Michal atravessou a Europa a pé para derrubar o nacionalismo e a xenofobia

Michal Iwanowski
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Michal Iwanowski

“Volta para casa, polaco." Decorria o ano de 2008 quando Michal Iwanowski leu esta inscrição numa parede próxima de casa, em Cardiff, no País de Gales. Recorda-se de ter pensado: “Deveria mesmo ir a algum lado ou já estou em casa?”

Os anos passaram, mas a pergunta nunca abandonou o fotógrafo polaco que, por sua vez, também nunca abandonou o País de Gales. “Em 2016, com o referendo do Brexit a dividir o Reino Unido e com a onda de nacionalismo a varrer toda a Europa, aquele aviso adquiriu um tom mais sombrio, motivo pelo qual me senti impelido a reagir”, explica no seu site. “Literalmente.”

São 1931 os quilómetros que separam Cardiff da terra natal do fotógrafo, Mokrzeszów, na Polónia. Em Abril de 2018, munido de dois passaportes – um britânico e outro polaco –, Michal decidiu fazer-se à estrada, a pé, e atravessar o País de Gales, a Inglaterra, a França, a Bélgica, a Holanda, a Alemanha, a República Checa e parte da Polónia. “O meu objectivo era, pelo caminho, questionar as pessoas acerca do significado da palavra casa” explica. Antecipou algumas situações de confronto, de mal-estar, que nunca chegaram a verificar-se. “As pessoas responderam à questão de uma forma extremamente pessoal, de ser humano para ser humano e não de nativo para estrangeiro”, diz. “A maioria das pessoas colocava a mão no peito para me indicar onde estava a sua casa.” Muitos quiseram acompanhar Michal na sua jornada e poucos referiram a sua nacionalidade. “Apenas uma pessoa me escorraçou”, recorda.

Michal desenvolveu o projecto sob formato de diário de viagem, tendo como base a sua conta de Instagram — @michaliwanowski —, onde é seguido por mais de 34 mil pessoas. Foi realizando auto-retratos – alguns contemplativos e outros de natureza performativa – e partilhando o resultado nas redes sociais, onde manteve actividade diária. À medida que a viagem avançou, o slogan “Volta para casa, polaco” foi perdendo peso. “Tornou-se mesmo irrelevante”, assegura. Manteve-o enquanto título da série fotográfica para não perder a referência do motivo que lhe deu início. 

“Este projecto teve bastante impacto na minha vida, diria, e sob vários aspectos”, conta ao P3, em entrevista por email. “Tornou-me mais confiante na crença de que as pessoas são fundamentalmente boas – algo de que duvidava bastante antes de dar início. Foi óptimo poder restaurar a minha fé na humanidade.” Culpa, em parte, os meios de comunicação pela veiculação de mensagens que suscitam medo e promovem a cisão entre indivíduos e diferentes grupos culturais. “Esta viagem também me deixou mais convencido do meu desinteresse pelos conceitos de nacionalidade e nacionalismo e, mais ainda, sobre a definição de quem sou do ponto de vista administrativo — se sou polaco ou britânico. Aprendi a olhar para mim próprio e ver algo que vai além desses conceitos. Eu não estou em casa, neste mundo, em geral – não estou em casa no País de Gales nem na Polónia. O caminho que percorri entre as minhas duas casas fez-me fundir duas identidades numa só pessoa e compreender-me como um todo. Demorei 105 dias e mais de 1900 quilómetros a perceber isso.”

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