Medicamentos fazem Estado poupar 560 milhões de euros por ano

Doenças mais controladas levam a menos internamentos e consultas, segundo estudo da Apifarma. Medicamentos que foram sendo disponibilizados no mercado evitaram mais de 110 mil mortes desde 1990. “Portugal é dos países mais lentos a aprovar novas tecnologias."

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JOAO GUILHERME

Os medicamentos que chegaram ao mercado nos últimos 25 anos, ou que se popularizaram nesse período, permitiram “poupanças de mais de 560 milhões de euros anuais no sistema de saúde, resultantes de menores taxas de hospitalização e prevenção de outros custos directos”, conclui o estudo O Valor do Medicamento em Portugal. O trabalho, que é apresentado nesta terça-feira, em Lisboa, salienta ainda a melhoria da qualidade de vida que estes fármacos trouxeram aos doentes, com mais de 110 mil mortes evitadas desde 1990. Um número comparável “à população total do município de Setúbal em 2017”.

O estudo da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma), desenvolvido em colaboração com a consultora McKinsey & Company, analisou os impactos humanos e sociais que os medicamentos tiveram de 1990 a 2015 em oito doenças que afectam cerca de 20% da população em Portugal: VIH

sida, esquizofrenia, artrite reumatóide, diabetes, cancro do pulmão de células não pequenas, cancro colo-rectal, insuficiência cardíaca crónica e doença pulmonar obstrutiva crónica.

O presidente da Apifarma afirma que era “um desejo de longa data” da associação fazer um estudo sobre o valor dos medicamentos. Os números a que chegaram, sublinha, são “impressionantes”. “Este estudo dá uma ideia clara que se há área onde parece fazer sentido investir é na tecnologia de saúde, especialmente nos medicamentos”, diz João Almeida Lopes.

A equipa que desenvolveu o estudo explicou ao PÚBLICO que o método usado para calcular o impacto dos medicamentos inovadores passou por “identificar pontos de inflexão nas estatísticas reais de mortalidade” e nas relativas aos “anos de vida não saudável por cada doente” e “analisar que inovações poderiam estar por detrás dessas inflexões”.

Para chegar aos 560 milhões de euros de custos evitados ao sistema de saúde avaliaram-se “diversos estudos nacionais e internacionais, comparando, por exemplo, a redução do número de hospitalizações como resultado do uso de medicamentos inovadores”. Foram considerados inovadores os fármacos que, tendo entrado no circuito de distribuição entre 1990 e 2015 (ou que se vulgarizaram nessa altura), prolongaram a vida dos doentes ou reduziram o impacto da doença na realização de tarefas diárias. Vários peritos foram ouvidos e várias bases de dados consultadas para apoiar a definição, sublinham.

Internamentos evitados

Em 2015, na diabetes, por exemplo, pouparam-se 102 milhões de euros em hospitalizações, com um melhor controlo da glicemia, e 222 milhões noutros custos médicos directos, como cirurgias e medicação para o pé diabético ou retinopatia diabética. Na esquizofrenia, a utilização de antipsicóticos permitiu poupar, nesse mesmo ano, 72 milhões de euros em hospitalizações. Já na artrite reumatóide, a utilização de medicação resultou este ano numa poupança de 86 milhões de euros, uma vez mais devido a internamentos que não foram necessários.

Almeida Lopes explica que a ideia “foi ter uma visão global do que os medicamentos representam para a economia e para as pessoas (que podem ter uma vida mais activa e produtiva), e as poupanças que daí derivam”. “O que não faz sentido é não tratar as pessoas atempadamente”, acrescenta. Segundo o estudo, o acesso dos doentes a medicamentos inovadores em Portugal pode demorar até 38 meses.

“Portugal é dos países mais lentos a aprovar novas tecnologias. Se não temos dúvida que não podem aprovar-se medicamentos sem uma avaliação rigorosa de custos e benefícios, não podemos aceitar que, face a um sistema que sabemos que está sistematicamente subfinanciado, acabem por se comprometer as aprovações em termos de prazo, porque o sistema está enfermo dessa suborçamentação”, diz o presidente da Apifarma, referindo que, apesar do aumento registado, o orçamento da Saúde para 2019 continua a ser insuficiente.

“É muito claro que faz sentido prevenir, diagnosticar e tratar o mais rapidamente possível com a tecnologia que mais se adaptar e melhores resultados der”, acrescenta. “Se a tecnologia mais recente oferece mais resultados, tenho de a usar. É isso que ressalta do estudo.”

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