Vice-presidente de Ponte da Barca diz não ter sido envolvida no orçamento para 2019

Autarca absteve e o presidente da Câmara precisou de um voto da oposição para conseguir aprovar o documento.

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Orçamento foi aprovada graças ao voto de um eleito da oposição camarária Hugo Delgado

A vice-presidente da Câmara de Ponte da Barca abteve-se na votação do orçamento para 2019 do município, alegando "não ter sido envolvida" na sua elaboração.  "Não se verificou o envolvimento desejável e necessário de todo o executivo para a elaboração de um documento estratégico desta natureza, daí que, não tendo estado envolvida, não pude opinar, não pude dar conta das minhas opções e ideias. Faltou o espírito colaborativo e a partilha de propostas. As Grandes Opções do Plano e Orçamento foram tomadas, unilateralmente, pelo senhor presidente da Câmara", disse Maria José Gonçalves.

O orçamento para 2019 da maioria PSD, em Ponte da Barca, no valor de mais de 21 milhões de euros, foi viabilizado, na quarta-feira, em reunião camarária, por um dos três vereadores da oposição socialista. Dos quatro elementos que compõem a maioria social-democrata naquele município do Alto Minho, apenas o presidente e um vereador votaram favoravelmente. Além da abstenção de Maria José Gonçalves um outro vereador não marcou presença por se encontrar em gozo de férias.

Esta sexta-feira, em declarações à agência Lusa, a vice-presidente do executivo disse não se "rever" no documento, no valor superior a 21 milhões de euros, por "não refletir as orientações políticas de todo um executivo, mas fundamentalmente o querer do presidente da Câmara" A Lusa tentou, mas sem sucesso, ouvir o autarca Augusto Marinho, bem como o vereador do PS que votou favoravelmente o documento. Inocêncio Araújo, funcionário da autarquia foi o cabeça de lista do PS às últimas eleições autárquicas e perdeu o município para o PSD.

Em comunicado, a Câmara de Ponte da Barca sublinhou, que o "ano de 2019 será um período de transformação determinante para o concelho, com o início da implementação de duas zonas empresariais no concelho e que irão dar resposta a uma necessidade já antiga do território". Citado naquela nota, Augusto Marinho justificou aquela aposta como sendo o "avanço para uma nova era da atividade económica e para a criação de empregos e, consequentemente, aumentando o rendimento per capita e assim contribuir para a fixarão a população no concelho".

Já Maria José Gonçalves admitiu que essa aposta "reflete uma promessa eleitoral", mas considerou que a "economia não se esgota na indústria" e que "a aposta noutros sectores, como a agricultura, turismo e comércio não está suficientemente acautelada". A vice-presidente referiu ainda que "não estão, objetivamente, acauteladas respostas a problemas prementes do concelho", como é o caso das soluções sociais.

"Num município com fragilidades de monta nesta área era necessário que essas soluções estivessem acauteladas e esplanadas neste documento", frisou. A autarca disse esperar que sua atitude seja encarada de "uma forma construtiva, no sentido de haver mais planeamento, mais articulação e de que, no futuro, as decisões sejam partilhadas, debatidas e que cada um dos elementos do executivo possam dar o seu contributo".

Maria José Gonçalves afirmou assumir "os riscos políticos" resultantes desta posição, acrescentando que "as pessoas não estão muito habituadas a esta frontalidade e a esta transparência". "Hoje, mais do que nunca, é preciso credibilizar a política e os políticos", adiantou, garantindo que não equaciona apresentar a demissão e que tenciona "cumprir até ao último dia o compromisso que assumiu com a população do concelho".

A vice-presidente acrescentou que, após a votação do orçamento para 2019, "ainda não teve a oportunidade de trocar impressões com o presidente da Câmara" e que Augusto Marinho "terá toda a legitimidade para fazer o que achar por bem"."Da minha parte estou muito segura daquilo que quero e do que farei. Até ao último dia do mandato irei defender os superiores interesses do meu concelho e da população que votou num projecto que foi sufragado maioritariamente", reforçou.

Os dois vereadores do PS que votaram contra o orçamento para 2019, lamentaram que o documento, "extenso e de importância vital para o concelho, só tenham sido disponibilizados com um dia de antecedência sobre a data da sua discussão" e acrescentam que o documento "denota uma falta de ambição preocupante e não mais é do que um orçamento de gestão corrente".

Na declaração de voto que apresentaram justificam o sentido de voto por considerarem que o orçamento "aniquila o papel de importância única na dimensão social do concelho que a Câmara Municipal de Ponte da Barca tem necessariamente de exercer, por não ter objetivos traçados nem estratégias definidas, por assentar num aumento considerável dos impostos diretos (IMI), no aumento da despesa corrente desnecessária e em valores de receita muito difíceis de concretizar".

Na nota enviada à imprensa, o executivo PSD aponta ainda como prioridades "o investimento nas redes de abastecimento de água e saneamento básico, o reforço da resposta do município na ação social e a definição estratégica do turismo como verdadeiro motor de afirmação de Ponte da Barca e da sua imensa riqueza natural".

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