Partido do Governo teve vitória amarga nas eleições regionais polacas

A divisão da Polónia ficou confirmada nestas eleições. O Partido Lei e Justiça (PiS), chefiado pelo nacionalista Jaroslaw Kacynski, foi o mais votado, mas ficou abaixo das expectativas.

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Jaroslaw Kaczynski, líder do PiS, declarou vitória nas eleições. Mas a oposição também LUSA/Jakub Kaminski

A oposição polaca não ganhou, mas teve alguma satisfação nas eleições regionais de  domingo. O Partido Lei e Justiça (PiS), do nacionalista Jaroslaw Kacynski, que lidera o Governo, foi o mais votado, mas a margem da vitória ficou abaixo do esperado.

Os resultados oficiais só devem ser anunciados entre esta terça e quarta-feira, mas as projecções dizem que o partido eurocéptico PiS conquistou 32,2% dos votos a nível nacional. É um resultado acima do das últimas eleições regionais, onde os nacionalistas registaram 26,9%, mas abaixo dos 37,6% arrecadados nas legislativas de 2015.

A pior notícia para PiS chegou da capital Varsóvia, onde o seu candidato, Patryk Jaki, que é também vice-ministro da Justiça, sofreu uma pesada derrota contra Rafal Trazaskowski (que conquistou 54.1% dos votos), do principal partido da oposição, Plataforma Cívica, de centro-direita, que registou 24,7% dos votos a nível nacional. Na maioria das cidades vai ser necessária uma segunda volta para se conhecerem os novos presidentes de câmara.

Kaczynski declarou vitória: “Temos de trabalhar, trabalhar e trabalhar”, cita a Reuters. “É o início de uma campanha eleitoral que vai terminar em Maio de 2020 [altura em que se realizam as presidenciais]. Há muito trabalho à nossa frente, mas vamos conseguir.”

Por outro lado, a oposição destaca o facto de os dois principais partidos que combatem o PiS, o Plataforma Cívica e o Partido Popular da Polónia, conseguiram, juntos, arrecadar mais de 41% dos votos, uma vantagem de quase dez pontos percentuais sobre o partido do Governo.

“Criámos um movimento anti-PiS efectivo”, disse o líder do Plataforma Cívica, Grzegorz Schetyna.

“Esta não é uma vitória que os possa fazer felizes [ao PiS], é uma vitória pírrica”, analisou Marek Migalski, cientista político e antigo eurodeputado pelo PiS, em declarações ao canal TVN24, e citado pela Reuters.

“Diria que é um empate, com alguma vantagem para a oposição”, disse, por sua vez, à Reuters Rafal Chwedoruk, professor de Ciência Política na Universidade de Varsóvia, destacando a divisão do país, outra das conclusões que se podem retirar das projecções.

O PiS não tem tido bons resultados nas eleições regionais, algo que os analistas justificam com a dificuldade que o partido tem tido em constituir coligações locais consistentes. Em 2014, o PiS ganhou em seis regiões, mas só obteve percentagem suficiente para governar uma. As projecções para as eleições deste ano indicam que o PiS ficou em primeiro em nove regiões, na sua maioria na zona Este do país, mais religiosa e pobre. A confirmar-se, o cenário não se deverá alterar muito.

Desde que, em 2015, os nacionalistas liderados por Kaczynski subiram ao poder que a Polónia tem estado na mira da comunidade internacional, nomeadamente da União Europeia, que acusa Varsóvia de uma deriva autoritária. Concretamente, a reforma judicial aprovada pelo executivo polaco, que contempla, entre outras coisas, a descida da idade da reforma dos magistrados o que afasta quase um terço dos juízes do Supremo, e dá ao Governo a possibilidade de escolher os novos magistrados, gerou um conflito aberto entre Bruxelas e Varsóvia.

Em Junho, a UE activou pela primeira vez um artigo 7º do Tratado de Lisboa o que, a ser aplicado, poderia suspender o direito de voto da Polónia no Conselho Europeu. Na sexta-feira, numa medida sem precedentes, o Tribunal Europeu de Justiça emitiu um auto a ordenar que a Polónia “suspenda imediatamente” a reforma judicial.

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