Polícia detém apoiante de Trump por suspeita de envio de pacotes armadilhados

Foram encontrados pelo menos 14 pacotes com engenhos explosivos de fabrico artesanal, recebidos ao longo da semana por Barack Obama, Hillary Clinton e outras personalidades políticas e mediáticas norte-americanas.

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O FBI apreendeu uma carrinha do suspeito WPLG/Reuters
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Pormenor da carrinha do suspeito,Pormenor da carrinha do suspeito REUTERS/Geo Rodriguez,REUTERS/Geo Rodriguez
A detenção foi feita na Florida
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A detenção foi feita na Florida LUSA/CRISTOBAL HERRERA

A polícia federal dos Estados Unidos deteve esta sexta-feira, na Florida, o homem que terá enviado pelo menos 14 pacotes com bombas a várias personalidades ligadas ao Partido Democrata. Mas a pergunta que veio para ficar, a uma semana e meia das eleições para o Congresso, não pode ser respondida por uma força de segurança: que peso têm as intervenções públicas do Presidente Donald Trump, em comícios ou no Twitter, na radicalização de alguns dos seus apoiantes?

Já se sabia que os pacotes com bombas de fabrico artesanal foram enviados apenas a pessoas que se destacaram nas críticas a Trump, e agora sabe-se que o principal suspeito é um fervoroso apoiante do Presidente dos EUA. No momento da detenção, na cidade de Plantation, na Florida, os agentes apreenderam uma carrinha coberta de autocolantes com mensagens de apoio a Trump e ao vice-presidente, Mike Pence, e de críticas a alguns dos alvos preferidos do Presidente norte-americano: de uma mira pintada numa fotografia de Hillary Clinton à frase "CNN Sucks!", entoada em quase todos os comícios de Donald Trump.

Condenado por ameaça de bomba

O suspeito chama-se Cesar Sayoc, tem 56 anos, está registado no Partido Republicano desde Março de 2016 e trabalhava numa cadeia de acessórios de automóveis. Os agentes já suspeitavam dele, com base nos vestígios de ADN encontrados em pelo menos um dos pacotes, mas esperaram para fazer a detenção no local de trabalho, para reduzirem a hipótese de o confronto se arrastar e tornar-se ainda mais violento.

Poucos minutos depois da detenção, que aconteceu por volta das 10h locais (15h em Portugal continental), já se sabia muito sobre Sayoc — o seu longo passado de problemas com a polícia e com os tribunais facilitou o trabalho de pesquisa.

Foi detido e condenado várias vezes na Florida desde 1991, por vários crimes: roubo, venda de esteróides, destruição de provas, condução com carta falsificada, agressão e violação de liberdade condicional. Mas foi uma condenação por ameaça de bomba, em 2002, que chamou a atenção dos investigadores — nessa altura foi condenado a um ano com pena suspensa.

O responsável pelo Departamento de Justiça, Jeff Sessions, anunciou que o suspeito foi acusado de cinco crimes federais, incluindo ameaças contra antigos presidentes, e pode ser condenado a um máximo de 58 anos de prisão.

Numa conferência de imprensa no Departamento de Justiça, em Washington D.C., Sessions confirmou a detenção de Sayoc, ressalvado que o suspeito é "inocente até prova em contrário".

"Que isto seja uma lição para qualquer pessoa que recorra à intimidação ou a qualquer tipo de violência. Iremos atrás de vós até aos limites da justiça", disse o procurador-geral dos EUA.

Ao lado de Sessions, o director do FBI, Christopher Wray, disse que Cesar Sayoc foi identificado através de uma impressão digital encontrada numa das encomendas armadilhadas.

"Acto aterrorizante"

Pouco depois da detenção, o Presidente Trump fez uma declaração na Casa Branca. E, tal como aconteceu antes da sua primeira declaração sobre o caso, na quarta-feira, os seus críticos esperavam ouvir expressões como "terrorismo doméstico" — e esperavam também ouvir o Presidente a referir-se, pelos nomes, a alguns dos destinatários das bombas, principalmente os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton (a bomba destinada a Hillary Clinton foi enviada para a residência do casal em Chappaqua, Nova Iorque).

