Azeredo Lopes não será ouvido tão cedo sobre Tancos

Ex-ministro da Defesa disponibilizou-se para prestar esclarecimentos ao Ministério Público, mas investigadores consideram prioritário apurar com mais detalhe circunstâncias do achamento das armas.

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Azeredo Lopes na tomada de posse do seu sucessor Miguel Manso

Os investigadores do achamento das armas de Tancos não consideram prioritário ouvir já o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes. Ao que o PÚBLICO apurou, apesar de o seu ex-chefe de gabinete, o tenente-general Martins Pereira, ter contado esta quarta-feira às autoridades que informou o ministro do memorando que revela a encenação da descoberta do material militar, e de na sequência disso Azeredo Lopes se ter disponibilizado para ser ouvido pelo Ministério Público, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal não tenciona chamar tão cedo o antigo governante. 

Antes disso, vai ser preciso determinar com mais detalhe as circunstâncias do achamento das armas – sendo certo que dois dos arguidos da GNR que se tinham remetido inicialmente ao silêncio perante o juiz de instrução criminal João Bártolo já mudaram de ideias, tendo o seu advogado requerido que possam voltar a ser ouvidos pelo magistrado.

Seja como for, a Procuradoria-Geral da República já informou esta quinta-feira que o Departamento Central de Investigação e Acção Penal "não tem, neste momento, qualquer diligência agendada" no âmbito da chamada Operação Húbris.

Foi há menos de um ano que o director da Polícia Judiciária Militar e o seu subordinado Vasco Brazão se reuniram com o chefe de gabinete de Azeredo Lopes no Ministério da Defesa para lhe entregarem o dito memorando. Perante eles, o tenente-general ligou via Whatsapp para o ministro, que estava fora, e informou-o do conteúdo do documento, contou ontem o próprio aos procuradores titulares do processo em que se investiga o reaparecimento do material militar. Ainda segundo o relato de Martins Pereira, que foi ouvido na qualidade de testemunha, no dia seguinte falou pessoalmente com o governante sobre a questão, tendo ficado decidido não lhe dar relevância. Resta saber se Azeredo Lopes informou o primeiro-ministro António Costa.

Esta quinta-feira, o chefe do Governo veio expressar o seu desejo de que as autoridades competentes esclareçam cabalmente o que se passou em Tancos, “com a maior brevidade possível, responsabilizando os autores do furto e os seus eventuais cúmplices e encobridores, sejam quem forem”. Um discurso algo diferente daquele que teve à margem da cerimónia das comemorações do 5 de Outubro, altura em que ainda defendia a manutenção de Azeredo Lopes no Governo e apontava baterias contra os investigadores de Tancos.

“Falta esclarecer muita coisa e, desde logo, a captura dos ladrões. Devemos confiar que a justiça faça o seu trabalho e os ladrões propriamente ditos sejam presos”, declarou então. Para acrescentar ainda que quer Azeredo Lopes quer o seu chefe de gabinete já tinham desmentido de forma categórica terem conhecimento da encenação a propósito do reaparecimento do material.

Só que, entretanto, o cenário alterou-se: o ministro que tentou segurar a todo o custo acabou por demitir-se e o seu ex-chefe de gabinete veio assumir que sempre entregou o memorando ao ministro, ao contrário do que tinha afirmado inicialmente.

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