Portugal entre o institucional e a preocupação quanto à eleição de Jair Bolsonaro

Presidente, PS e partidos à direita pouco sairam da linha institucional. Mais à esquerda, a preocupação com a eleição de Bolsonaro é grande. A maçonaria também não gostou.

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Marcelo espera que Portugal e Brasil se continuem a dar bem LUSA/PAULO NOVAIS

Os partidos e instituições políticas portugueses dividem-se entre posições institucionais e uma grande preocupação com a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência brasileira.

Marcelo Rebelo de Sousa, que logo na noite de domingo enviou uma nota de felicitações ao presidente eleito, veio ontem afirmar que Portugal e Brasil “têm de se dar bem”. E considera "fundamental que o Brasil esteja empenhado no novo ciclo" que está em preparação na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Questionado pelos jornalistas sobre se Portugal se vai relacionar com o Brasil com o mesmo entusiasmo que tinha até aqui, o Presidente da República respondeu que "os chefes de Estado não têm de ter entusiasmo ou não ter entusiasmo, esse é um problema dos cidadãos", e que a sua função é "defender, naturalmente, os respectivos povos".

Depois da presidência de Michel Temer ter mostrado pouco empenhamento na CPLP, o chefe de Estado português considera ser “fundamental” que o Brasil tenha “um papel importante nesta comunidade. "Há uma mudança de testemunho no fim deste ano, que já começou, do Brasil para Cabo Verde, na presidência, e vai continuar com a passagem do secretariado executivo de São Tomé e Príncipe para Portugal, e a preparação agora de um novo ciclo na CPLP, em que é fundamental que o Brasil esteja empenhado. Espero bem que aconteça", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Também António Costa enviou, no domingo, uma mensagem a cumprimentar Bolsonaro pela sua eleição. Ontem, o PS emitiu uma nota ligeiramente menos institucional, assinalando “a importância do respeito pelos princípios do estado de direito democrático, da igualdade e da tolerância no novo ciclo político que terá início no Brasil”.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse que Portugal tem “todo o empenhamento em continuar o mesmo nível de relacionamento, seja no plano bilateral, seja no plano multilateral”.

Santos Silva diz não ter "nenhuma razão para pensar" que o empenhamento na relação bilateral não seja o mesmo, esperando que "mal haja um novo Governo no Brasil, continuará certamente a boa prática" de "contactos imediatos ao mais alto nível".

Palavras duras vieram da parte de Francisco Assis. Numa nota do grupo socialista do PE, Assis lembra a eleição para Presidente do Brasil “de um homem que nunca escondeu as suas convicções de extrema-direita”, o que deixa estes eurodeputados “profundamente preocupados”. “As declarações que proferiu ao longo da campanha eleitoral são demasiado graves para poderem agora ser apagadas ou ignoradas”, afirmou Assis que esteve no Brasil em apoio ao candidato do PT, Fernando Haddad.

PSD e CDS institucionais

PSD e CDS alinharam pela cartilha institucional. O dirigente social-democrata Tiago Moreira de Sá defendeu que a eleição de Bolsonaro em nada altera o relacionamento bilateral e que Portugal deve manter "óptimas relações" com o Estado brasileiro, "independentemente de quem é o seu Presidente".

“Portugal mantém uma relação bilateral muito importante com o Brasil assente na língua comum, em fortes laços históricos, culturais e económicos. (…) Fazemos votos para que essas relações continuem no quadro do relacionamento entre dois estados de direito”, acrescentou, por sua vez, o CDS, através de uma nota enviada à comunicação social

Esquerda preocupada pede vigilância

Já da esquerda vieram palavras de grande preocupação. Joana Mortágua, deputada do BE, apelou mesmo a uma “vigilância total" por parte da comunidade internacional perante uma possível "degradação democrática" no Brasil.

O PCP, numa nota enviada aos órgãos de comunicação social, saudou “os comunistas e as demais forças democráticas e progressistas brasileiras que convergiram na candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila”, sublinhando as “condições extraordinariamente difíceis” da candidatura. “Um resultado que é, em si mesmo, um valor para continuar a enfrentar com determinação a ameaça fascista e defender a democracia”, acrescenta a nota.

Quem também manifestou preocupação com o resultado da eleição brasileira foi o Grande Oriente Lusitano (GOL), a mais antiga organização maçónica portuguesa. Através de uma nota pública, o GOL, que habitualmente se mantém em silêncio sobre questões políticas, repudiou "os valores e princípios que estiveram na base da eleição presidencial", manifestando "solidariedade com os irmãos brasileiros".

Num comunicado assinado pelo grão-mestre, Fernando Lima, o GOL diz-se "defensor da liberdade e dos valores genuinamente democráticos" e manifesta-se solidário com "os irmãos brasileiros que sempre lutaram para que o Brasil seja um país democrático e amante da liberdade". O GOL sublinha ainda que os maçons "defensores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade" não vão deixar de denunciar e combater todos quantos manifestam um "retrocesso civilizacional" nos seus discursos, sem nunca referir o nome de Bolsonaro. Com Lusa

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