Afastado ex-chefe da espionagem alemã por críticas ao Governo

Num discurso de despedida, Hans-Georg Maassen criticou os "radicais de esquerda" no Governo alemão e uma política "ingénua" em relação aos "estrangeiros". Foi afastado e a AfD já o convidou para se juntar ao partido.

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Hans-Georg Maassen foi afastado pelo minsitro do Interior mas agora é Horst Seehofer quem está a ser alvo de críticas CLEMENS BILAN/EPA

O antigo chefe dos serviços de espionagem interna da Alemanha (BfV) Hans-Georg Maassen foi esta segunda-feira afastado pelo ministro do Interior, Horst Seehofer.

O caso de Maassen tem várias etapas, e Seehofer apoiou-o nas anteriores – o que está agora a deixar sob fogo o próprio ministro. A primeira etapa foi a revelação de que teve contactos com o partido de direita radical AfD (Alternativa para a Alemanha). Maassen admite que houve contactos, mas nega que o objectivo tenha sido recomendar como o partido poderia evitar a vigilância dos serviços de espionagem interna (em alemão, Agência para a Protecção da Constituição ou BfV), que eram chefiados por si.

A segunda etapa foi quando Maassen pôs em causa a autenticidade de um vídeo de militantes de extrema-direita a perseguir e atacar pessoas com aparência estrangeira na cidade de Chemnitz após o homicídio de um homem por dois requerentes de asilo (fê-lo numa entrevista ao maior tablóide alemão, mas nunca apresentou qualquer indício de que as imagens pudessem ter sido manipuladas). Foi passado da chefia do BfV para um cargo no Ministério do Interior, o que foi visto por muitos como uma promoção.

Mas esta segunda-feira, Horst Seehofer declarou que Maassen, que ainda ocupava interinamente a chefia da espionagem interna até haver um substituto, deveria afastar-se e afirmou estar “pessoalmente desapontado” com as palavras do antigo protegido.

Estas foram proferidas num encontro do chamado “clube de Berna”, que junta os líderes dos líderes das secretas internas dos países europeus, no dia 18 de Outubro em Varsóvia. Foram divulgadas na rede interna (Intranet) do BfV, e publicadas pelo diário Süddeutsche Zeitung.

Maassen criticou o Governo de coligação entre a CDU/CSU (a União Democrata-Cristã da chanceler, Angela Merkel, e a União Social-Cristã, o seu partido gémeo na Baviera) e o Partido Social-Democrata (SPD, centro-esquerda), dizendo que há “elementos de esquerda radical” no SPD que estão a tentar “destruir a coligação no Governo”. Maassen declarou ainda ser “conhecido na Alemanha como crítico de uma política de Estrangeiros e Segurança idealista, ingénua e de esquerda”, o que teria determinado a sua saída do cargo.

O modo como Maassen se referiu ao Executivo, disse Seehofer justificando o seu afastamento, foi “inaceitável” e tornou impossível uma “cooperação baseada em confiança mútua”. Mas várias vozes da oposição (Verdes, Die Linke) pedem agora a demissão de Seehofer, dizendo que o caso mostra que este não está apto para continuar ministro do Interior.

Seehofer está ainda sob fogo depois de a CSU, que lidera, ter perdido a maioria absoluta no governo bávaro nas eleições recentes no estado federado, e ter abdicado dos ministérios da Economia, Educação e Ambiente para os Eleitores Livres, que será o seu parceiro de coligação. 

No seu discurso, Maassen disse ainda imaginar uma vida “por exemplo na política ou finanças”. Não demorou até receber um convite público: da boca de um dos líderes da AfD, Jörg Meuthen, que falou do seu “apreço” pelo antigo chefe da secreta interna: “se tiver interesse nisso, será naturalmente muito bem-vindo no nosso partido”, disse Meuthen ao grupo alemão de media RND.  

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