Circulação ferroviária suspensa em duas ligações à Figueira da Foz

Ligações cortadas, casas sem energia, um concelho em estado de emergência. São alguns dos estragos que o furacão Leslie fez.

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Figueira da Foz foi um dos concelhos mais afectados pelo temporal PAULO NOVAIS/LUSA

A circulação ferroviária entre o Ramal de Alfarelos e a Figueira da Foz e o troço Louriçal — Figueira da Foz, na linha do Oeste, está suspensa devido a falha no fornecimento de energia, segundo informou nesta segunda-feira a Infraestruturas de Portugal (IP).

A empresa explicou à Lusa que a maioria das situações já foi resolvida, mas na segunda-feira de manhã ainda persistiam algumas suspensões de circulação no distrito de Coimbra devido à falha de energia por parte da EDP.

"Também devido às fortes rajadas de vento registaram-se danos em algumas estações e apeadeiros, como é o caso da estação de Alfarelos e no edifício da Bifurcação de Lares localizado no Ramal de Alfarelos", indica a IP.

A IP refere também que na sequência das "condições meteorológicas extremamente adversas" do fim-de-semana, foram registadas ocorrências de danos na infra-estrutura rodoviária, o que obrigou à interrupção da circulação total ou parcial em vários troços da rede ferroviária nacional.

"Estes incidentes foram registados maioritariamente nos troços localizados nos distritos da zona centro do país, Coimbra e Leiria", é referido.

Durante o fim-de-semana a circulação ferroviária esteve interrompida na Linha do Norte, entre Pombal e Pampilhosa, na Linha da Beira Alta, entre Pampilhosa e Contenças, no Ramal da Lousã, entre as estações de Coimbra e Coimbra B, no Ramal de Alfarelos, troço entre Alfarelos e Figueira da Foz e na Linha do Oeste entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz.

Na origem dos problemas estiveram a queda de árvores e ramos, ou outros objectos de maior dimensão, que provocaram a ocupação da via e danos ao nível da catenária.

Polémica na Figueira da Foz

Na sequência das operações de socorro durante a noite de sábado para domingo, na Figueira da Foz, o antigo responsável da Protecção Civil local, Lídio Lopes, acusou o coordenador operacional municipal, Nuno Osório, de abandonar o posto durante a tempestade LeslieE pediu a sua "demissão imediata".

Em declarações à agência Lusa, Lídio Lopes, que também é presidente dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz, pediu a saída de Nuno Osório, acusando-o de "abandonar a coordenação das operações de socorro em plena crise" da tempestade Leslie na madrugada de domingo "com a população a requisitar a maior ajuda" dos agentes de Protecção Civil e "sem comunicar esse abandono, sequer, a quem o iria substituir no comando operacional dos bombeiros".

Por outro lado, Lídio Lopes, que antecedeu a Nuno Osório na coordenação da Protecção Civil municipal, apontou ao também comandante dos Bombeiros Municipais a "leviandade de não ter accionado os mecanismos, sob a sua competência e à sua disposição, de prevenção e intervenção em situações de crise e de planeamento, acautelando a intervenção coordenada de todas as entidades que integram o sistema de Protecção Civil" durante a passagem da tempestade Leslie.

Já Carlos Luís Tavares, comandante operacional distrital [CODIS] de Coimbra, que nessa noite enviou para a Figueira da Foz meios de reforço de Aveiro e da Força Especial de Bombeiros, disse desconhecer que Nuno Osório tenha abandonado as funções. "Se o fez, devia ter dado conhecimento e não deu", frisou Carlos Luís Tavares.

Aos jornalistas, Nuno Osório, admitiu que "não às três da manhã [de domingo] mas mais tarde, em pleno declínio das necessidades de resposta às ocorrências", cerca das 5h, entendeu "ir descansar" para estar de regresso à coordenação a partir das 8h30, o que aconteceu, disse. O trabalho expectável ao longo do dia "exigia que estivesse minimamente em condições para dar resposta", argumentou.

Nuno Osório diz ter passado o comando dos Bombeiros Municipais ao segundo comandante da corporação, Jorge Piedade, e a parte da coordenação da Protecção Civil municipal "aos técnicos superiores" daquela entidade.

Enquanto coordenador operacional municipal, Nuno Osório coordena todas as entidades de Protecção Civil concelhias — corporações de bombeiros, Cruz Vermelha Portuguesa, forças policiais ou funcionários de obras municipais e higiene e limpeza, entre outras.

Já enquanto comandante dos Bombeiros Municipais, numa situação de emergência, também assume as funções de COS, com o comando operacional dos bombeiros presentes — no caso da tempestade Leslie, na Figueira da Foz, a corporação de Voluntários, o reforço de Aveiro e os operacionais da Força Especial de Bombeiros.

