Trump e Ted Cruz fazem as pazes para defender o lugar do senador no Texas

Presidente norte-americano, que em 2016 apelidou o Cruz de “lyin' Ted” (Ted mentiroso), mudou a sua retórica: “beautiful Ted” (lindo Ted) é “um grande amigo”, disse, num comício de apoio a Cruz, em Houston.

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O "lyin' Ted" de 2016 é agora "beautiful Ted" Reuters/LEAH MILLIS

A duas semanas das eleições intercalares nos Estados Unidos, o Presidente norte-americano, Donald Trump, decidiu colocar de lado as hostilidades da corrida à nomeação presidencial de 2016 no Partido Republicano, para apoiar o antigo rival, o senador Ted Cruz, que se recandidata ao lugar no estado do Texas.

Selando o fim da rivalidade com um aperto de mão e um abraço, Trump tomou o palco no Toyota Center, em Houston (Texas), na segunda-feira à noite, e declarou que Ted Cruz se tornou “um grande amigo”.

“Tivemos as nossas dificuldades. Se se lembram, no início foi uma ‘festa de amor’. Depois tornou-se grosseiro, mas isso acabou. Ninguém me tem ajudado mais”, afirmou o Presidente norte-americano.

Ainda antes de subir ao palco, Trump confessara aos jornalistas, em Washington, que Cruz “já não é o ‘lyin' Ted’ (Ted mentiroso)”, como o catalogou em tempos: “Agora é o ‘beautiful Ted’ (lindo Ted). Chamo-lhe ‘Texas Ted’”.

Cruz, que discursou antes do Presidente, também nada tinha a apontar ao antigo rival, a não ser elogios. E previu que Trump vai ser “reeleito em 2020, de forma arrebatadora”. 

Em declarações à ABC, o senador deixou ainda claro que não quer reviver os comentários do passado: “Temos um país para salvar, um Estado para salvar. Temos de deixar de lado as nossas diferenças mesquinhas”.

A história foi outra em 2016. A campanha para as primárias ficou marcada por insultos de ambas as partes, sendo “lying Ted” o predilecto de Trump, bem como “o maior mentiroso” e “homem maldoso”. Cruz, por sua vez, apelidou Trump de “mentiroso patológico”, “cobarde choramingão” e “um narcisista de um nível que este país nunca viu”, por exemplo.

O despique motivou episódios insólitos protagonizados por Trump, como a comparação que o Presidente fez no Twitter entre a esposa do senador e a sua mulher, Melania, ou a implicação do pai de Cruz no assassinato do Presidente John F. Kennedy.

O renovar da amizade surge na sequência da pressão sentida por Cruz para manter o lugar no Senado, face a competição imposta pelo candidato do Partido Democrata, Beto O’Rourke, que angariou 38 milhões de dólares (cerca de 33 milhões de euros) em três meses – o triplo do montante angariando por Ted Cruz no mesmo período – e que aposta as suas fichas no crescimento do eleitorado de origem latina no Texas para surpreender.

Apesar de Cruz ter uma vantagem de cerca de sete pontos percentuais sobre O’Rourke, de acordo com as sondagens, os democratas querem espantar os EUA com uma vitória no Texas, dando corpo ao sonho, há muito aguardado, de uma “onda azul” do Partido Democrata, que varra os estados republicanos.

No comício de Houston, Trump voltou a apontar o dedo aos democratas por causa pela “crise na fronteira”, acusando-os de terem “dado aos imigrantes ilegais assistência social e o direito de votar”. E reforçou a importância de se manter a maioria republicana no Congresso, para que possa haver uma mudança nas leis da imigração.

“Para proteger o vosso Estado e o vosso país, têm de eleger uma Câmara dos Representantes republicana e um Senado republicano. E têm de votar no Ted Cruz”, disse o Presidente norte-americano.

O Presidente assumiu ainda ser um “nacionalista” e catalogou O’Rourke de “totalmente hipócrita”, um “esquerdista radical e adepto fronteiras abertas” e um "desastre para o Texas".

“Pelo ouvi sobre ele, pensei que fosse alguma coisa de especial. Não é”, disse, acrescentando que o candidato democrata – que atraiu uma multidão de 55 mil pessoas para um comício, em Austin, em Setembro, de acordo com o El Paso Times - foi “arrasado” por Cruz nos debates.

Depois de Houston, na agenda de Trump seguem-se o Wisconsin, a Carolina do Norte e Illinois.

Texto editado por António Saraiva Lima

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