Scarlett Johansson terá rejeitado financiamento do príncipe herdeiro saudita

A actriz poderá fazer o papel da fotojornalista Lynsey Addario num dos seus próximos projectos, mas recusa o envolvimento de Mohammed bin Salman.

Foto
REUTERS/Shannon Stapleton

Scarlett Johansson terá recusado o envolvimento do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (MBS), como um dos principais investidores do projecto para um filme sobre a vida da fotojornalista Lynsey Addario, que deverá ser protagonizada pela actriz.

Em entrevista ao jornalista do New York Times Nicholas Kristof, Addario afirmou que o projecto esteve recentemente prestes a entrar em produção, até as pessoas envolvidas no projecto aperceberem-se de que MBS era um dos "principais financiadores". De acordo com a mesma, a actriz norte-americana opôs-se com firmeza. "A Scarlett Johansson disse: 'Absolutamente não'. Disse: 'Este tipo está a perpetuar a guerra no Iémen [e] tem mulheres na prisão'."

O episódio terá ocorrido antes ainda da morte do jornalista Jamal Khashoggi, que desapareceu depois de entrar no consulado saudita em Istambul, na Turquia, a 2 de Outubro, colocando em causa o possível envolvimento do regime saudita no homicídio.

"Ele [MBS] queria apoiar um livro sobre uma jornalista que é um pouco feminista e trabalha em muitos países em que os jornalistas não são necessariamente respeitados", afirma ainda Lynsey Addario, lembrando que no início do ano o príncipe herdeiro saudita esteve nos Estados Unidos a reunir-se com políticos, bem como figuras influentes de Hollywood, como Dwayne “The Rock” Johnson, Morgan Freeman e James Cameron.

"Não me reuni com ele pessoalmente, mas sinto que provavelmente o meu filme arrastou-se para esta enorme campanha de charme e o facto que quis mostrar ao Ocidente que gostava de Hollywood, que gostava de todas as grandes coisas do Ocidente, que estava a mudar e a fazer evoluir a Arábia Saudita e a abraçar ideias ocidentais", comenta.

"Trabalho na Arábia Saudita há 15 anos. Vi muita mudança no país, ao longo do tempo. Não me interessou fazer a cobertura das mulheres sauditas a guiar pela primeira vez, porque estava lá quando as mulheres sauditas estavam a guiar em segredo e a ir parar à prisão", acrescenta ainda.

O filme tem por base a memória de Addario editada em 2015, It's What I Do. De acordo com a fotojornalista, o filme, cujos direitos foram vendidos à Warner Brothers, será à partida realizado por Riddley Scott, responsável também por Perdido em Marte Gladiador. "Um dia será feito", acaba por dizer a Addario, entre risos, na entrevista.

Mais recentemente, esta lançou um livro de fotografia (Of Love and War) que reúne alguns dos seus trabalhos no Médio Oriente, Ásia e África. Com uma carreira de cerca de duas décadas, a fotojornalista aborda sobretudo questões de conflitos globais, com um enfoque no impacto que têm nas mulheres. Já foi raptada duas vezes e sexualmente agredida enquanto estava detida na Líbia.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários