Vem aí mais um Porto/Post/Doc para nos pôr a "ver cinema em conjunto"

Com 14 filmes a concurso – dois deles portugueses – para juntar a uma programação feita a pensar no espectador, a quinta edição do festival, que decorre de 24 de Novembro a 2 de Dezembro, tem agora programa completo.

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O Porto/Post/Doc abre com Kaiser: The Greatest Footballer Never to Play Football, documentário de Louis Myles sobre o vigarista brasileiro Carlos Kaiser DR

Pelo quinto ano consecutivo, o Teatro Municipal do Porto – Rivoli e o Passos Manuel preparam-se para receber o Porto/Post/Doc, cuja programação completa é anunciada esta manhã. O festival, que decorrerá este ano de 24 de Novembro a 2 de Dezembro, alarga-se desta vez também ao Cinema Trindade, onde de resto se fará a abertura com Kaiser: The Greatest Footballer Never to Play Football, documentário de Louis Myles sobre o vigarista brasileiro Carlos Kaiser; o encerramento fica a cargo de MATANGI/MAYA/M.I.A., de Steve Loveridge, sobre a cantora M. I. A., enquanto na véspera a entrega de prémios será rematada com a exibição de Sign o’ the Times, o filme-concerto de Prince.

Desde que arrancou em 2014, o Porto/Post/Doc já conseguiu encontrar o seu espaço – as últimas duas edições atingiram os dez mil espectadores e as sessões semanais Há Filmes na Baixa!, no Passos Manuel, duplicaram a sua ocupação média –, mesmo que o seu director, Dario Oliveira, defenda que este é ainda um festival “em afirmação”. A programação é limitada a uma centena de filmes “para as pessoas poderem fazer um percurso pessoal ao longo das secções, para poderem encontrar o festival, voltar e não se sentirem perdidas ou esmagadas”. Em última análise, esclarece, o foco tem de estar no espectador: “Definimos sempre primeiro o tema, que é transversal à programação, e depois deixamos que o festival aconteça de modo a que esse tema faça sentido para o público, que nunca vemos como anónimo, mas antes como participante."

E o tema para 2018 são as “ficções do real”, “questões de que todos os festivais passaram a falar”. “Não inventámos nada; apenas estamos a reflectir sobre o que é o cinema contemporâneo, a voltar à história do cinema e a explicá-la de forma mais consistente e apoiada noutros contextos”. As “ficções do real” desdobram-se em três eixos principais, a começar pela competição, dividida entre o Rivoli e o Trindade e este ano alargada para 14 filmes porque, "pela primeira vez", há duas obras portuguesas a concurso, Sobre Tudo Sobre Nada, de Dídio Pestana, e Hálito Azul, de Rodrigo Areias. Estarão ao lado de filmes assinados por alguns dos mais importantes cineastas contemporâneos que exploram deliberadamente as fronteiras entre ficção e documentário: Bisbee ‘17, de Robert Greene, Putin’s Witnesses, de Vitaly Mansky, Donbass, de Sergei Loznitsa, A Family Tour, de Ying LiangCentral Airport, de Karim AïnouzBecoming Animal, de Emma Davies e Peter Mettler, Closing Time, de Nicole Vögele, Fausto, de Andrea BussmannHamada, de Eloy Dominguez Serén, Kamagasaki Cauldron War, de Leo Sato, Obscuro Barroco, de Evangelia Kranioti, e Tremor, de Annik Leroy.

O segundo eixo são as retrospectivas já anunciadas, este ano dedicadas ao argentino Matías Piñeiro, ao inglês Chris Petit e, sobretudo, à dupla António Reis/Margarida Cordeiro – que contará com a exibição de uma raridade, Painéis do Porto, curta de 1963 realizada por Reis e César Guerra Leal e recentemente digitalizada pela Cinemateca Portuguesa, e será acompanhada por uma exposição multidisciplinar no Museu da Faculdade de Belas Artes, entre 22 e 30 de Novembro, Como o Sol/Como a Noite, com contribuições de Daniel Blaufuks, Rui Chafes, André Cepeda ou João Salaviza e Renée Nader Messora.

O terceiro eixo é o programa de debates do Fórum do Real, este ano reformulado, e que incluirá três painéis a decorrer ao fim da tarde no Rivoli e um workshop liderado pela investigadora, académica e realizadora britânica Laura Mulvey.

Na secção de música Transmission, cuja programação também já tinha sido divulgada, Dario Oliveira destaca ao PÚBLICO o filme-concerto de Ryuichi Sakamoto rodado na Park Avenue Armory de Nova Iorque. Já na secção Cinema Falado, dedicada à produção nacional, passarão Terra Franca, de Leonor Teles, ou Extinção, de Salomé Lamas, mas também o documentário de Boris Nicot sobre o produtor Paulo Branco, Deux, trois fois Branco, e o lendário Chico Fininho de Sério Fernandes. E aponte-se ainda a projecção de Sarapanta, documentário de Cristiano Saturno sobre as auroras boreais, numa sessão especial a decorrer no Planetário do Porto.

Há sete filmes portugueses de escola na competição Cinema Novo (entre os quais Vacas e Rainhas, de Laura Marques, recém-premiado no Doclisboa) e outras duas dezenas de curtas de escola na School Trip, secção que corresponde ao projecto educativo do Porto/Post/Doc, e que é para Dario Oliveira a alma do certame. “Não queremos que o público das escolas venha só às sessões que lhe são dedicadas. Queremos que venham ao festival de outra maneira e sintam que o festival é deles. Estamos a fazer a maior aposta que um festival pode fazer, que é criar e dar continuidade a um público que regresse nas próximas edições.”

O importante, para Dario Oliveira, é tornar o Porto/Post/Doc numa “oportunidade para ver cinema em conjunto com outras pessoas”. “É uma necessidade de voltar a dar cinema à cidade, ao Porto operário como ao Porto burguês como ao Porto de nova geração, da universidade, da periferia. A uma comunidade de amantes do cinema.”

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