Paredes decoradas na sala de aula podem perturbar aprendizagem

Investigadores da Universidade de Aveiro, responsáveis pelo estudo, avisam que ainda é cedo para fazer recomendações sobre os ambientes que mais prejudicam ou propiciam a aprendizagem.

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Adriano Miranda

As decorações nas paredes das salas de aula podem ter impacto na atenção e memória das crianças e, consequentemente, na sua aprendizagem. A conclusão é de dois investigadores da Universidade de Aveiro (UA) que fizeram uma experiência com 64 crianças, entre os oito e os 12 anos, em várias escolas do concelho.

Durante o estudo, cada criança teve de responder a um conjunto de quatro tarefas relacionadas com as actividades que praticam no seu dia-a-dia, incluindo na escola. Depois, com base nesses resultados, os investigadores avaliaram os processos cognitivos como a atenção e a memória. Cada criança participou em duas sessões experimentais.

Numa das sessões, os alunos eram expostos a um ambiente com uma elevada carga visual — 24 imagens coladas num painel à sua frente. Na outra, não existiam estímulos visuais — o painel estava em branco. Resultado: o desempenho cognitivo das crianças foi significativamente melhor quando as tarefas foram realizadas no ambiente de baixa carga visual.

“As crianças tiveram melhor performance nas duas tarefas de memória e mais respostas correctas nas duas tarefas de atenção quando estavam expostas à plataforma livre de elementos distractivos do que quando esta continha as imagens”, dizem os investigadores em comunicado.

A investigação intitulada “Quando a estimulação visual do ambiente circundante afecta a performance cognitiva dos estudantes” (“When visual stimulation of the surrounding environment affects children’s cognitive performance”, em inglês) integra o projecto de doutoramento de Pedro Rodrigues, especialista em psicologia experimental cognitiva da UA, orientado por Josefa Pandeirada.

Este trabalho é um de quatro estudos. O mesmo exercício foi realizado tendo como objecto de análise adolescentes, adultos e idosos (as conclusões para estes grupos ainda não estão disponíveis).

Os resultados são razão para dizer que as paredes despidas de imagens são melhores? Por enquanto ainda não. “Há ainda muito trabalho a fazer até chegarmos ao ponto de podermos fazer recomendações devidamente fundamentadas sobre quais as condições ambientais que propiciam uma aprendizagem mais eficaz por parte das crianças, mas este é seguramente um primeiro passo muito importante”, dizem os investigadores.

Além disso, “os elementos visuais apresentados no ambiente de alta carga visual foram de natureza diversa e não exclusivamente sobre conteúdos escolares, como é mais típico na sala de aula”.

Ao PÚBLICO, Pedro Rodrigues, explica que este trabalho lança o mote para análises futuras. O próximo passo será manipular salas de aula e outros ambientes e confirmar se os elementos prejudicam ou não a atenção e a memória das crianças. “Um outro estudo futuro poderá analisar ambientes com vários graus de manipulação ambiental.”

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