A mulher húngara que agrediu refugiados a pontapé foi absolvida

A operadora de câmara tinha sido condenada a três anos de liberdade condicional. Agora, o Supremo Tribunal húngaro reconhece as agressões, mas não as considera suficientemente graves.

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O momento em que Petra Laszlo faz uma rasteira a um refugiado sírio e ao seu filho Reuters/MARKO DJURICA

Em Setembro de 2015, a crise de refugiados começou a acordar a Europa. Nesse ano, mais de 1 milhão de pessoas atravessaram o Mar Mediterrâneo à procura de refúgio. A mar e a pé, centenas de milhar de pessoas percorreram quilómetros de distância sob condições extremas. Entre eles estavam refugiados sírios, que fugiam da guerra e dos grupos islâmicos extremistas no país. Foi num desses momentos que uma operadora de câmara húngara, Petra Laszlo, foi filmada a fazer rasteiras e a pontapear refugiados sírios — incluindo crianças — na fronteira da Sérvia com a Hungria. As imagens, registadas por um jornalista no local, percorreram vários jornais. Em Janeiro de 2017 foi condenada a três anos de liberdade condicional. Agora, o Supremo Tribunal de Justiça da Hungria decidiu absolvê-la de todos os crimes.

As imagens da violência gratuita de Laszlo foram partilhadas e rapidamente se quis saber quem era a mulher. Laszlo foi despedida do canal televisivo onde trabalhava e considerada culpada pelas agressões. Mas o Supremo Tribunal de Justiça da Hungria considerou esta terça-feira que, apesar de "ilícitas e moralmente incorrectas", as suas agressões não foram suficientemente graves para serem classificadas como criminosas. Em vez disso, as agressões foram classificadas como "distúrbios".

Recordar Szeged

De câmara na mão, Petra Laszlo tem uma máscara a tapar-lhe o rosto. À sua volta, centenas de pessoas correm depois de romper uma barreira policial, em Szeged, em busca de asilo. Entre elas há crianças, umas que correm, outras carregadas ao colo pelos pais. Sem largar a câmara, Petra Laszlo começa a distribuir pontapés a quem passa por si. Um dos momentos registados mostra pai e filho de 7 anos a caírem ao chão. Pai e filho, Abdul Mohsen e Zaid, que constam na fotografia que ilustra este artigo, conseguiram asilo em Espanha, onde o homem é hoje treinador de futebol, conta a BBC. 

À CNN, em 2015, Abdul Mohsen recordaria o episódio. "A indiferença das autoridades húngaras conduziu aquela situação, fazendo com que os migrantes rompessem com a barreira policial e procurassem a vila mais perto, a cerca de três quilómetros."

Na Hungria, a gestão da crise de refugiados tem sido tudo menos fácil e pacífica. Em 2015, o país declarou estado de emergência para impedir a entrada de refugiados. Este 2017, a Hungria aprovou um plano para deter imigrantes e refugiados em campos junto das suas fronteiras. A medida foi considerada uma violação da lei da União Europeia. À data, as Nações Unidas avisaram que a decisão teria um "impacto físico e psicológico terrível" nos que procuram asilo político. Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, exigiu ainda a contribuição da União Europeia com uma verba de 400 milhões de euros para ajudar a pagar a construção de uma vedação ao longo de toda a sua fronteira.

Já este ano, o Governo húngaro recusou garantir alimentação aos requerentes de asilo que tenham visto o seu pedido recusado para os obrigar a regressar à Sérvia, abdicando do direito de recorrerem da decisão. Meses mais tarde, no Dia Mundial dos Refugiados, o Parlamento húngaro aprovou um pacote legislativo que tornou crime prestar auxílio a quem entre no país sem documentos legais — mesmo que para pedir asilo.

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