Associação Convívio teme despejo e promete levar caso a tribunal

Com quase 60 anos de existência, a instituição cultural está sediada num edifício do centro histórico há praticamente cinco décadas. O imóvel foi vendido, há dias, a uma sociedade imobiliária, mas a associação diz ter exercido direito de preferência para a compra e ameaça com acção judicial.

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A Convívio está na origem do festival Guimarães Jazz, que ajudou a criar em 1992 LUIS EFIGENIO / PUBLICO
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Fundada em 21 de Outubro de 1961, a associação cultural Convívio está em risco de ter de abandonar aquela que é a sua casa desde meados da década de 60: em edifício do século XVIII, de portas vermelhas, no Largo da Misericórdia, em pleno centro histórico de Guimarães. O presidente da instituição, César Machado, mostrou-se receoso que o imóvel, adquirido pela sociedade imobiliária Belos Ares, possa ser transformado num hostel. Sendo esse o caso, prometeu interpor uma acção em tribunal e lutar até onde for possível para assegurar a permanência da instituição naquele espaço.

“O Convívio corre o risco de estar ali a prazo e vai lutar no tribunal, com todas as forças que tiver e até ao último esforço. Continuaremos a ter jazz e jams na nossa sede, enquanto nos for permitido”, reiterou, durante a conferência de imprensa de apresentação da 27.ª edição do Guimarães Jazz, festival que a associação por si liderada ajudou a criar, em 1992, e ainda hoje co-organiza, com a Câmara de Guimarães e com a cooperativa municipal Oficina.

O dirigente acredita que o Convívio tem hipóteses de manter a sede, por ter reunido os 370.000 euros necessários para comprar o imóvel e exercer o direito de preferência que, no seu entender, lhe cabia. A associação, contou ao PÚBLICO César Machado, recebeu, a 28 de Setembro, uma carta dos ex-proprietários, Joaquim Ribeiro da Silva e Maria Ribeiro da Silva, a notificá-la de um prazo de 15 dias para exercer o direito de preferência, já que a sociedade imobiliária Belos Ares queria adquirir o edifício. Na resposta aos proprietários, enviada em 04 de Outubro, a direcção do Convívio confirmou a intenção de adquirir o edifício, acrescentou o dirigente. “Não há a mais pequena dúvida que o Convívio exerceu o direito de preferência dentro dos prazos legais”, reiterou.

A associação acabou por reunir o dinheiro necessário, vincou César Machado. Os sócios – são cerca de 500, no total – contribuíram com 220.000 euros, depois de terem aprovado a compra do edifício por unanimidade, numa assembleia-geral realizada em 12 de Outubro. A verba em falta foi garantida junto da Câmara Municipal, que aprovou, por unanimidade, na reunião de 18 de Outubro, um subsídio de 150.000 euros para o Convívio.

O representante da autarquia na apresentação do Guimarães Jazz, Paulo Lopes Silva, realçou que o subsídio não é mais do que “o reconhecimento do trabalho que o Convívio tem feito ao longo dos anos e da sua importância para a cidade”. Além de ter estado na origem do Guimarães Jazz, a associação organiza outros festivais de música, como o Verão é Jazz e o Suave Fest (rock), integra uma escola de jazz e um grupo de teatro amador (CETE) e viu-lhe ser atribuído o estatuto de utilidade pública pelo Estado, em 07 de Março de 2013.

Grato pela atitude da Câmara, que catalogou de “generosa”, César Machado reiterou que o futuro do Convívio é um problema não apenas da associação, mas também da cidade, por considerar que a saída daquele local pode significar a morte da associação.

Contactado pelo PÚBLICO, o administrador da Belos Ares, José Arantes, confirmou que a escritura da compra do imóvel foi efectuada no dia 15 de Outubro, por 370.000 euros. Recusando alongar-se sobre o assunto, o responsável pela sociedade imobiliária disse que o futuro uso do imóvel não está ainda definido, não sendo ainda certo que a associação Convívio deixe o local. Já um dos anteriores proprietários, Joaquim Ribeiro da Silva, recusou prestar declarações sobre o assunto.

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