antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) recuou 12% para 869 milhões de euros.

Além dos efeitos do despacho de Seguro Sanches, o administrador da EDP também criticou outras decisões regulatórias que afectaram as contas do grupo neste período, como a “forte revisão em baixa da remuneração da EDP Distribuição”, que pesou cerca de 120 milhões.

Em termos homólogos, o EBITDA do grupo EDP recuou 26% nos primeiros nove meses do ano, para 2410 milhões de euros, enquanto a dívida líquida atingiu 14.505 milhões de euros no final de Setembro, acima dos 13.902 milhões em Dezembro de 2017.

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