Supremo de Israel reverte deportação de estudante americana

Lara Alqasem esperava o veredicto desde 2 de Outubro detida no aeroporto de Telavive. Era acusada de ser uma ameaça à segurança de Israel por ter apoiado o movimento de boicote BDS.

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RONEN ZVULUN/Reuters

O Supremo Tribunal de Israel reverteu uma decisão judicial anterior de impedir a entrada em Israel da estudante norte-americana Lara Alqasem, de 22 anos, que aterrara no aeroporto de Telavive para estudar na Universidade Hebraica de Jerusalém.

Alqasem, a quem apesar de ter um visto foi recusada a entrada por responsáveis da segurança no aeroporto de Telavive, aguardava detida no local a decisão desde 2 de Outubro. Israel disse que a estudante estava livre para regressar aos EUA, mas Alqasem não tinha dinheiro suficiente para voltar em caso de decisão positiva; assim decidiu esperar, mesmo ficando em detenção. Apenas podia receber visitas dos seus advogados.

E esta quinta-feira, o Supremo deu-lhe razão. Em causa estava um alegado apoio de Alqasem ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções), que promove um boicote generalizado a Israel (de empresas a artistas a académicos). Alqasem (que tem avós palestinianos) teria clicado na opção “ir” num evento ligado ao BDS no Facebook.

No veredicto, o tribunal criticou as autoridades israelitas por negarem entrada a Alqasem, dizendo que a decisão dava a "impressão inevitável" de ter sido motivada pelas opiniões políticas da estudante, cita a agência Reuters. E nesse caso, continuou, isso seria "um passo radical e perigoso que poderia levar ao desmoronamento das bases sobre as quais está construída a democracia de Israel".  

A Universidade Hebraica de Jerusalém teve uma intervenção rara e forte neste caso, participando no processo e apelando a que fosse permitido à estudante entrar no país e argumentando que a proibição de entrada a alguém que já tinha um visto e com uma base tão pouco sólida só daria força ao movimento BDS, desencorajando outros estrangeiros de procurar estudar em Israel.

Israel encara o movimento BDS como uma ameaça existencial e considera que tem cariz antisemita. O país aprovou no ano passado uma lei dizendo que quem apoie publicamente o movimento terá negada a entrada em Israel.

“A decisão do Supremo é uma vitória para a liberdade de expressão, de liberdade académica, e do Estado de Direito”, disseram os advogados de Alqasem. Antes, a estudante tinha prometido que não visitaria a Cisjordânia durante o período de estudo em Israel, e ainda que não apoiaria actividades de BDS.

Israel já recuou antes noutra decisão com base num alegado apoio ao BDS: em Maio, anunciou a retirada do visto de trabalho ao investigador da Human Rights Watch Omar Shakir por este ter apoiado campanhas de BDS (algo que a HRW diz não ser verdade). Depois da indignação generalizada, as autoridades acabaram por deixar cair a questão e Shakir mantém-se em Israel.

Desde a entrada em vigor da lei Israel tem recusado a entrada a vários activistas BDS, alguns deles influentes judeus americanos.

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