António Pescada vence Grande Prémio de Tradução por O Duplo e O Arquipélago Gulag

Obras de Dostoievski e de Soljenitsin foram publicadas, respectivamente, pela Relógio d'Água e pela Sextante.

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António Pescada numa fotografia de 2003 Arquivo PÚBLICO

António Pescada é o vencedor do Grande Prémio de Tradução, por O Duplo, de Fiódor Dostoievski, e O Arquipélago Gulag, de Alexander Soljenitsin, que traduziu a partir do original russo, anunciou esta sexta-feira a Associação Portuguesa de Tradutores (APT).

A versão portuguesa de O Duplo, traduzida por António Pescada, encontra-se editada pela Relógio d'Água, enquanto O Arquipélago Gulag pertence à Sextante, chancela do grupo Porto Editora.

De acordo com a APT, foram ainda atribuídas menções honrosas a Maria Lúcia Lima, pela tradução de Escutai as Nossas Derrotas, do francês Laurent Gaudé, editado pela Porto Editora, e a Tiago Nabais, pela tradução do chinês de Crónica de um Vendedor de Sangue, da autoria de Yu Hua, editado em Portugal pela Relógio d'Água.

O vencedor do Grande Prémio, António Pescada, nascido em Albufeira, em 1938, viveu cinco anos em Moscovo, onde estudou língua e literatura russas. Tradutor de francês, inglês e russo, tornou-se um dos nomes mais respeitados da tradução em Portugal, onde traduziu outros autores clássicos russos como Tolstoi, Boris Pasternak, Ivan Turgenev e Mikhail Bulgakov. Em 1995, foi galardoado com o Grande Prémio de Tradução do P.E.N. Club, pela tradução do francês de A Bela do Senhor, de Albert Cohen.

O Duplo, que nesta edição da Relógio d'Água tem 200 páginas e está publicado na colecção Clássicos para Leitores de Hoje, foi originalmente publicado em 1846, quando Dostoievski contava apenas 24 anos, poucos meses após a publicação do seu primeiro romance, Gente Pobre.

Trata-se da história de um funcionário público obcecado pela existência de um colega, réplica de si próprio, que lhe usurpa a identidade, acabando por levá-lo à insanidade mental e à ruptura com a sociedade, um romance no qual já é possível encontrar as inquietações do autor. A afirmação da liberdade individual contra instituições e normas existentes é o centro da obra, na qual sobressai também a compaixão pela condição dos humilhados, outro tema recorrente em Dostoievski.

O Arquipélago Gulag, de Soljenitsin, foi originalmente escrito clandestinamente entre 1958 e 1967, com a ajuda do testemunho de 227 sobreviventes dos campos do Gulag, tendo o seu manuscrito sido descoberto pelo KGB em 1973, na sequência da prisão de uma colaboradora do autor, que o dactilografava.

Na sequência disso, Soljenitsin, que tinha sido galardoado com o Prémio Nobel em 1970, decide publicar o livro no exterior: uma primeira edição em russo aparece em Paris, ainda em 1973, a que se segue, no ano seguinte, uma edição francesa.

Com quase 600 páginas, esta edição da Sextante, no âmbito do projecto de edição em língua portuguesa das principais obras do autor, é a versão abreviada, num só volume, preparada por Soljenitsin e por sua mulher, Natália, com o objectivo de tornar mais acessível este livro aos leitores estrangeiros e a novos leitores.

Através do Grande Prémio de Tradução Literária, a APT e a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) procuram destacar a tradução como exercício de autoria em literatura, e dar ao tradutor "o lugar que merece no mundo da cultura nacional e internacional". Instituído pela APT, com o patrocínio da SPA, o prémio, que tem um valor monetário de 2500 euros, vai ser entregue a António Pescada no dia 31 de Outubro, numa cerimónia que decorrerá na Sala-Galeria Carlos Paredes da SPA, e contará com um apontamento musical por Carlos Alberto Moniz.

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