Tribunal de Monsanto condena argentinos violentos a 18 anos de cadeia

Os dois argentinos procurados há década e meia no seu país foram condenados esta segunda-feira no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, a 18 anos de cadeia por uma série de assaltos a bancos.

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Carlos Lopes

Dois argentinos procurados há década e meia no seu país foram condenados nesta segunda-feira no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, a 18 anos de cadeia por assaltos a bancos, tendo sido dados como provados os factos de que estavam acusados. Rodolfo Lohrman foi condenado a uma pena de 18 anos e 10 meses, enquanto Horacio Maidana foi sentenciado a 18 anos. Os dois arguidos são ainda condenados a uma pena acessória de expulsão de Portugal durante dez anos.

Três cúmplices foram condenados a 12 anos, três anos e quatro meses e quatro anos de prisão, respectivamente.

O advogado do Lohrman, Lopes Guerreiro, anunciou no final da leitura do acórdão que vai recorrer da decisão judicial. 

As apertadas medidas de segurança previstas acabaram por ser aligeiradas já que o sistema de som do tribunal não estava a funcionar. Os arguidos acabaram por ficar em frente aos juízes e não numa sala à parte, como era suposto por serem considerados excepcionalmente perigosos. Também os jornalistas ficaram na sala de audiências e não numa sala à parte, como inicialmente previsto.

Lohrman, de 53 anos, conhecido por El Ruso, e Maidana, de 56, notabilizaram-se, porém, por crimes bem mais graves: são suspeitos de raptos, homicídios e narcotráfico não apenas na Argentina como nos países limítrofes. Ganharam fama em 2003, altura em que terão raptado um jovem estudante filho de um antigo ministro da Saúde. A família pagou um resgate superior a 250 mil euros, mas o rapaz nunca mais apareceu – nem morto, nem vivo. A dupla é ainda suspeita de estar implicada no rapto e homicídio de uma filha do antigo presidente do Paraguai Raúl Cubas.

Depois disso Rodolfo Lohrman e Horacio Maidana – também conhecido como Potro – vieram para a Europa, onde prosseguiram a sua carreira. Mas a vida nem sempre lhes correu de feição. Tido como o mais cerebral dos dois e um verdadeiro psicopata, El Ruso viu-se preso preventivamente numa cadeia búlgara por roubo e posse de explosivos. Conseguiu escapar escavando um túnel debaixo do muro. Escapou juntamente com um assassino a soldo que também se encontrava preso.

Já Maidana, que é bem mais expansivo que o companheiro de crime, evadiu-se de uma prisão espanhola saltando de um terceiro andar de um hospital prisional. Falta-lhe um dedo na mão esquerda, ao que conta fruto de um tiroteio com a polícia.

Acabaram por se estabelecer em Portugal, nos arredores da Ericeira, onde, juntamente com outros três cúmplices – um enteado de Lohrman, um português e um espanhol conhecido por Doido ou Gordo. E aqui se dedicaram a meticulosos assaltos a bancos, operações preparadas com todo o rigor e que não demoravam mais de um minuto a acontecer. Não deixavam nada ao acaso: muniam-se de perucas, bigodes e máscaras faciais, tendo-se apoderado, entre 2014 e 2016, de pelo menos 235 mil euros, contabiliza o Ministério Público.

Esperavam que as dependências bancárias encerrassem e atacavam quando os funcionários ainda estavam lá dentro com os cofres abertos, a contar o dinheiro. Quando a Polícia Judiciária os apanhou estavam em Aveiro e preparavam-se para assaltar mais um banco. Como usavam identidades falsas, só mais tarde os inspectores se apareceberam de que tinham prendido duas estrelas do crime latino-americano.

Neste julgamento, o seu cúmplice espanhol confessou os quatro assaltos, implicando Lohrman e Maidana. Este último, por seu turno, admitiu dois, tendo como propósito assumido adiar o máximo de tempo possível a sua extradição para a Argentina.

Mais tarde ou mais cedo, porém sua entrega às autoridades de Buenos Aires parece irreversível, dado o acordo de cooperação judiciária existente entre Portugal e a Argentina. Mas antes disso El Ruso ainda terá de ser julgado na Bulgária. 

Além de roubo e posse de explosivos, Lohrman vai ser julgado na Bulgária também por tentativa de homicídio. 

Os juízes consideraram que foram particularmente importantes para a descoberta do que se passou as denúncia do arguido de origem espanhola, Christian Gomez. A sua colaboração com as autoridades valeu-lhe uma pena substancialmente inferior à dos principais arguidos, 12 anos de cadeia, apesar de ter participado nos assaltos e também nos roubos de automóveis que o grupo efectou para os levar a cabo. 

Os três principais arguidos vão ainda ter de entregar aos bancos que assaltaram e a uma das suas seguradoras uma soma de mais de 145 mil euros. 

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