Alavés, a equipa low cost que Abelardo colocou no topo

Após um excelente trabalho no Sp. Gijón, o antigo defesa do Barcelona e da selecção espanhola volta a ter sucesso no País Basco e afirma-se como um dos mais promissores treinadores do futebol europeu.

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Tem um orçamento dez vezes inferior ao Barcelona ou Real Madrid e gastará esta época metade do que vão despender o Athletic Bilbau e a Real Sociedad, os dois “grandes” do País Basco, mas ao fim das primeiras dez jornadas, o Alavés é a equipa-sensação da Liga espanhola. Com um plantel low cost para a realidade do futebol de Espanha — os reforços são quase todos jogadores emprestados —, o clube de Vitória está em segundo lugar, a apenas um ponto do líder Barcelona, clube onde se destacou no final da década de 90 Abelardo Fernández, treinador do Alavés e principal responsável pelo actual sucesso dos bascos.

28 de Outubro de 2017: concluídas as dez primeiras jornadas, o Alavés é último classificado da Liga espanhola, com apenas uma vitória e nove derrotas. 28 de Outubro de 2018: concluídas as dez primeiras jornadas, o Alavés é vice-líder da Liga espanhola, a um escasso ponto do campeão Barcelona. O que mudou no clube de Vitória nestes últimos 365 dias? Abelardo Fernández.

Com um currículo como jogador de respeito — perto de 60 internacionalizações por Espanha e 385 jogos na Liga espanhola (179 no Sp. Gijón; 178 pelo Barcelona; 28 pelo Alavés) —, Abelardo estava, há pouco mais de um ano, desempregado. Após terminar a carreira como atleta, aos 33 anos, no Alavés, devido a uma lesão no joelho, o antigo defesa central esteve quase cinco anos afastado do futebol, até que, em 2008, foi contratado para treinar a equipa B do Sp. Gijón, o clube da sua cidade natal.

A primeira experiência, no entanto, não correu bem: cerca de ano e meio depois, foi dispensado. Seguiram-se passagens por modestos clubes asturianos (Candás e Tuilla), até que, na época 2012-13, regressou a Gijón, onde voltou a assumir a equipa B. Desta vez, os bons resultados conseguidos por Abelardo não passaram despercebidos aos responsáveis pelo clube das Astúrias e, com o Sp. Gijón em crise desportiva e financeira, no início de Maio de 2014, Abelardo assumiu o comando de um dos históricos do futebol espanhol.

No 8.º lugar e com apenas cinco jogos até ao final da II Liga espanhola, Abelardo somou três vitórias e dois empates, garantindo a 5.ª posição e um lugar no play-off de promoção, onde acabou derrotado pelo Las Palmas. O desempenho valeu-lhe a renovação de contrato, mas com o clube asturiano atolado em dívidas e proibido de contratar jogadores, Abelardo tinha pela frente um enorme problema. Mas acabou por conseguir o que para muitos parecia impossível: com um plantel formado maioritariamente por ex-jogadores da equipa B e dos escalões de formação, o Sp. Gijón terminou no 2.º lugar, a apenas um ponto do Betis, e garantiu o regresso à elite do futebol espanhol.

A subida não atenuou o cenário de crise em Gijón. Penalizados pelas dívidas acumuladas, os “rojiblancos” apenas foram autorizados a contratar três jogadores sub-23 por empréstimo: Sanabria, Halilovic e Mascarell. Abelardo, no entanto, conseguiu outro milagre. Após uma época que arrancou com um empate contra o Real Madrid de Cristiano Ronaldo, o Sp. Gijón garantiu a permanência na última jornada, depois de derrotar o Villarreal. No entanto, na temporada seguinte, após apenas três vitórias em 20 partidas, Abelardo despediu-se dos adeptos em lágrimas: “Não choro por deixar de ser treinador, mas pelo carinho que tenho pelo Sporting [de Gijón]. Em Maio, festejarei a salvação como adepto.” Porém, sem Abelardo, o Sp. Gijón não se salvou.

Regresso ao País Basco

Após a saída do clube do coração, Abelardo disse que queria descansar e continuar a sua formação como treinador. Durante praticamente um ano, o asturiano esteve longe dos relvados. O regresso ao banco aconteceria no Alavés, o clube onde tinha terminado a carreira de jogador.

Último classificado, com tantos treinadores como triunfos (dois) nas 13 primeiras jornadas, o clube de Vitória anunciou a 1 de Dezembro de 2017 que Abelardo, o terceiro técnico da temporada, tinha “a experiência necessária para enfrentar o enorme desafio de manter o clube”. E o asturiano voltou a surpreender. Após pegar numa equipa com seis pontos em 13 jogos, Abelardo fez 47 pontos nas 38 jornadas seguintes, terminando o campeonato num cómodo 14.º lugar. A média de pontos alcançada pelo Alavés sob comando de Abelardo daria aos bascos o 5.º lugar, apenas atrás de Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid e Valência.

O sucesso valeu ao asturiano a renovação, mas após perder jogadores importantes (Munir El-Haddadi, Alfonso Pedraza e Alexis Ruano) e sem recursos para contratações sonantes, Abelardo socorreu-se de empréstimos para fortalecer o plantel: Jony Rodríguez, Calleri, Brasanac e Borja Bastón. O início até nem foi brilhante — derrota, por 3-0, em Barcelona; empate a zero em casa com o Betis —, mas a partir daí o Alavés embalou para uma sequência de excelência. Com seis vitórias nas últimas oito jornadas, uma delas contra o Real Madrid — a primeira em 87 anos —, os bascos colocam-se em bicos de pés no meio dos gigantes espanhóis e Abelardo afirma-se como um dos mais promissores treinadores do futebol europeu.

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