Marcelo sobre Tancos: “Se pensam que me calam, não me calam”

Presidente da República repetiu no Funchal que nada sabia ou sabe sobre Tancos. Ao PÚBLICO, acrescentou que nunca falou com o director da Polícia Judiciária Militar.

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Nuno Ferreira Santos

Marcelo Rebelo de Sousa não gostou de ouvir dizer nesta sexta-feira que houve vários contactos entre Belém e o director da Polícia Judiciária Militar (PJM) a propósito do caso do alegado encobrimento associado à recuperação do material roubado em Tancos. Em declarações ao PÚBLICO, afirmou, definitivo: “Se pensam que me calam, não me calam”.

A frase dirige-se aos que tentam agora envolver a figura do Presidente naquilo que ele próprio designou por uma “nebulosa” que tem um único efeito prático: não apanhar o ou os responsáveis pelo furto de armas em Tancos. “Estranho que quem me queira atribuir o que quer que seja o tenha feito sem me ouvir previamente. É o mínimo para qualquer cidadão”, acrescentou Marcelo. E garantiu: “Nunca falei com o director da Polícia Judiciária Militar”.

Marcelo Rebelo de Sousa reagiu assim à informação avançada pela RTP de que a Casa Militar da Presidência da República tinha conhecimento do “encobrimento” no caso de Tancos. “Se eu soubesse o que se tinha passado, não passava a vida a exigir o esclarecimento. Era muito simples. Se eu tivesse sabido desde o dia 2 de Julho e depois ao longo do processo que se tinha passado, para quê estar a insistir num esclarecimento, como insisto hoje?”, argumentara o Presidente da República aos jornalistas, a meio do dia, garantindo que vai continuar a insistir, “contra tudo e contra todos”, para que a verdade seja apurada.

“O Presidente da República acha, do ponto de vista do sentido de Estado e da falta da noção das coisas, do outro mundo achar-se que quem efectivamente andou a insistir permanentemente em relação ao esclarecimento da verdade apareça agora como tendo sabido a verdade”, acrescentou Marcelo, dizendo que, por este caminho, o de “disparar em várias direcções”, os responsáveis nunca serão encontrados. “É o mundo de pernas para o ar, e por aí nunca se apurará nada”, sublinhou no Funchal, à margem da visita ao Liceu Jaime Moniz.

A reportagem do programa Sexta às Nove, da RTP, adiantou que o antigo director da Polícia Judiciária Militar “fez vários contactos com o ex-chefe da Casa Militar da Presidência antes e depois da recuperação das armas” e cita o próprio general João Cordeiro, que terá confirmado os contactos, negando “ter percebido qualquer encobrimento”.

Não facilita investigação

Em reacção, Marcelo alerta para os riscos que a “nebulosa” que está a ser criada em torno deste caso acarreta para a sua resolução. “Até parece, de vez em quando, que é de propósito”, disse, porque de cada vez que é preciso dar “espaço à instrução criminal para que ela aprofunde, surge uma nebulosa”, o que “obviamente não facilita investigação”, continuou, insistindo: “Não sei quem é que furtou. Não sei onde é que andaram as armas. E não sei concretamente o que se passou, com que envolvidos e de que maneira, na recuperação”.

O Presidente da República adianta que até poderia acontecer não poder falar do caso por ele ser matéria de segredo de justiça ou estar em instrução criminal. Mas, se fosse esse o caso, não estaria sempre a insistir e a exigir esclarecimentos. “Se hoje soubesse quem furtou, não exigia um esclarecimento. Se hoje soubesse o destino das armas, não exigia um esclarecimento. Se hoje soubesse exactamente o que se passou, não exigia um esclarecimento. Se eu insisto, é porque não sei”, disse, rejeitando que a saída do general João Cordeiro da chefia da Casa Militar da Presidência da República estivesse relacionada com o caso.  João Cordeiro “já desmentiu saber o que quer que fosse sobre memorando, reuniões, encobrimento — supondo que houve encobrimento, uma vez que o o último testemunho é de que não teria havido encobrimento”, disse Marcelo. A saída de Belém esteve relacionada apenas com a passagem à reserva. “Estava previsto que se afastasse no fim do Verão de 2017, mas foi-lhe pedido para ficar para haver a transição”, justificou.

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