Moradores de prédio de luxo processam Tate Modern por invasão de privacidade

Proprietários de apartamentos num edifício fronteiro ao museu londrino queixam-se de que as suas casas são visualmente devassadas pelos visitantes da galeria panorâmica que a Tate inaugurou em 2016.

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Os proprietários de quatro apartamentos no luxuoso complexo de habitação londrina Neo Bankside, que se ergue defronte da Tate Modern, processaram o museu para tentar impedir que centenas de milhares de visitantes possam ter acesso visual ao interior das suas casas. Um tribunal londrino ouviu esta sexta-feira, em audiência preliminar, os argumentos dos moradores e da administração da Tate

Se um dos atractivos da torre de apartamentos é justamente a sua vista privilegiada sobre Londres, os residentes não gostaram que a Tate explorasse esse mesmo trunfo inaugurando em 2016 uma galeria panorâmica no décimo e último piso do novo edifício projectado pelos arquitectos Herzog & de Meuron como extensão do museu, a Switch House.

O terraço do décimo andar da Tate oferece uma vista de 360 graus sobre a cidade, sendo que o objectivo dos proprietários dos apartamentos da torre fronteira é forçar a Tate Modern a encerrar ao público a parte que está voltada para as suas casas. A galeria é usada por quase um milhão de pessoas por ano, o que constitui, argumentam os queixosos, “uma contínua invasão” da privacidade da sua vida doméstica.

O advogado Tom Weekes, que representa os moradores descontentes, alega que os visitantes do museu “submetem os apartamentos a um escrutínio visual invulgarmente intenso”, com alguns a recorrerem mesmo a binóculos e lentes com zoom. Um dos queixosos, assegurou Weekes ao diário inglês The Guardian, contou 84 pessoas a fotografarem o edifício num período de hora e meia e diz ter descoberto que uma fotografia onde ele próprio aparece foi publicada no Instagram e tinha já sido vista por mais de mil pessoas.

“Sinto que a minha vida anda toda à volta dos horários da galeria panorâmica”, escreveu uma das moradoras, Lindsay Urquhart, numa declaração que fez chegar ao tribunal, na qual sublinha ainda a ansiedade que lhe provoca a possibilidade de que estranhos possam fotografar a sua filha pequena e colocar as imagens na Internet. “Temos de estar constantemente a ter cuidado com o que fazemos e com a nossa aparência”, diz outro queixoso, Ian McFadyen.  

A administração da Tate Modern argumenta que a solução mais simples é os moradores descerem os seus estores e, “se for necessário, porem umas cortinas”. Guy Fetherstonhaugh, advogado da Tate, observa que os visitantes acedem à galeria “para desfrutarem de uma vista única sobre Londres”, e não para espreitarem as residências dos queixosos, e considera “irrazoável” que se pretenda “negar ao público o direito de usar a plataforma só para dar aos reclamantes o direito a gozarem sem entraves as suas próprias vistas”.

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