Comité Olímpico dos EUA quer retirar estatuto à federação de ginástica

Em causa está a falta de estabilidade no organismo, depois do escândalo de abusos sexuais que chocou o país.

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Reuters/BRENDAN MCDERMID

O Comité Olímpico dos Estados Unidos (USOC) está a tomar medidas no sentido de retirar à Federação de Ginástica norte-americana (USA Gymnastics) o estatuto olímpico, por considerar que o organismo desbaratou a possibilidade de se reconstruir depois do escândalo de abuso sexual que envolveu o médio Larry Nassar e várias atletas.

Numa carta aberta dirigida à comunidade da ginástica, a presidente do USOC considerou que os praticantes e treinadores "merecem mais" e que os desafios que a federação enfrenta são maiores do que aqueles com que conseguirá lidar, nos actuais moldes.

O USOC, de resto, também foi alvo de críticas por não ter respondido de forma apropriada aos casos de abuso sexual, razão pela qual alguns dos seus detractores encaram esta tomada de posição como uma manobra de diversão. "Este anúncio procura desviar a atenção do total falhanço do USOC, durante décadas, no que respeita à protecção das ginastas que estavam a seu cargo", reagiram, em comunicado, os advogados Michelle Simpson Tuegel e Mo Aziz, que representam a atleta olímpica Tasha Schwikert no processo movido às duas entidades.

Denominador comum entre os autores das acções judiciais interpostas contra o USOC é o entendimento de que o organismo tinha a obrigação de fazer mais para proteger as ginastas. É verdade que forçou uma mudança de direcção na federação, mas mesmo com um novo elenco, que iniciou funções em Junho, repetiram-se os erros, como a contratação de um coordenador e de um director interino que nem nove meses aguentou no cargo. 

Ao decidir-se pela retirada do estatuto olímpico à USA Gymnastics, o USOC pune a incapacidade de gerir os próprios destinos por parte do organismo, mas arrisca-se também a provocar um vazio. Para além de apoiar os atletas olímpicos e de seleccionar as equipas e os treinadores para competições internacionais, a federação representa mais de 150 mil atletas e 3000 clubes.

“Procurar revogar o estatuto não é uma decisão que tenhamos tomado de ânimo leve, mas acredito que é a decisão correcta", defende Sarah Hirshland, presidente do Comité Olímpico norte-americano. "No curto prazo, trabalharemos para que os ginastas tenham o apoio necessário para se superarem dentro e fora dos pavilhões".

A lei federal que tutela o USOC estabelece os termos em que pode retirar-se a certificação a uma organização, mas este é um passo que é dado, habitualmente, em circunstâncias extremas (já aconteceu em 1994, nos EUA, com a federação de tiro). A esse respeito, Hirshland já declarou que deu à USA Gymnastics a opção de se "desvinvular" voluntariamente, embora não tenha recebido qualquer tipo de feedback. Num comunicado, a federação informou apenas que estava a estudar a melhor solução para todas as partes, detalhando os desafios que enfrentou desde a tomada de posse, em Junho.

Actualmente, o organismo tenta encontrar aquele que será o seu quarto presidente nos últimos 19 meses, depois de uma série de demissões causadas pela pressão exercida pelo USOC e pela comunidade da ginástica. Em causa, nos diferentes casos, estiveram suspeitas de destruição de documentos que implicavam o médico Larry Nassar, a falta de uma visão clara de futuro, o apoio a Nassar quando as primeiras suspeitas emergiram ou as críticas públicas a um patrocinador.

Jamie Dantzscher, a primeira ginasta a processar a USA Gymnastics, manifestou-se cansada do "cinismo dos comunicados e de como supostamente se interessavam pelos atletas". "É a altura de mudar esta organização. Só lamento que o USOC tenha demorado tanto tempo a actuar".

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