Ecológica e minimalista: a roupa de Carolina “leva a mensagem verde dos Açores a todo o lado”

Uma jovem açoriana lançou uma marca de roupa feita apenas com materiais biológicos e reciclados. LUS, de Carolina Moreira, apresenta-se como alternativa à fast fashion e quer chegar ao mercado internacional.

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Tiago Maurício Pereira

O documentário The True Cost (Andrew Morgan, 2015) foi decisivo: o filme explora o funcionamento da indústria de roupa, revelando as condições precárias dos trabalhadores e o quão prejudiciais podem ser os materiais utilizados na roupa de baixo custo. Depois de ver o documentário, Carolina Moreira decidiu materializar um sonho antigo e criar uma marca de roupa eco-friendly.

“Sabia que a indústria da moda era poluente, mas não tinha a noção de todos os efeitos que provoca a nível ambiental e de saúde”, começa por dizer ao P3 a açoriana, licenciada em Nutrição, que abandonou a terra natal para estudar Design de Moda em Lisboa. Finalizado o curso, voltou para São Miguel e lançou a LUS, uma marca de roupa que aposta apenas em materiais biológicos e ecológicos. “Nunca quis ficar em Lisboa, o projecto passa também por levar a mensagem verde dos Açores a todo o lado.”

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Tiago Maurício Pereira

O nome foi um “desafio muito grande”, era necessário responder a "muitos requisitos". “É como escolher um nome para um filho”, graceja Carolina, que pretendia que o nome se relacionasse com a tranquilidade e o estilo minimalista que a caracteriza. Juntou vários conceitos-chave e tentou que as iniciais evocassem uma palavra simbólica. “L significa leveza, U representa único e o S simplicidade", revela. "Juntas, [as letras] evocam a pureza e leveza da palavra luz.”

O objectivo passa por incentivar um consumo “mais consciente e menos impulsivo”, para contrariar a fast fashion assente no descartável. Uma espécie de remar contra a maré, no "segundo sector mais poluente do mundo (apenas ultrapassado pelo do petróleo)". “Temos de consciencializar as pessoas, mas isso é como a alimentação: enquanto houver oferta, as pessoas compram”, preconiza a jovem de 27 anos, preocupada com as políticas que regem o sector. “É urgente adoptar medidas alternativas para o bem de todos nós.”

Políticas que privilegiem os materiais biológicos e reciclados, como os que usa a primeira colecção da marca, lançada no início de Outubro. Intitulada Délicaté, a colecção é composta por 25 peças, inspiradas no quimono japonês e na tulipa. O algodão biológico, o linho e a seda de bambu são as matérias-primas utilizadas. “Tudo tecidos naturais, inofensivos para a saúde humana e ambiental”, destaca, revelando, contudo, que o mercado nacional ainda não oferece materiais deste nível para a produção. “Queria que os materiais fossem portugueses, mas infelizmente tive de importar de Inglaterra”, lamenta. Todas as peças “são produzidas uma a uma, com muito carinho”, em Ponta Delgada.

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Carolina Moreira tem 27 anos e fundou a LUS. Tiago Maurício Pereira

A primeira colecção — calças, túnicas, blusas, vestidos, sempre em tons crus — destina-se, para já, apenas ao público feminino e os preços vão dos 60 até aos 225 euros. “Prezamos sempre a qualidade do vestuário e o preço espelha isso”, afirma, alertando. A sociedade, crê a jovem, tem de tomar consciência de que “por detrás de roupas baratas estão trabalhadores explorados, condições precárias e tecidos com muito químicos”.

Enquanto o site está em construção, as peças podem ser vistas no Facebook e nos showrooms semanais, no espaço Holístika, na baixa de Ponta Delgada. Viver no meio do Atlântico não condiciona a intenção de nacionalizar e internacionalizar a marca: “Neste primeiro momento, não quero ter loja física, vou apostar na venda online e, estando online, estou em qualquer lugar.” A segunda fornada da colecção está a caminho.

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