Asia Bibi foi libertada e partiu num avião rumo a parte incerta

Paquistanesa cristã tinha sido condenada à morte por blasfémia. Ordem de libertação gera revolta entre os sectores islâmicos radicais.

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As filhas de Asia Bibi com uma fotografia da mãe Reuters/Adrees Latif

A cristã paquistanesa Asia Bibi, condenada à morte em 2010 por blasfémia, foi libertada e deixou o país num avião, “mas ninguém sabe para onde”, disse à AFP o seu advogado, Saif ul Mulook – que esta semana fugiu do país por temer pela vida.

A ordem de libertação de Asia Bibi tinha sido emitida há uma semana pelo Supremo Tribunal do Paquistão e gerou uma onda de protestos organizados por parte do grupo islâmico Tehreek-Labbaik, levando as autoridades a recearem uma onda de violência.

Asia Bibi passou oito anos no corredor da morte depois de, em 2009, ter entrado em confronto verbal com duas mulheres muçulmanas, após ter bebido água de um copo que era usado por muçulmanas. Na discussão, essas mulheres disseram-lhe que tinha de se converter ao islão (para que o copo deixasse de ser impuro) e acusaram Bibi de ter feito comentários ofensivos sobre Maomé. Horas depois, foi espancada em sua casa: os atacantes afirmaram que confessou ter cometido blasfémia e a polícia acabou por detê-la.

O caso gerou uma onda internacional de apoio à mulher cristã, e um coro de críticas às leis anti-blasfémia do Paquistão.

Os três juízes do Supremo consideraram não haver provas que suportassem as acusações contra Bibi. De acordo com a sentença, as duas mulheres responsáveis pela denúncia “tinham razões para apresentar alegações falsas contra a requerente”. Para além disso, “a acusação falhou categoricamente [na tentativa de] provar o seu caso”, diz o documento.

Assim que a ordem de libertação de Asia Bibi foi conhecida, a sua família admitiu que nunca poderiam permanecer no país (actualmente o marido e os cinco filhos já mal saem de casa). Mulook disse à BBC que ela teria de ir para um país ocidental, depois de todas as tentativas de assassínio que sofreu – a última aconteceu o mês passado, quando dois homens tentaram matá-la na prisão onde esteve encarcerada há mais de oito anos.

Nas primeiras reacções à notícia, Bibi mostrou-se incrédula. “Vão deixar-me sair? A sério?”, afirmou a cristã que sempre se afirmou inocente. “É o dia mais feliz da minha vida”, disse o seu advogado. 

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