A ocupação dá sentido à nossa vida

Quantas vezes já ouvimos alguém dizer que manter a cabeça ocupada faz uma pessoa sentir-se melhor. Na sabedoria popular, esta é a expressão da importância que as ocupações têm na nossa qualidade de vida.

Quando nos apresentamos a alguém, habitualmente, depois de dizer o nosso nome dizemos o que fazemos, quais as nossas ocupações. Isto acontece porque as ocupações dão sentido ao nosso dia-a-dia e à nossa vida, definindo-nos, uma vez que estão intrinsecamente ligadas aos diferentes papéis sociais que assumimos.

Importa perceber que as ocupações são atividades que queremos ou temos de realizar ao longo do nosso dia. Incluem atividades da vida diária como a higiene, alimentação e gestão doméstica, o brincar, no caso das crianças, as atividades produtivas, como o trabalho ou o estudo, e atividades de lazer. É a necessidade ou vontade de realizar esta variedade de atividades que nos faz levantar todos os dias e que define como estes irão decorrer. Ainda que algumas destas ocupações pareçam desprovidas de significado, são parte essencial dos nossos papéis sociais como por exemplo pai, marido, trabalhador ou estudante.

Será eventualmente mais fácil compreender a importância que as ocupações têm na nossa vida se a imaginarmos sem elas. Esta é a situação de algumas pessoas desempregadas ou doentes que sofrem por não terem uma ocupação que as preencha e faça sentir úteis ou até independentes. Quantas vezes já ouvimos alguém dizer que manter a cabeça ocupada faz uma pessoa sentir-se melhor. Na sabedoria popular, esta é a expressão da importância que as ocupações têm na nossa qualidade de vida.

O foco do terapeuta ocupacional é a pessoa enquanto ser ocupacional, com o seu perfil e características, intervindo também nas suas ocupações e contextos (social e físico).

O trabalho do terapeuta é ajudar cada indivíduo a envolver-se nas ocupações que para si são significativas. Faz isso através de diferentes abordagens como a intervenção direta para promover competências (motoras, sensoriais, cognitivas, sociais, entre outras) do destinatário da sua intervenção. Também implementa intervenção indireta de capacitação das pessoas que com ele interagem para a prestação dos cuidados adequados, implementação de estratégias promotoras de competências ou facilitadoras do envolvimento nas ocupações. A abordagem indireta também inclui a adaptação das tarefas do indivíduo, adaptação do ambiente ou utilização de produtos de apoio.

Esta profissão holística tem as suas raízes no século XIX, no tratamento moral, cujos valores humanistas e convicções clínicas davam indicações da importância das ocupações na vida dos indivíduos e do seu valor terapêutico na reabilitação de pessoas. A terapia ocupacional tem também na sua génese o Movimento de Artes e Ofícios, criado durante a revolução industrial para atenuar o impacto negativo das muitas alterações sociais.

No início do século XX, as necessidades geradas pela Primeira Guerra Mundial levaram à evolução da medicina, de profissões como a enfermagem e a criação de outras, na altura chamadas “de reconstrução”, como a fisioterapia e a terapia ocupacional. Em 1917, os conhecimentos e práticas de reabilitação através da ocupação foram aglutinados e instituiu-se formalmente, nos Estados Unidos da América, a terapia ocupacional.

Em Portugal, após a implementação da terapia ocupacional nos anos 1950, esta profissão teve um grande impulso em diferentes áreas, como na saúde mental, na capacitação de crianças com deficiência e reabilitação, nomeadamente profissional, de soldados feridos em África.

Atualmente, a terapia ocupacional trabalha com uma grande diversidade de pessoas, como crianças com perturbações do desenvolvimento, como a Perturbação do Espectro do Autismo, adultos com problemas de saúde mental, com sequelas de doenças adquiridas como o acidente vascular cerebral ou de acidentes como as lesões vértebro-medulares, e/ou doenças associadas ao envelhecimento. Esta intervenção desenvolve-se em contextos clínicos, mas também nos contextos de vidas de cada pessoa, seja na reabilitação baseada na comunidade, na intervenção precoce na infância, na educação inclusiva ou nos cuidados continuados. O terapeuta ocupacional enquadra-se em equipas multidisciplinares que cada vez mais valorizam a importância da ocupação e da funcionalidade na qualidade de vida das pessoas.

No mês em que se celebra o seu dia mundial (27 de outubro) e 101 anos depois da instituição da terapia ocupacional, convido o leitor a fazer o exercício de refletir sobre a importância que as ocupações têm na sua vida. Que ocupações dão sentido à sua vida?

O autor segue o novo acordo ortográfico

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