Pela primeira vez, Trump põe em hipótese o envolvimento do regime saudita na morte de Khashoggi

EUA anunciaram que 21 cidadãos sauditas ficara sem vistos, na primeira retaliação à morte do jornalista no consulado saudita em Istambul. O Presidente norte-americano diz que o homicídio e posterior encobrimento foi "um fiasco total".

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LUSA/JIM LO SCALZO

Pela primeira vez, o Presidente norte-americano, Donald Trump, expressou dúvidas em relação às explicações do reino saudita relativamente à morte do jornalista Jamal Khashoggi, que desapareceu no dia 2 de Outubro depois de se ter deslocado ao consulado da Arábia Saudita na cidade turca de Istambul. Trump disse ainda que foi montado o “pior encobrimento de sempre” para esconder a morte de Khashoggi.

As declarações de Trump chegaram poucas horas depois de o Presidente turco,  Recep Tayyip Erdogan, se ter dirigido ao Parlamento  para classificar a morte do jornalista “um assassínio político” e um crime “selvagem”, exigindo respostas por parte de Riad.

Em entrevista ao Wall Street Journal, Trump foi questionado sobre se acredita no envolvimento do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (MBS): “Bem, o príncipe está a gerir as coisas lá, mais ainda agora. Ele está a gerir as coisas e, por isso, se fosse alguém, seria ele”.

Esta foi a primeira vez que o Presidente norte-americano considera a possibilidade de envolvimento do regime saudita, que tem dado explicações contraditórias, no suposto homicídio de Khashoggi, também colunista do jornal norte-americano Washington Post e que era anteriormente próximo da monarquia saudita mas que teve de partir para os Estados Unidos depois de se tornar um dos seus principais críticos.

Trump garantiu ainda na mesma entrevista que questionou MBS sobre este caso “de várias maneiras”: “A primeira pergunta que lhe fiz foi: ‘Sabia de alguma coisa relativamente ao plano inicial?’”, ao que o príncipe regente saudita respondeu negativamente. “Eu perguntei: ‘Onde é que começou?’ E ele disse que começou nos níveis inferiores”, acrescentou o Presidente norte-americano.

Questionado sobre se acreditava nestas explicações, algo que já havia respondido afirmativamente antes, Trump hesitou: “Eu quero acreditar neles. Quero mesmo acreditar neles”.

Em declarações aos jornalistas na Sala Oval da Casa Branca, Trump disse que “nunca deveria ter havido uma execução ou um encobrimento, porque isto nunca deveria ter acontecido”, acrescentando que o assassínio e o posterior encobrimento foi “um fiasco total”.

“Alguém fez realmente asneira. E tiveram o pior encobrimento de sempre”, disse ainda o Presidente norte-americano.

O endurecimento das palavras de Trump chegou no mesmo dia em que o Departamento de Estado anunciou que 21 cidadãos sauditas vão ver os seus vistos para entrar nos EUA revogados ou serão tornados inelegíveis para os obter, sendo esta a primeira medida da Administração norte-americana em retaliação à morte de Khashoggi.

“Estas sanções não serão a última palavra nesta matéria dos EUA”, garantiu Mike Pompeu, secretário de Estado norte-americano.

“Estamos a deixar muito claro que os Estados Unidos não toleram este tipo de acção brutal para silenciar o senhor Khashoggi, um jornalista, através da violência”, acrescentou Pompeo. “Nem o Presidente nem eu estamos felizes com esta situação”.

Sobre a resposta dos EUA ao “caso Khashoggi”, Trump afirmou que iria trabalhar com o Congresso para o decidir: “Em termos do que vamos acabar por fazer, vou deixá-lo – em conjunto comigo – para o Congresso”, especificando que ficaria satisfeito com uma recomendação bipartidária.

A Reuters noticiou também na terça-feira que Gina Haspel, directora da CIA, foi para a Turquia investigar o caso, tendo pedido para escutar as gravações onde, segundo foi noticiado, é possível ouvir Khashoggi a ser torturado e morto.

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