BE quer papel assinado na próxima legislatura: "Gostamos de ter as coisas escritas e claras"

Ao contrário do PS, PCP e até de Marcelo Rebelo de Sousa, Catarina Martins insiste nas virtudes em pôr no papel um futuro acordo, em vez de confiar em "conveniências momentâneas".

Catarina Martins espera que "não haja retrocessos” no sector da energia Público/Renascença

Em entrevista à Renascença e ao PÚBLICO (que pode ouvir nesta quinta-feira, às 12h), a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, afirma que o comentário de António Costa sobre o caso que envolveu o ex-vereador Ricardo Robles "não terá sido o seu momento mais inspirado, mas todos temos momentos menos bons". Uma entrevista em que Catarina Martins diz esperar "que não haja retrocessos" na pasta da Energia, com a saída de Seguro Sanches e a entrada de João Galamba.

Não sente que aumentou a animosidade do PS em relação ao BE?
As questões não são de animosidade. São de relações de forças. Política é isso.

O PS tem admitido que, se não tiver maioria absoluta, não precisa de novos acordos. Rio já mostrou abertura para alguns entendimentos com o PS. O Presidente da República já disse que não exigirá acordos escritos, como fez Cavaco. Ou seja, haverá uma geometria variável. O BE está disponivel para isso, nesses termos?
Agora estamos a negociar este OE. Não temos pressa porque há ainda muito por fazer. Queremos mesmo estar a discutir se há ou não papéis assinados numa próxima legislatura? O caminho vai só a meio.

Foi o próprio Francisco Louçã que há duas semanas na TSF defendeu que o BE devia exigir um acordo escrito e que tornaria as coisas mais claras.
Não é novidade para ninguém que nós, no BE, gostamos de ter as coisas escritas e claras. É óbvio. Fizemos isso em 2015 e no acordo para Lisboa. O compromisso político não é só um problema de oportunidade, de conveniência momentânea. Tem que ter como base compromissos mais vastos, compromissos com o país como o de recuperar as pensões ou baixar o número de alunos por turma ou ter mais manuais gratuitos. Estava escrito e é forte por isso. A clareza é a grande força desta legislatura.

O PCP já disse que dispensa acordos escritos na próxima legislatura. Têm assim entendimentos diferentes.
Fazer agora este debate é um bocadinho abstracto. Os partidos têm que apresentar os seus programas e as pessoas têm que votar no programa em que se reconhecem. A ideia do voto útil ficou bastante destruída com as últimas eleições. Hoje não há dois partidos ou dois e uma muleta a decidir quem é que pode ter soluções do Governo. Todos os partidos têm a responsabilidade de apresentar soluções de Governo. Quando pusemos no papel as nossas propostas, as pessoas passaram a poder confiar. Isso é legitimar a democracia. A democracia é boa quando é clara.

Porque é que não fez questão que os professores fossem uma matéria orçamental? Não facilitaram um bocadinho a tarefa ao Governo? 
O Governo é que fez um bypass ao Orçamento. Vamos ver como vai lidar com isso. Aprovámos um Orçamento no ano passado que dizia que o tempo de serviço tinha que ser contado para todos os funcionários públicos. O descongelamento é que podia ser faseado. O Governo apresentou um decreto-lei sobre professores em que só conta uma parte, não faz o que está no OE. Do nosso ponto de vista, estão a contrariar o que ficou aprovado. O Governo está a tomar uma decisão que não pode fazer. O Presidente da República ainda não promulgou e por isso aguardamos a sua decisão. Se promulgar, faremos uma apreciação parlamentar para o alterar.

Como é que o BE explica ao seu eleitorado que, apesar de o Governo não cumprir o que ficou acordado no OE do ano passado, vai viabilizar este OE? Ou seja, que o Governo enganou os professores. 
Está a perguntar-me se nós devíamos fazer uma moção de censura ao Governo? Achamos que é melhor fazer uma apreciação parlamentar. Já o fizemos no passado com a TSU patronal e conseguimos fazer essa medida andar para trás.

O caso Robles não veio beliscar a capacidade negocial do BE?
Não creio. Foi um erro, que foi assumido. Houve necessidade de trocar o vereador em Lisboa e isso foi feito. Desde que soubemos da situação até à demissão passaram 72 horas.

António Costa disse ter ficado surpreendido com os pecadilhos de Ricardo Robles. Ficou surpreendida com esta declaração?
Não terá sido o seu momento mais inspirado, mas todos temos momentos menos bons.

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