Grandes incêndios a norte aumentam risco para a Galiza

Os 11 municípios portugueses na euro-região Norte de Portugal-Galiza estão praticamente todos identificados como territórios com susceptibilidade “muito alta” a incêndios.

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Mario Lopes Pereira

A maioria dos municípios do Norte que faz fronteira com a Galiza, registou entre 2010 e 2017 um crescimento significativo do número de incêndios, aumentando o risco de transposição dos fogos entre os territórios, revelou o Eixo Atlântico.

Segundo o relatório Cooperação Transfronteiriça na prevenção e extinção de incêndios florestais no Eixo Atlântico, apresentado nesta quarta-feira em Vigo pelo Eixo Atlântico, nos distritos de Braga, Bragança e Viana do Castelo o aumento do número de incêndios é ainda mais significativo “no caso dos grandes incêndios florestais (GIF) que alcançaram mais de 1000 hectares”.

No distrito de Braga, 3,7% dos grandes incêndios corresponderam a 83% da área ardida, em Bragança 2,1% a 56% de área ardida e em Vila Real 1,3% a 64% de área ardida.

Já em Viana do Castelo, onde se regista a maior área ardida média por incêndio, 1,5% dos grandes incêndios foram responsáveis por 77% da área ardida.

“Verifica-se, assim, um aumento muito significativo das áreas afectadas e do número de incêndios que originam grandes incêndios florestais em praticamente todos os municípios transfronteiriços (excepto Montalegre e Chaves) do Norte de Portugal com a Galiza no período mais recente, o que aumenta de forma muito considerável as possibilidades de transposição do território nacional pelos incêndios”, lê-se no documento.

Os 11 municípios portugueses na euro-região Norte de Portugal-Galiza estão, aliás, praticamente todos identificados como territórios com susceptibilidade “muito alta” e de prioridade de intervenção máxima nos mapas de risco de incêndio rural em Portugal continental, e das prioridades de intervenção para 2018, excepção feita aos territórios de Viana do Castelo, “em que apenas constam destas classificações áreas do município de Melgaço na sua fronteira este”.

“É de destacar o elevado número médio anual de incêndios registados [1418 entre 2002 e 2017] só nos 11 municípios considerados (cerca de 30 por município por ano)”, afirma-se.

Segundo o documento elaborado pelo Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular, organismo que agrega 38 municípios portugueses e galegos, entre 2002 e 2017, também no que diz respeito à área afectada pelos grandes incêndios, registou-se um aumento em todos os distritos com a excepção do de Vila Real, em particular nos municípios de Chaves e Montalegre.

Este aumento quintuplicou no distrito de Braga (município de Terras de Bouro), cujo peso relativo da área afectada pelos grandes incêndios no total da área ardida atingiu, no período entre 2010 e 2017, os 83%.

“A principal causa registada foi a negligência, com 47% dos incêndios registados, de entre os quais o uso do fogo para queimadas de origem agro-florestal representa cerca de 85% dos casos. Este uso representa o principal factor sobre o qual deverão incidir muitas das medidas a implementar à escala do território”, defende o relatório.

O crescimento do número de grandes incêndios nos municípios portugueses que fazem fronteira com a Galiza, contrasta com a “tendência descendente, que se manifesta de forma evidente a partir do ano de 2006, situando-se entre os 2500 e os 3000 incêndios anuais (excepto no ano de 2011 em que se voltou a exceder os 6000 incêndios)”.

Entre 2006 e 2017, os 43.815 incêndios ocorridos afectaram mais de 310.106,48 hectares.

Segundo o relatório, “a área transfronteiriça tem vindo a sofrer o aparecimento de grandes desequilíbrios territoriais entre espaços rurais e urbanos. Os espaços rurais são cada vez mais afectados por um notável declínio demográfico, associado a uma taxa crescente de população com idades superiores a 65 anos, um declínio semelhante das taxas de natalidade e uma profunda crise do sector primário, o que aumenta os efeitos do despovoamento”.

Os incêndios florestais, lê-se no documento, não constituem, por isso, “um problema passageiro, que se desvanecerá por si só a curto prazo, sendo antes uma condicionante permanente da política florestal e da gestão do território”, pelo que “não pode ser combatido com medidas conjunturais nem com o simples aperfeiçoamento e aumento dos meios de extinção, exigindo um conjunto de políticas coordenadas que procurem adiantar-se, na medida do possível, ao problema”.

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