Afinal, o que quer o PSD?

Será que Rui Rio é mesmo tão politicamente inepto como aparenta numa primeira leitura?

Estamos a onze meses das legislativas de início Outubro de 2019. A 26 de Maio realizam-se eleições europeias, ou seja, daqui a menos de sete meses. Os partidos parlamentares alinham estratégias de campanha para duas idas às urnas decisivas, cada uma a seu modo. E a pergunta que se coloca é a de saber que estratégia é aquela que o PSD está a delinear para os dois actos eleitorais que se aproximam.

Há quem considere que o presidente do PSD é apenas inábil e despreparado para o papel político que lhe cabe na democracia e na sociedade portuguesa. Que deu um passo maior do que a perna ao realizar o seu sonho de ser eleito pelos militantes do partido para liderar um dos dois principais partidos de poder em Portugal. Há quem pense que Rui Rio dá como inevitável a vitória do PS no próximo ciclo eleitoral e que, por isso, se limita a gerir a situação.

Existe mesmo quem anuncie que Rui Rio poderá levar o PSD a uma erosão eleitoral dificilmente recuperável, depois do que têm sido as consecutivas perdas eleitorais do partido nas autárquicas, em 2013 e 2017, esses reais bastiões do poder institucional em Portugal. Estas hipóteses podem vir a provar-se verdadeiras, mas penso que são redutoras do que se passa no PSD e do que é a linha que Rui Rio está a seguir.

É certo que a guerrilha interna que o partido tem vivido não ajuda à afirmação da liderança, mas o PSD teve outros momentos de imensa turbulência interna. A história mostra que apenas dois líderes — Cavaco Silva e Passos Coelho — não foram, com mais ou menos intensidade, vítimas da febre de protagonismo interna de uma força política que até tem o título de “partido de barões”.

Mas será que Rui Rio é mesmo tão politicamente inepto como aparenta numa primeira leitura? Será que é por incapacidade de liderança que o presidente do PSD se tem sujeitado ao desgaste infligido por alguns dos seus companheiros de partido? Será por ausência de gravitas que não capta a adesão do eleitorado nos estudos de opinião que vão sendo conhecidos? É por deficiência de massa crítica ou de massa cinzenta na sua direcção que o PSD ainda não mostrou ter ideias alternativas para a governação? E mesmo quando as tem, será por falhas na política de comunicação que elas não se tornam conhecidas e são entendidas pelos cidadãos?

O PSD viveu esta semana três situações em que Rui Rio foi olhado com desconfiança e criticado. No debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2019, em que não apresentou propostas alternativas, a bancada parlamentar apenas reafirmou o voto contra. O deputado Bruno Vitorino, líder do PSD-Setúbal, afirmou em declarações ao PÚBLICO que o partido quer ouvir o primeiro-ministro, António Costa, na comissão de inquérito a Tancos proposta pelo CDS e já aprovada em hemiciclo — um acto parlamentar não só legítimo como normal num órgão de soberania que tem como função fiscalizar o Governo e que está legalmente previsto, dando ao primeiro-ministro a prerrogativa de responder por escrito. Mas o facto é que Rui Rio já tinha anunciado que o PSD declinava usar esse recurso parlamentar e surgiu, mais uma vez como desautorizado.

E ainda a “trapalhada” em torno das propostas de Rui Rio para a reforma da Justiça, que a direcção do PSD entregou aos partidos da oposição, pelo menos parcialmente circulam em notícias, e não foram apresentadas nem explicadas aos próprios deputados. Levando a críticas públicas, incluindo de Paula Teixeira da Cruz, ex-ministra da Justiça do Governo de Passos Coelho, que acusou Rui Rio de querer politizar a Justiça.

No momento volátil como o que se vive na Europa, numa época de transmutação da comunicação dos players políticos e de expectativas dos cidadãos em relação à política, em que os eleitores reagem positivamente a mensagens e propostas políticas que têm sido classificadas de modo simplificador e redundante como populistas, que mudança está a ocorrer no PSD? Será que é tudo inépcia, incapacidade e falta de gravitas de Rui Rio? O que está de facto o presidente do PSD a ensaiar na política portuguesa?

Sugerir correcção
Ler 1 comentários