O Brasil (mais ou menos) maravilhoso também se conta aos quadradinhos

 A 29.ª edição do festival AmadoraBD arranca este fim-de-semana com os olhos postos no Brasil.

André Diniz, autor brasileiro de banda desenhada, vive há três anos em Portugal. Nas últimas semanas, perdeu a conta às mensagens que recebeu com perguntas de amigos e conhecidos sobre a possibilidade de se mudarem para Portugal. Com as sondagens a apontarem para uma provável vitória de Jair Bolsonaro na segunda volta das eleições presidenciais do Brasil que se realizam este domingo, são cada vez mais os que pensam em deixar o Brasil.

"Há o fantasma da censura mesmo", diz André Diniz ao PÚBLICO, seja nas nas artes ou noutras áreas da sociedade brasileira. Com todas as atenções viradas para o futuro do Brasil, Nelson Dona, director do Amadora BD, decidiu aumentar a exposição dedicada aos autores brasileiros. O título — "Era uma vez um país (mais ou menos) maravilhoso" — foi inspirado no trabalho do artista português Miguel Januário, que criou uma imagem da bandeira brasileira com os símbolos de "+ e -" , naquela que é uma imagem de marca da sua obra. 

A exposição, comissariada por Nelson Dona, Fabiana Barbosa e Aécio Diniz, com cenografia de Catarina Pé-Curto, reúne um conjunto de autores de banda desenhada do panorama brasileiro contemporâneo. As obras, de André Diniz, André Ducci, Helô D'Angelo, João Marcos, João Pinheiro + Sirlene Barbosa, João Spacca, Klévisson Viana, Marcelo D'Salete, Marcello Quintanilha e Pedro Cobiaco, abordam temas sociais e políticos fracturantes da atualidade brasileira e internacional. 

Fabiana Barbosa e Aécio Diniz, da Fundação Casa Grande, uma organização não-governamental do Ceará, no nordeste brasileiro, são os comissários executivos desta exposição e parceiros do Amadora BD de há várias edições. Apoiantes do candidato do Partido dos Trabalhadores, vão acompanhar as eleições a partir de Lisboa, e não vão poder votar.

"Antes de virmos tentámos mobilizar os indecisos, aqueles a que chamamos os anti-PT", eleitores que não sendo pró-Bolsonaro também não se identificam com Fernando Haddad, o candidato da esquerda. Também eles temem que a cultura e a educação fiquem de fora da agenda de prioridades de um governo de extrema-direita.