Mas o Presidente Trump voltou a referir-se aos destinatários das bombas como "figuras de topo", numa declaração em que apelou, mais uma vez, à união do país.

"Os americanos têm de se unir e temos de mostrar ao mundo que estamos unidos em paz, amor e harmonia", disse Trump, depois de condenar os "actos desprezíveis" e de prometer que tudo será feito para levar os responsáveis perante a justiça. Numa mudança em relação à primeira declaração, referiu-se ao envio dos pacotes como um "acto aterrorizante", aproximando-se da acusação de "terrorismo" feita por Paul Ryan, líder da Câmara dos Representantes e outra das figuras do Partido Republicano.

"Isto das 'bombas'"

Horas antes da detenção, o Presidente norte-americano voltara a motivar as críticas do Partido Democrata, e dos media, por parecer sugerir que o envio de pacotes com engenhos explosivos a alguns dos seus maiores críticos não é uma questão importante, ou até mesmo real: "Os republicanos estão a ter sucesso na votação antecipada, e nas urnas, e agora aparece isto das 'bombas' e o balanço abranda — a política desapareceu das notícias."

Num outro tweet, Trump voltou a criticar os media, acusando-os de o culpar pelo envio dos pacotes e de fazerem "comparações ridículas com o 11 de Setembro e o atentado bombista em Oklahoma".

Parte da utilização da palavra bomba entre aspas pode prender-se com o facto de o FBI ainda não ter confirmado se os engenhos estavam preparados para serem detonados — sabe-se apenas que nenhum deles explodiu. As imagens de raio-X mostram que os engenhos são compostos por um tubo de PVC com cerca de 15 centímetros, preenchidos com pólvora e vidros, que poderiam funcionar como estilhaços.

Mais dois pacotes

A notícia da detenção surgiu poucas horas depois da descoberta de mais dois pacotes com engenhos explosivos semelhantes aos que começaram a ser enviados no início da semana a várias figuras ligadas ao Partido Democrata.

Esta sexta-feira, o FBI anunciou que foram interceptados pacotes suspeitos endereçados ao senador Cory Booker e a James Clapper, antigo director dos serviços de espionagem norte-americanos.

Ao mesmo tempo, a CNN noticiava que tinha sido encontrado um outro pacote suspeito, numa estação dos correios em Manhattan, dirigido à sua redacção em Nova Iorque – o segundo esta semana. 

Desta vez, o destinatário era James Clapper, antigo director dos serviços secretos norte-americanos e colaborador do canal. O primeiro pacote suspeito enviado à CNN, na quarta-feira, tinha como destinatário John Brennan, antigo director da CIA.

Quatorze pacotes 

Até agora foram descobertos 14 pacotes com engenhos explosivos de fabrico artesanal. Todos os pacotes foram enviados para personalidades ligadas ou próximas do Partido Democrata e que se destacaram pela forte oposição ao Presidente Donald Trump.

O primeiro caso foi detectado na segunda-feira em Bedford, no estado de Nova Iorque, quando um segurança da casa do multimilionário George Soros percebeu que um dos pacotes recebidos poderia conter uma bomba. Mais tarde, a polícia confirmou que continha um engenho explosivo e procedeu a uma detonação controlada.

Depois disso, outras nove pessoas receberam pacotes semelhantes, todos enviados em nome da congressista Debbie Wasserman Schultz, do Partido Democrata – uma manobra de diversão dos verdadeiros responsáveis, segundo a polícia.

Entre terça e quarta-feira, foram encontrados pacotes suspeitos enviados ao ex-Presidente Barack Obama; à antiga secretária de Estado Hillary Clinton; ao antigo procurador-geral Eric Holder; ao ex-director da CIA John Brennan (entregue à CNN); e à congressista Maxine Waters, que recebeu dois – um na sua morada na Califórnia e outro no Congresso, em Washington D.C.

Na quinta-feira, o antigo vice-presidente dos EUA Joe Biden e o actor Robert De Niro também receberam pacotes semelhantes – dois endereçados a Biden e um a De Niro. E esta sexta-feira foi a vez do senador Cory Booker e do antigo director dos serviços secretos norte-americanos James Clapper.

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