Um ano depois da reabertura, o mercado da Afurada está vivo, mas gelado

Lojistas, que de uma forma geral estão satisfeitos como novo mercado, queixam-se da configuração do edifício, que dá origem a correntes de ar que o tornam frio. Autarquia diz estar a trabalhar numa solução.

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André Rodrigues
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Há pouco mais de um ano, em Julho de 2017, uma promessa antiga materializou-se. Os lojistas do mercado da Afurada, à espera de novas instalações há vários anos, puderam ocupar o novo edifício. Diz quem lá trabalha todos os dias que o balanço deste primeiro ano, de uma forma geral, é positivo. Porém, há arestas a limar. Virado para o Douro, de frente para os lavadouros desta freguesia piscatória de Gaia, estando os corredores do edifício aberto orientados para uma zona de entrada de vento, há um problema maior que é queixa comum entre os lojistas — o espaço é frio e propício a correntes de ar que dizem prejudicar o bem-estar de quem lá trabalha e, temem, poderá afastar clientes. A autarquia diz conhecer a situação e estar a trabalhar numa solução.

Nascida e criada em São Pedro da Afurada, com 51 anos, Maria Silva encontrou no mercado renovado o espaço de abrigo que procurava há vários anos. Apesar de ter passado pelo antigo, durante quase toda a vida vendeu peixe na rua. Neste espaço encontrou outras condições que não tinha anteriormente, como o acesso a bancas e torneiras. “Aqui tenho condições de higiene que não tinha na rua”, diz.

Foi pelas artérias do Porto que espalhou pregões de garantia de venda de peixe fresco desde os 10 anos. Começou com a avó a vender na Ribeira o peixe que o pai pescava: tainhas, solhas, enguias e o que mais fosse parar às redes lançadas à água. Como grande parte dos que vivem na Afurada descende de uma família de pescadores.

O frio é um problema

Atravessava o rio para o Porto de lancha. Na mesma embarcação vinha a professora que lhe dava aulas no ensino primário, a mesma que não a passou, porque não fazia os trabalhos de casa. “Não tinha tempo para os fazer”, explica. Desde então e até hoje, exerceu a profissão da avó e da mãe, que cedo deixou de vender peixe. Nessa altura, no tempo que sobrava trabalhava como “mulher-a-dias”. Mais tarde passou a montar banca improvisada nas traseiras onde está o mercado. Desde Julho do ano passado passou a vender no espaço renovado.

Em cerca de 40 anos de actividade feita ao ar livre diz raramente ter ficado doente. “Andei ao sol e à chuva e nada me pegava”, recorda. A mudança para o novo espaço pôs termo a essa imunidade às intempéries. “Ainda há duas semanas nem conseguia falar. Andamos sempre todos doentes neste mercado”, queixa-se.

A causa para isso, segundo Maria Silva, é clara: “O vento entra pelos corredores e forma correntes de ar.” Conversamos num desses corredores, junta à sua banca. Num dia soalheiro, comprovamos o que diz. De facto, dificilmente se consegue ignorar o vento. “Nem no Verão escapamos do vento e do frio”, sublinha.

Com 73 anos, Fátima Ferreirinha, vendedora de peixe fresco, queixa-se exactamente do mesmo. De resto, todos os lojistas referem esse problema.  O mercado está dividido por vários blocos onde estão montadas as bancas. Os corredores abertos para a rua estão orientados precisamente para a direcção do vento. “Bastava terem construído o edifício com os corredores virados para as laterais”, afirma. Diz temer que o “mal-estar” que se faz sentir possa afastar clientes. O pedido para resolução do problema já foi para a câmara.

Verão com vendas positivo

À parte esse contratempo, Alzira Ribeiro, 42 anos, dali de perto, do Vilar do Paraíso, diz estar satisfeita com o novo mercado. Vende fruta na banca da sogra, que há 46 anos começou a vender no “velho”, onde há duas décadas se juntou a ela. Também passou pelo provisório montado num local próximo do actual, “durante cerca de dez anos”. “A Afurada é uma zona de grande afluência de turistas neste momento. No provisório estávamos mais escondidos, agora estamos muito mais expostos”, afirma, sublinhando que este Verão foi “muito positivo” a nível de vendas.

António Leite e Ilda Rita são casados e todas as semanas vão do Candal até à Afurada, sobretudo, para comprar peixe. Agrada-lhes este novo edifício. “No provisório parecia estar a entrar num cubículo”, diz António Leite. No mesmo espaço funcionam pelo menos dois restaurantes.

O edifício é composto por 20 lojas, separadas por vários corredores. No dia em que por lá passámos nem todas estavam abertas. Explica-nos a Câmara de Vila Nova de Gaia (CMVNG) que alguns dos espaços comerciais não funcionam todos os dias. Por ocupar está apenas um.

Autarquia trabalha solução

Inaugurado no ano passado, após vários anos de obras paradas, custou à autarquia pouco mais de 1 milhão de euros. Este valor incluiu a indemnização à empresa de construção Britaltar, que não terminou a obra por ter entrado em processo de insolvência. Ainda assim, a empresa reclamou a verba gasta na empreitada. O valor da indemnização inicialmente estipulado em 1,8 milhões de euros, após negociações, baixou para 940 mil euros. A este montante soma-se um investimento por parte da câmara de 150 mil euros para a área de venda de peixe e frescos.

Contactada pelo PÚBLICO, a autarquia afirma conhecer os problemas referidos pelos lojistas. “Foi preocupação maior da requalificação contemplar espaços de venda condignos paras as peixeiras da freguesia e das freguesias contíguas”, afirma.

Cumprido este objectivo, adianta estar a trabalhar numa solução para os problemas. “As dificuldades sentidas por todos, nomeadamente o frio e o vento, resultam da arquitectura do mercado, tendo os serviços camarários já feito um levantamento das melhorias a efectuar.”

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