Estes homens são do Norte

Já está disponível no Netflix a segunda temporada de Norsemen, a comédia norueguesa sobre vikings falada em inglês.

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Norsemen parece comédia inglesa, mas não é por ser falado em inglês DR

Haverá muita gente que terá ido ao engano quando resolveu espreitar Norsemen, cuja segunda temporada de seis episódios estreou há poucas semanas no Netflix. Mais uma coisa sobre vikings, ultra-violenta, cheia de sangue e vísceras, muito sisuda e igualzinha àquela série que se chama Os Vikings, talvez uma variação nórdica e sem dragões de Guerra dos Tronos, terão pensado esses espectadores incautos. Meia hora depois do primeiro episódio da primeira temporada e a avaliação terá sido esta: é sobre vikings, tem sangue e vísceras, é ultra-violenta. E é uma comédia.

Norsemen é um produto singular. Foi produzido na Noruega e todos os episódios têm duas versões, uma falada em norueguês para consumo interno, outra falada em inglês para a audiência internacional, a que é distribuída para o mundo pelo gigante norte-americano do streaming. Mas não é preciso fazer um exercício de comparação entre as duas versões para se perceber o triunfo cómico que são estes homens do Norte, vikings sanguinários que discutem a moda dos capacetes de guerra – isto dá toda uma discussão sobre a utilidade de cornos em capacetes e de como isso é uma afirmação de ousadia "fashionista" contra a opinião conservadora de que cornos nos capacetes é uma coisa ridícula e que nunca estará na moda.

Nem todos são sanguinários que só pensam em pilhagens e é essa justaposição que faz todo o humor de Norsemen, o de colocar situações do mundo contemporâneo naquela aldeia do Norte da Europa do Século VIII excepcionalmente reconstituída em termos visuais, com tudo o que associamos aos vikings. O irmão mais novo do chefe da aldeia, por exemplo, sonha em transformar a sua comunidade numa capital cultural e irá fazê-lo com a ajuda de um director criativo, um escravo romano capturado. Também há um grupo de discussão de poesia e também há quem questione as limitações de um estilo de liderança baseado no medo.

Norsemen (Vikingane, no original) parece comédia inglesa, mas não é por ser falado em inglês. É um humor muito seco transmitido de forma absolutamente impassível, a fazer lembrar The Office, e também é absurdo como tudo o que os Monty Python fizeram, para além dos tais anacronismos que fazem muito lembrar Asterix. Se isto é o standard do humor nórdico (e não conhecemos muitos exemplos), é brilhante.

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