O Futuro da Mobilidade

Diogo Almeida, da Estratégia Corporativa da Galp e orador no Open Day Público “Mobilidade Sustentável”, que decorre a 30 de Outubro no CCB, partilha a sua visão sobre o futuro da mobilidade.

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Por Diogo Almeida, Estratégia Corporativa da Galp

No último século a simbiose entre o petróleo e o automóvel provocou uma forte alteração na relação do homem com o espaço e o tempo, transformando a noção de velocidade e alimentando as aspirações de liberdade individual. Passou a ser possível percorrer longas distâncias em poucas horas, aproximando pessoas e bens e tornando o mundo num lugar mais pequeno.

A Galp teve a sorte e o engenho de ter sido um parceiro dos portugueses ao longo de todo este caminho, produzindo, distribuindo e abastecendo de energia os carros em que famílias inteiras iam de férias no Verão, os pesados de passageiros em que se deslocavam para as escolas e para as fábricas, os camiões que traziam até si produtos de todo o mundo e os aviões que os levaram a destinos exóticos na sua lua-de-mel.

Hoje, estando a sociedade confrontada com as consequências do seu próprio desenvolvimento, surgiu a possibilidade tecnológica e a necessidade ambiental de promover alterações nos nossos padrões de mobilidade, em especial em centros urbanos tendencialmente maiores e mais densos, melhorando a nossa qualidade de vida e permitindo uma mais adequada utilização dos recursos.

Entrámos numa fase de transição e nas próximas duas décadas assistiremos à implementação de múltiplas soluções que transformarão o ecossistema da mobilidade, cruzando diferentes setores e desafiando conceitos do passado. Esta transformação, que apresentará diferentes matizes em função das características dos mercados em que for ocorrendo, deverá assentar em três eixos estruturais.

Em primeiro lugar, a conectividade. Num mundo cada vez mais digital, todos nós tenderemos a sinalizar a nossa presença de forma ininterrupta, georreferenciando a nossa localização e permitindo a comunicação com todos os equipamentos de suporte à mobilidade. Todos estes pontos comunicarão entre si de forma dinâmica, suportados por plataformas integradoras que procurarão facilitar a mobilidade dos cidadãos e reduzir os tempos ociosos e custos a ela associados, naquilo que hoje se denomina por soluções ‘Mobility as a Service’ (MaaS).

Em segundo, a partilha de recursos. A digitalização e a conectividade deverão promover incrementalmente uma maior optimização de todos os elementos do ecossistema de mobilidade, reduzindo o peso da propriedade individual de um automóvel para utilização exclusiva e potenciando uma maior penetração das soluções de partilha, sejam de ride hailing, de car sharing, de transportes coletivos ou de soft mobility, como as bicicletas ou trotinetes eléctricas.

Em terceiro lugar, os veículos autónomos. Prevê-se que nos próximos cinco anos iniciem operação comercial vários tipos de veículos autónomos, que deverão ser primeiro introduzidos em ambientes mais controlados, como aeroportos ou campus universitários. A massificação da sua utilização representará uma revolução social e económica, com enormes ganhos de produtividade para a sociedade mas também enormes desafios de reciclagem laboral.

Não se pode falar do futuro da mobilidade sem identificar o suporte energético que a permitirá materializar. Se durante os últimos cem anos os veículos a combustão interna dominaram a mobilidade, com excepção da ferrovia, a mobilidade futura deverá ser suportada por uma maior variedade de alternativas energéticas, em função dos perfis de consumo e das suas características técnicas.

Os veículos eléctricos, apesar das virtudes ambientais que podem apresentar, têm limitações ao nível da autonomia das baterias que poderão impedir a sua utilização universal, nomeadamente no transporte pesado e de longa distância.

Actualmente, o hidrogénio volta a ser visto como uma solução de médio prazo para este problema, permitindo o armazenamento de energia e níveis de autonomia mais próximos dos das viaturas convencionais. Há ainda quem aposte na produção de combustíveis sintéticos a partir de fontes renováveis de energia, uma solução que permitiria cumprir com as metas ambientais sem investimentos adicionais na cadeia logística e na indústria automóvel. Será, portanto, natural que o mercado assista a uma concorrência entre diversos tipos de soluções energéticas.

Todas estas transformações apresentam grandes desafios para os vários sectores que se cruzam no ecossistema da mobilidade e as melhores respostas irão surgir do trabalho conjunto e da construção de parcerias que melhor satisfaçam as verdadeiras necessidades dos clientes. É com esse objectivo que estamos a preparar a nossa participação no futuro da mobilidade.