Fragmentos de Luzia recuperados dos escombros do Museu Nacional do Rio de Janeiro

Crânio do fóssil humano mais antigo da América Latina vai poder ser reconstituído. Oitenta por cento dos fragmentos foram identificados.

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Luzia era uma das peças mais importantes do acervo de 20 milhões de itens do Museu Nacional DR

O crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado na América Latina, sobreviveu ao grande incêndio que consumiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro a 2 de Setembro. Um conjunto de fragmentos deste fóssil, que pertenceu a uma mulher de vinte e poucos anos que terá vivido há 12.500 ou 13.000 anos, foram apresentados nesta sexta-feira pela instituição. 

Luzia era considerada uma das principais relíquias do acervo do Museu Nacional, pela sua relevância nas discussões científicas acerca das primeiras populações humanas do continente americano.

Em conferência de imprensa, a arqueóloga Claudia Rodrigues-Carvalho, responsável pela supervisão dos trabalhos de buscas no antigo palácio imperial, explicou que 80% dos fragmentos, encontrados ao longo dos últimos dias, já foram identificados. O crânio de Luzia — que estava guardado na altura do incêndio numa caixa de metal — era já uma peça reconstituída e a cola que o mantinha unido derreteu com o fogo, danificando ainda mais o fóssil.

A instituição espera que o crânio seja quase totalmente reconstituído, mas a extensão dos danos está a ser avaliada. Há fragmentos que ainda passam por um processo de limpeza e estabilização, depois da exposição ao calor intenso.

Nos escombros já foram também encontradas outras partes do fóssil que o Museu Nacional guardava, incluindo um fémur.

Luzia era uma das peças mais importantes do acervo de 20 milhões de itens do Museu Nacional. Descoberto nos anos 1970 em escavações na Lapa Vermelha, uma gruta no município de Pedro Leopoldo, em Belo Horizonte (Minas Gerais), o fóssil chama-se formalmente Lapa Vermelha IV Hominídeo 1, mas ficou conhecido pela alcunha de Luzia, que lhe foi dada pelo biólogo Walter Alves Neves numa alusão à célebre Lucy, o fóssil de Austrolopithecus afarensis com mais de três milhões de anos descoberto na Etiópia em 1974.

Buscas ainda não começaram

As buscas pelo que restou do incêndio ainda estão a começar, já que ainda não está totalmente garantida a segurança da estrutura do Museu Nacional. O trabalho de reforço do edifício danificado ainda está a ser feito por uma empresa contratada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entidade responsável pelo museu localizado no parque municipal Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.

A arqueóloga Claudia Rodrigues-Carvalho afirmou que o mais urgente, neste momento, é a colocação de uma cobertura para proteger os escombros da chuva.

Logo após o incêndio, os ministérios brasileiros da Cultura e da Educação anunciaram a criação de um comité executivo para a recuperação do Museu Nacional, assim como um plano de recuperação com um orçamento total de 15 milhões de reais, cerca de três milhões de euros.

O director do museu, o paleontólogo Alexander Kellner, afirma que a reconstituição dos fragmentos recuperados depende da criação de um novo laboratório, que ainda está a ser negociado.

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