O acto patriótico de Hasan Minhaj no Netflix

Patriot Act faz do ex-correspondente do Daily Show o primeiro apresentador indiano-americano de um talk show de late night.

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Hasan Minhaj não é como os outros apresentadores de talk shows: não veste fato e permanece de pé Netflix

Este ano, Michelle Wolf apresentou o jantar dos correspondentes da Casa Branca. Pouco depois, estreou The Break, o seu entretanto cancelado talk show no Netflix. Hasan Minhaj, que foi correspondente do The Daily Show ao mesmo tempo que ela (foi aliás o último a ser contratado por Jon Stewart antes de se despedir do programa em 2015), tinha apresentado esse jantar em 2017 e demorou um bocadinho mais a ter o seu próprio talk show no Netflix. É o primeiro cómico indiano-americano a ter um talk show para o horário late night nos Estados Unidos, formato que tem sido historicamente dominado por homens brancos.

Patriot Act estreou-se este domingo, com dois episódios, na plataforma de streaming, a mesma pela qual saiu, em Maio do ano passado, o seu especial Homecoming King, sobre crescer na Califórnia como filho de imigrantes indianos e num clima de islamofobia, especialmente no pós-11 de Setembro.

O nome do programa, Patriot Act, refere-se à lei homónima do Congresso norte-americano aprovada após os ataques às Torres Gémeas para combater o terrorismo – e é também o título de uma óptima faixa do rapper Heems (ex-Das Racist), que tal como Minhaj é de origem indiana e fez arte a lidar com o racismo de que foi alvo no pós-11 de Setembro. E, logo aí, demonstra a ligação pessoal que Minhaj tem aos temas que são tratados. O apresentador faz parte de uma fornada de novas vozes de origem sul-asiática que estão a ganhar destaque na comédia norte-americana, com nomes que vão de Aparna Nancherla a Hari Kondabolu, passando por Kumail Nanjiani.

A julgar pelos primeiros episódios, o cómico decidiu (tal como John Oliver, outro ex-correspondente do Daily Showno seu Last Week Tonight) dedicar o grosso de cada programa a um tema específico, mais do que analisar ao minuto a actualidade mediática. No caso da estreia, o tópico é a acção afirmativa, enquanto no episódio seguinte o foco é a Arábia Saudita, com outro segmento mais curto a criticar norte-americanos de origem sul-asiática que na opinião de Minhaj estão do lado do mal, como Bobby Jindal ou Dinesh D'Souza. A Arábia Saudita é um assunto que John Oliver também abordou recentemente, mas a ligação pessoal que Hasan Minhaj, como muçulmano, tem a essa matéria faz toda a diferença.

Já para não dizer que o formato não é igual ao de um talk show tradicional. O cómico, que começou a fazer stand-up inspirado pelo clube de debates que tinha na escola, está em pé em cima do palco, sem se sentar nem vestir um fato, com a sua poupa sempre impecável – Hasan Minhaj tem o melhor cabelo de um apresentador da late night. Atrás dele há projecções daquilo que está a ser falado, num cenário que diz ser aquilo que aconteceria se Michael Bay fizesse uma apresentação em PowerPoint.

Por vezes, e até por causa dessa ligação aos debates e ao PowerPoint, o discurso do cómico pode tornar-se demasiado didáctico e há alguns nervos visíveis (e totalmente compreensíveis) nestes primeiros dois episódios, mas há sempre uma piada ao virar da esquina para aligeirar tudo. Além disso, nenhum talk show começou perfeito à primeira, e este tem muito por onde crescer.

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