Jerónimo elogia "geringonça" mas não acredita que seja replicável noutros países da UE

Cabeça de lista do PCP às europeias há-de ser um dos actuais três eurodeputados do partido, diz o secretário-geral.

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Miguel Manso

Apesar de considerar que a actual solução governativa de esquerda em Portugal é uma “experiência única e que não tem aplicabilidade concreta” noutros países da União Europeia (UE), o secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, foi até ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, para elogiar o “processo de reposição de rendimentos e direitos” levado a cabo pela “geringonça” portuguesa e argumentar que a política que o país está a seguir demonstra que o “empobrecimento do país” e o “aumento da exploração dos trabalhadores” não são as únicas receitas para resolver os problemas financeiros.

À entrada para um encontro promovido pelo grupo confederal Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (EUE/EVN), do qual o PCP foi um dos fundadores, Jerónimo de Sousa disse que a “realidade portuguesa” desmentiu as previsões da troika e do anterior Governo PSD/CDS, e está a provar que a actual linha de reposição de direitos e de “valorização do trabalho e dos trabalhadores em relação a salário, reformas, pensões e protecção social” não é incompatível com o crescimento da economia. “A vida está a mostrar que não”, sublinhou.

Porém, assinalou, o país continua a sofrer com as “imposições das instituições da UE" que o prejudicam: "Condicionam a possibilidade de resolvermos os nossos problemas estruturais”, com constrangimentos à política orçamental e outros. Em resposta a uma pergunta, Jerónimo de Sousa notou que o actual impasse em torno da proposta de orçamento submetida a Bruxelas pelo Governo de Itália mostra que “existe aqui um problema” e que “há claramente um tratamento desigual” por parte da UE em relação a certos países.

O secretário-geral do PCP manifestou ainda satisfação por não se ter verificado nenhuma das “pragas anunciadas” após a negociação da “geringonça”, designadamente de que a participação do PCP nesta solução política levaria à quebra da economia e ao fim do investimento estrangeiro. “E, afinal, a economia cresceu”, insistiu Jerónimo de Sousa, que não quis discutir muito mais os méritos do modelo. “Houve uma experiência, determinada por uma conjuntura concreta”, lembrou, acrescentando apenas que a solução encontrada “funcionou”.

“Creio que houve avanços significativos e não foi só repor direitos, foi de certa forma também repor a esperança do povo português de que é possível uma vida melhor”, afirmou o líder comunista, que não acredita que o modelo nacional possa funcionar na Europa.

Acompanhado pelos três eurodeputados do PCP, Jerónimo de Sousa disse ainda que o partido ainda não tomou uma “decisão formal” sobre a sua lista de candidatos nas próximas eleições europeias de Maio de 2019, mas notou que “tendo em conta o valor” dos actuais representantes do partido no Parlamento Europeu “a solução andará por aí”. Os três eurodeputados do PCP são João Ferreira - que foi o cabeça-de-lista da CDU em 2014 -, João Pimenta Lopes e Miguel Viegas.

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