Ao ausentar-se, essas funções deveriam passar para o bombeiro mais graduado no município, o que, na prática, é o outro comandante concelhio, o dos Bombeiros Voluntários (BVFF), João Moreira.

Este garantiu à Lusa que não teve "comunicação ou aviso prévio" da ausência de Nuno Osório e que não assumiu, por isso, as funções de COS, ficando a Figueira da Foz "oficialmente sem comandante de operações de socorro" durante várias horas, até ao início da manhã de domingo.

João Moreira adiantou, por outro lado, que só soube da ausência do comandante dos Bombeiros Municipais através de uma chamada "via rádio, porque não havia comunicações [telefónicas]" do segundo comandante Jorge Piedade, "por volta das 2h30", duas horas e meia antes da hora a que Nuno Osório garante ter ido descansar.

"Perguntou-me onde é que punha os meios [do reforço de Aveiro e da Força Especial de Bombeiros] e eu questionei o porquê da pergunta", frisou João Moreira, já que essa competência estava atribuída pelo CODIS a Nuno Osório, explicou. "Perguntei e [Jorge Piedade] disse-me que ele [Nuno Osório] já não estava", frisou João Moreira.

Instado a esclarecer o caso, Nuno Osório disse desconhecer o contacto entre o seu segundo comandante e João Moreira para que este último decidisse o posicionamento dos meios de reforço, numa altura em que o comandante dos Bombeiros Municipais ainda estaria em funções.

Já sobre quem assume as funções de comandante das operações de socorro na Figueira da Foz, no caso de um eventual impedimento seu, Nuno Osório não respondeu: "Isso está bem definido no sistema de gestão de operações, é só ler a legislação, isso é do âmbito operacional, está claramente definido entre nós", alegou.

Destruição na Mealhada e em Montemor

Entretanto, a Câmara Municipal da Mealhada, no distrito de Aveiro, accionou na noite de domingo o Plano Municipal de EmergênciaA decisão, anunciada nesta segunda-feira pela autarquia, prendeu-se com as "graves ocorrências registadas, anteontem [sábado] e ontem [domingo], com a passagem da tempestade Leslie pelo concelho", refere nota enviada à agência Lusa.

O município e a Protecção Civil Municipal alertam também "a população para a necessidade de redobrar os cuidados de segurança, nomeadamente evitar aproximações a árvores e a zonas potencialmente propícias a derrocadas".

"Todo o cuidado é pouco. Preste máxima atenção e alerte as pessoas à sua volta para os perigos", diz também a Câmara.

Já a autarquia de Montemor-o-Velho, aconselhou nesta segunda-feira a população a reportar os danos registados na sequência da passagem do furacão Leslie nas juntas de freguesias da área de residência ou na Câmara Municipal.

"Pede-se à população que tenha sofrido danos com a passagem do furacão Leslie que comunique, com urgência, na Junta de Freguesia da área de residência ou na Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, uma relação dos danos sofridos em habitações (de primeira residência), indústrias, comércios, serviços e no sector agrícola", refere a câmara.

Esta "relação dos prejuízos deverá conter a identificação, localização e uma breve descrição dos danos causados pelo furacão, um registo fotográfico (em suporte digital) e uma estimativa de custos."

Os elementos devem ser comunicados ainda esta segunda-feira para a que o município os possa reportar à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e ao Governo para avaliação.

Mais de oito mil operacionais no terreno

A passagem do furacão Leslie por Portugal, no sábado e domingo, onde chegou como tempestade tropical, provocou 28 feridos ligeiros e 61 desalojados. A Protecção Civil mobilizou 8217 operacionais, que tiverem de responder a 2495 ocorrências, sobretudo queda de árvores e de estruturas e deslizamento de terras.

O distrito mais afectado pelo Leslie foi o de Coimbra, onde a tempestade, com um "percurso muito errático", se fez sentir com maior intensidade, segundo a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC). Na Figueira da Foz, uma rajada de vento atingiu os cerca de 176 quilómetros por hora no sábado à noite, valor mais elevado registado em Portugal, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

No domingo à noite, a Altice Portugal revelou que cerca de 50 mil clientes da rede fixa estavam com serviços afectados, na sequência da tempestade.

Já a EDP Distribuição declarou no domingo o Estado de Emergência para o distrito de Coimbra, o mais grave previsto no seu plano de actuação, e admitiu recorrer a meios internacionais para reparar os danos causados pela tempestade tropical Leslie. Mais de 100 mil consumidores estavam sem energia eléctrica na tarde de domingo.

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