Foi você que pediu uma extensão do período de transição do “Brexit”?

Em Londres, os eurocépticos ficaram furiosos com a hiopótese de estender o período de transição após o divórcio.

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Theresa May Toby Melville/Reuters

As declarações da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, sobre uma ideia de prolongar o período de transição após o “Brexit” foram interpretadas de forma muito diferente em Bruxelas e em Londres. Para os europeus, ficou mais ou menos óbvio que apesar de não rejeitar essa hipótese, a líder conservadora não estava interessada em avançar nesse sentido. Mas para os britânicos, a mensagem que passou foi que May estava disposta a manter o país alinhado com a União Europeia muito para além da data do “Brexit”, com custos políticos e financeiros acrescidos. “Inaceitável”, bradaram os eurocépticos.

Como confirmou a primeira-ministra britânica, à chegada ao Conselho Europeu, esta quinta-feira, nas últimas conversas para desbloquear o impasse do “Brexit”, “emergiu a ideia de estender o período de transição como uma possível solução para a questão do ‘backstop’ da Irlanda” — a cláusula de salvaguarda que a UE inscreveu no acordo de saída para garantir a invisibilidade da fronteira entre a República da Irlanda e Irlanda do Norte.

Para o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é “uma boa ideia”, porque dá às duas equipas negociais mais tempo e margem de manobra para negociar a futura parceria económica e política entre os dois blocos. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, estimou que os 27 responderiam “positivamente” se o Reino Unido quisesse recorrer a essa opção.

“Para já apenas existe uma ideia, uma opção de alargar esse prazo por alguns meses. Mas eu não estou aqui para propor uma extensão do período de transição. Até porque acredito que não seria necessária, já que estamos a trabalhar para assegurar que teremos a nossa relação futura enquadrada até Dezembro de 2020“, declarou Theresa May, que provocou nova tempestade política em Londres com a ambiguidade das suas palavras.

Enquanto o porta-voz do movimento eurocéptico, Jacob Rees-Mogg, criticou a “triste tentativa” de May para resolver o imbróglio do “Brexit”, os unionistas da Irlanda do Norte, que garantem a maioria parlamentar do Governo, assinalaram que a extensão do período de transição não resolveria a questão da fronteira e “custaria milhões de libras” ao erário público.

Logo no início das negociações do “Brexit”, o Governo de Londres pediu à União Europeia que aceitasse o estabelecimento de um período de transição (ou de implementação, como chama Theresa May) após a saída do Reino Unido, como garantia de estabilidade para os agentes económicos enquanto os dois blocos acertam o quadro da sua relação futura. Durante esse período, que foi fixado em 21 meses, ou seja, até ao fim do actual quadro financeiro plurianual, o Reino Unido continua a respeitar todo o “acervo” comunitário em termos de quadro legal e regulatório. Não tem poder de decisão, mas mantém-se como um membro do mercado único europeu.

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