Qualidade da comida nas escolas de Almada suscita queixas

Pais queixam-se das refeições fornecidas por empresa que abastece 37 da 44 escolas do concelho.

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Enric Vives-Rubio

A qualidade da comida servida nas cantinas da esmagadora maioria das escolas do 1.º ciclo de Almada está a suscitar queixas de pais e encarregados de educação que referem, por exemplo, “sopas aguadas” e falta de ingredientes.

A mãe de uma aluna da Escola Básica n.º3 do Monte da Caparica relata ao PÚBLICO que “esta semana o menu era tortilha de legumes com batata cozida, mas a tortilha estava intragável pelo que o almoço foi apenas batata cozida”.

Esta mãe, que pediu anonimato, diz ter alertado a professora e que lhe foi respondido que “a escola tem conhecimento que a empresa não está a enviar todos os alimentos e que isso influencia a qualidade da comida”. Segundo a mesma fonte, esta escola reportou a situação à Câmara Municipal de Almada e ficou a “aguardar resolução em breve”.

Outra mãe diz que neste ano lectivo “ainda não houve um dia em que as crianças tenham tido uma refeição em condições”. Ana Rute Santos publicou ontem uma fotografia no Facebook, dizendo que, “além de um prato vazio, ainda dão às crianças duas facas, porque não há garfos”.

O descontentamento dos pais com a qualidade da comida chegou à ultima reunião pública do executivo municipal, na quarta-feira, através da vereadora do BE, Joana Mortágua, que questionou a maioria. De acordo com a eleita bloquista, o vice-presidente da câmara, João Couvaneiro, admitiu “existirem divergências” com a empresa que fornece as cantinas escolares e que esses diferendos “podem resultar em sanções futuras”.

Em resposta ao PÚBLICO, por escrito, a Câmara Municipal de Almada reconhece que tem havido várias “ocorrências” e explica que os problemas decorrem da falta de pessoal da empresa concessionária.

“Nesta fase do arranque do ano lectivo, e por se verificar um número considerado elevado de ocorrências, foi realizada reunião com toda a equipa responsável da Uniself para avaliação da execução do contrato e sinalização dos incumprimentos, designadamente a nível da colocação de pessoal. A flutuação do pessoal foi justificada pela empresa pela dificuldade em fixar os recursos humanos, que abandonam o seu posto de trabalho, o que gera a entrada de novos recursos”, refere a nota da autarquia.

Problemas não são novos

No mesmo documento, a câmara informa que a Autoridade Veterinária Municipal está a averiguar o cumprimentos das condições contratuais e que “está em curso a retoma da recolha de colheitas e amostras pelo Instituto Ricardo Jorge (IRJ) — qualidade microbiológica (amostra de refeição completa) e estado higiénico (esfregaço)”.

A autarquia assegura que, “se existir algum incumprimento do caderno de encargos, procederá de acordo com as penalidades e demais procedimentos previstos”.

A empresa concessionária, a Uniself — Sociedade de Restaurantes Públicos e Privados SA, fornece 37 das 44 escolas do 1.º ciclo de Almada e, segundo Joana Mortágua, já recebeu este ano mais de 700 mil euros do município e vai receber, nos próximos dois anos, cerca de três milhões de euros.

O Bloco de Esquerda diz que está em causa a concessão da alimentação escolar a privados.

“A opção pela concessão a privados dos refeitórios escolares que foi tomada pelo anterior executivo foi um erro que deve ser rapidamente corrigido com a recuperação das cantinas para a gestão pública”, defende Joana Mortágua. Acrescenta que “a câmara tem a obrigação de garantir que os alunos têm refeições de qualidade”.

A vereadora recorda que, como eleita, tem responsabilidade de fiscalizar. “Pedi à comunidade educativa que envie testemunhos e vou fazer visitas aos refeitórios”, disse Joana Mortágua ontem ao PÚBLICO.

As queixas sobre o serviço prestado pela Uniself não são inéditas. A empresa foi notícia por, no dia 2 de Novembro do ano passado, ter servido refeições com alimentos crus em 15 escolas de Palmela, num total de cerca de 800 alunos.

“Foi o caos completo, já que a comida chegou crua às escolas, tendo sido devolvida”, disse na altura Jorge Duro, presidente da direcção da Associação de Pais da EB1 n.º 2 de Palmela e membro dos órgãos sociais da Federação Regional das Associações de Pais do Distrito de Setúbal (Fersap).

A empresa atribuiu o problema a uma falha no forno da cozinha onde são confeccionadas as refeições.

O PÚBLICO questionou a Uniself, mas até à hora de fecho desta edição não obteve resposta.

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