Era uma vez… o Espaço

A aventura espacial de Alexey Ovchinin e Nick Hague, apesar de célere, fica para a História pela façanha de sobrevivência. Mas não só. Numa Terra devorada por tantas guerras, é de louvar saber que lá em cima um russo e um americano dão os braços como iguais.

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Reuters/SHAMIL ZHUMATOV

Na semana passada, uma avaria no foguetão russo Soyuz podia ter acabado da pior forma, 119 segundos após a descolagem. Friso os 119 segundos porque nestes momentos todos os segundos contam. E quando todos os segundos contam, é difícil imaginar o pânico de quem assiste em terra e dentro da cápsula espacial à incerteza do destino à velocidade da luz. 

É igualmente difícil não relembrar o Challenger em Janeiro de 1986 e a morte fulminante dos seus sete tripulantes quando o hidrogénio a arder sob pressão se libertou, para sempre, dos tanques de combustível. Nestas situações vale o treino intenso, preciso, cronométrico, de quem tem de estar preparado para todos os cenários, de quem tem de estar preparado para tudo na vida, e para a morte. 

Sem hesitar, os dois astronautas a bordo, Alexey Ovchinin e Nick Hague, ejectaram a cápsula do foguetão feito míssil, reclamando as suas vidas de volta à Terra, não obstante os corpos tão acelerados como comprimidos por forças equivalentes a não menos de 300 quilos em cima de cada um. Meia hora depois, a cápsula espacial aterrou a 400 quilómetros do local de lançamento, trazendo os dois astronautas sãos e salvos de volta a casa. 

Dediquem, no entanto, dois minutos do vosso tempo a observar a pequena cápsula onde estes dois homens, e antes e depois deles tantos homens e mulheres, se lançam à conquista espacial. Pouco maior que um pequeno barco, ou do tamanho de um antigo submarino, não é assim tão diferente das pequenas caravelas dentro das quais os portugueses desbravaram os mares e o mundo, dando mais mundos ao mundo. Não deixa de ser incrível como, cinco séculos passados, testemunhamos a mesma fragilidade, mas também a mesma coragem de quem, hoje, acrescenta mais mundos aos nossos mundos.

A aventura espacial de Alexey Ovchinin e Nick Hague, apesar de célere, fica para a História pela façanha de sobrevivência. Mas não só. Numa Terra devorada por tantas guerras, todas fratricidas, suicidas, é de louvar saber que lá em cima um russo e um americano, e tantas outras nacionalidades, dão os braços como iguais, homens e mulheres que dedicam as suas vidas não só à conquista do espaço, mas à nossa sobrevivência. E isto, meus amigos, é o que me faz manter a esperança na espécie humana, porque lá em cima, não no céu, mas por cima, somos mesmo todos iguais.

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