Paulo Portas não vê nada "eticamente reprovável" em Bolsonaro

O ex-governante português considera que a ideia de Bolsonaro como "ultraliberal" será exagerada e que a primeira medida de Haddad teria sido a liberdade de Lula. Mas expressou preocupação com a “aliança com igrejas e seitas evangélicas”.

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O ex-líder do CDS comentou as eleições brasileiras nesta segunda-feira e não votaria em Haddad, cujo partido culpa pela ascensão de Bolsonaro Enric Vives-Rubio

O ex-líder do CDS e ex-vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, procurou e não encontrou “nos 27 anos de vida pública do capitão Bolsonaro nenhum indicador eticamente reprovável em termos pessoais”. O antigo governante português esteve esta segunda-feira na TVI para comentar a vitória do candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, e disse que o antigo militar estava “a ser julgado preventivamente”.

Eleito na segunda volta, depois de uma campanha feita através das redes sociais e sem comparecer a nenhum debate com os restantes rivais políticos, Bolsonaro conseguiu 55,1% dos votos derrotando o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, que se ficou por 44,9% dos votos.

Mas para Paulo Portas, Haddad também seria uma escolha problemática. Para o antigo governante, “a primeira coisa que ele faria era libertar Lula [da Silva]”.

“A ideia de que Bolsonaro é um Presidente ultraliberal é uma ideia muito provavelmente exagerada”, continua Portas. “Bolsonaro é homem do exército na sua formação. O exército brasileiro sempre foi nacionalista, proteccionista e foi quem guiou o Brasil para as políticas de desenvolvimento nacional e políticas de indústria nacional”, vincou.

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“Acho é que o PT, depois PMDB e o PSDB, é elevadamente responsável pela emergência de Bolsonaro.  Em circunstâncias normais ele não teria emergido. Ele está há 27 anos na política e nunca deixou de ser uma pessoa residual do ponto de vista do sistema”, avaliou Portas.

O ex-vice-primeiro-ministro elogiou o primeiro mandato do ex-Presidente Lula da Silva, mas considera que o segundo mandato foi “um desastre” que se tornou “quase incontornável e muito sério com [a presidência de] Dilma”. Portas citou ainda os níveis da dívida, desemprego e taxas de juro dos anteriores governos como alguns dos responsáveis pelos resultados deste domingo.

Questionado sobre qual seria a sua intenção de voto entre os dois candidatos, Portas optou por uma solução semelhante à escolhida pela sua sucessora, Assunção Cristas, e não escolheu nenhum dos dois. “Faço poucas concessões com o meu voto, até porque me habituei durante muitos anos a votar em mim próprio. Acho que se deve ter alguma humildade quando se trata de um país estrangeiro, embora um país que nos gostamos muito, para não correr o risco de parecer que há uma interferência”, justificou. Paulo Portas citou o ex-Presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, que rejeitou o apoio aos dois candidatos. “Entre a reacção e a corrupção ninguém me pode obrigar a escolher”, parafraseou Portas.

Portas teme alianças com igrejas e seitas

O ex-governante acredita que Bolsonaro estará limitado porque “vai ter de negociar com muitas forças parlamentares e ter de fazer muitos compromissos”.

No entanto, Portas expressou preocupação com a “aliança com igrejas e seitas evangélicas” que Bolsonaro travou, acrescentando que nesta lista existem “muitas pessoas que não são pessoas decentes”.

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