Executada indonésia que matou patrão saudita para não ser violada

Tursilawati, com cerca de 30 anos e um filho, passou sete anos na cadeia. Tinha chegado à Arábia Saudita há apenas nove meses quando foi presa, em 2011.

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A jovem indonésia foi presa apenas nove meses depois de ter chegado a Taif para trabalhar como empregada doméstica DR

O Governo da Indonésia exigiu esta quinta-feira saber por que é que a Arábia Saudita não o notificou da execução de Tuti Tursilawati, uma empregada doméstica condenada por ter morto o seu patrão – segundo uma organização não-governamental indonésia que se ocupa dos direitos dos emigrantes, a Migrant Care, fê-lo em legítima defesa, quando o saudita a tentava violar.

Tursilawati, com cerca de 30 anos e um filho, passou sete anos na cadeia até ser executada, no início da semana. Tinha chegado à Arábia Saudita há apenas nove meses quando foi presa, em 2011. A Justiça considerou que assassinou o patrão de forma premeditada na casa onde trabalhava, na cidade de Taif.

Anis Hidayah, fundadora da Migrant Care, disse ao jornal The New York Time que as mulheres como Tursilawati a trabalharem em casas na monarquia ou noutros países da região enfrentam com frequência abusos sexuais e várias formas de maus-tratos, para além de trabalhem longas horas e de não terem, muitas vezes, um alojamento adequado.

Há onze milhões de trabalhadores estrangeiros de mais de 100 países na monarquia agora governada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Destes, 2,3 milhões trabalham como internos e a maioria são empregas domésticas.

Para além de poderem ser explorados através do sistema de vistos patrocinados (conhecido como kafala), usado em vários países do Golfo Pérsico, enfrentam muitas dificuldades para entender o sistema judicial saudita, orientado por uma interpretação rígida da lei islâmica (sharia). Ainda a semana passada, 19 trabalhadores das Filipinas foram detidos durante uma festa – já estão em liberdade mas ainda podem enfrentar acusações de interacção pública entre homens e mulheres sem relações de parentesco, o que é proibido no país fundado e governado pela família Al-Saud.

Com Tursilawati são quatro os indonésios executados desde 2015 na Arábia Saudita. Segundo o jornal Jakarta Post, em Março havia 20 indonésios no corredor da morte no país.

Num comunicado, o Presidente indonésio, Joko Widodo, diz ter telefonado ao ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, para se queixar da falta de aviso sobre a execução de Tursilawati. O seu caso, aliás, foi tema de conversa entre ambos quando Jubeir visitou a Indonésia, a semana passada. Widodo garante ainda ter discutido a situação desta jovem repetidas vezes com diferentes dirigentes da Arábia Saudita, incluindo o rei Salman e Mohammed bin Salman, que apesar de ainda não ser monarca é que exerce o poder.

Este caso surge numa altura em que o príncipe enfrenta uma onda de críticas internacionais por causa do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, que segundo a Procuradoria-geral da Turquia foi estrangulado assim que entrou no consulado saudita de Istambul, a 2 de Outubro. Khashoggi, respeitado pensador árabe, a viver há um ano nos Estados Unidos, onde escrevia textos de opinião no diário Washington Post, só foi ao consulado para conseguir documentos necessários ao casamento com a sua noiva turca.

“Pela enésima vez, a Arábia Saudita violou a ética diplomática dos dois países em vez de apostar no respeito pelos direitos humanos”, criticou o director da Amnistia Internacional na Indonésia, Usman Hamid, ao saber da execução de Tursilawati.

Nas contas da Amnistia, Riad executou 146 pessoas em 2017 (o terceiro país com mais execuções, atras da China e do Irão). Mas Hamid não deixou de notar que o uso da pena de morte por parte da Indonésia prejudica a sua posição nesta disputa: “Não é lógico que a Indonésia peça a outro país para libertar um dos seus cidadãos do corredor na morte quando a própria Indonésia ainda pratica esta punição violenta e desumana”.

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